ECOS

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Chittorgarh-India

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

354> EXPURGO


Dando voltas nas candeias do passado
Um Incansável buscando tuas sementes
Anjo ou demônio da própria existência
Ruas ainda não perigosas
Ruas ainda desertas

Esta noite os astros não estavam no lugar
Esta noite de súbito Peter Pan cresceu
Tudo Deus destruiu ou tornou-se cinza
Menos o teu vermelho aberto
Menos o teu destino incerto

Agora meus pés não tocam a terra
Trajando a ultima veste da revelação
Meus olhos não veem os expatriados
Nus em suas próprias vãs emoções
E caindo para cima assim se vão


Recife,29 de Dezembro de 2011

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

353> LUZ DA QUARTA ESQUINA


Remando o sutil vapor etéreo da manhã
De joelhos rezando para todos os santos
Uma gota de orvalho escorrega e despenca
Ao tocar o chão vibram os quatro cantos
Severo legionário a tudo observa
Sereno solitário a nada teme

Tudo passa, mas nem tudo por aqui
Descrentes secos de dentro para fora
Acreditam que acreditam
Mas a fé só chega ate a boca
Como cegos guiando cegos
Precipitam-se nos seus vazios

Vi uma vela em uma esquina
Onde todos se riam
Mas aquela era a única luz da rua
Mas aquela era a única rua nua
Pura e além de sua pureza
Só carne crua

No auge dos meus agudos delírios
Bandeiras ao sabor do vento
Cobertas com a poeira do nosso tempo
Relíquias preservadas
No úmido deserto do saber
Revolução que se enche de desígnios

Chega da forma que nada forma
Quem tem sete espadas sabe usa-las
Chamado que não pode ser ignorado
Como um raio as portas se abrem
Passos que não podem ser ouvidos
Pois o destino é um corte de lâmina fria

Recife,21 de Dezembro de 2011
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quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

352> A SERENA QUEDA DE GANGA


As estrelas de uma veste lunar
Purgando os lados grosseiros
Preparando a inevitável partida
Enchendo-se de doces mentiras
A tempestade chega pela manhã

De quem é aquela sombra constante?
Quem construiu um lar para você?
As paginas do livro da vida avançam
Os ramos da arvore do saber florescem
E assim o invisível se torna tão evidente

Uma chave oculta na pirâmide simbólica
Relicário desnudo em um sonho real
Laços não medidos no sangue das veias
Ganga desce nos cabelos do domador de feras
Pois o caminho para felicidade é a moderação


Recife,15 de Dezembro de 2011

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

351> TERRA IMATERIAL


Quando venho me alimentar da tarde
A luz tremula entre o sol e os galhos
Cortinando minhas memorias vividas
E me perdendo em mim fecho os olhos
Memorias
Aquelas memorias

Nunca soube as razoes da espera solitária
Sempre houve algo estranhamente obvio
O lado mais frio do barco da aurora
Muitos se perderam na nevoa das marés
Dias e noites a sós

As criações tomam forma em minha mente
Bastou os sinos tocarem ao longe
Os cavalos correrem os campos
E o suor de uma manhã de março tocar o solo
Da minha imaterial terra sem fim


Gravatá, 26 de Novembro de 2011

350> UMA CANÇÃO DE NINAR



Repousa no leito de minha vida
Atila não te viu e ainda temos leite
Já ergui as cercas da capitania
O falcão será meus olhos e garras
A noite teu cobertor e lua tua luz

Cresça vendo o ouro do milho
O vermelho do sangue dos teus
O branco dos montes no inverno
O colorido nas roupas no varal
Nos olhos azuis de tua bela mãe

Tudo passou e tudo passa
A criança nem é mais criança
Os cães não latem mais
Minha vida tua vida
Cinzas que o vento soprou


Gravatá,26 de Novembro de 2011

sábado, 26 de novembro de 2011

349> A MAIS BELA


Traga o vazio da taça para derramar
Lembra quando corríamos no ar
Represando as aguas do rio eterno
O sentido de tudo era tão simples
Dias sem estas pesadas muralhas

Quem me conta historias do vento
Quem sopra o pólen nos campos
Perdido na sua própria casa
Desejando o sal das marés
A noite cai toda noite

Desci do céu cheio de luz
Seu desejo me fez lagrimas
E agora te faço esse lótus
Dentre todas, a mais bela
Dentre as belas, a mais toda


Gravatá,26 de Novembro de 2011

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

348> OS CAVALOS DE COLIN


O sol poente no inverno era mais violáceo
As luzes da cidade bem mais desfocadas
O mundo arde em chamas em cada esquina
Desafios escritos na desconfiança da duvida
Maria helena do meu mais puro olhar
Conte-me sorrindo tudo sobre teu altar

Sob um límpido azul Colin cavalgava
Vitalizando o inicio de uma longa jornada
O mais rubro sangue nas veias
Seus cavalos tão felizes em servi-la
Memorias de fé naqueles longos dias
Tremem meu corpo e desfazem minha dor

O oceano serena e o céu se envaidece
Onde os forasteiros se encontram
Aonde ir se todos caminhos estão abertos
Na ribalta do grande palco da vida
Mas um dia todos se foram
As luzes variam, mas nunca se apagam
E um dia todos se encontram
Quando Deus libertar nossas almas


Recife,17 de Novembro de 2011
Dedicado aos inesqueciveis dias de 1988 em Aracaju-Se sobre tudo a
Andrea Carvalho Colin e Maria Helena assim como todas as "luzes"
daqueles saudosos dias...

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

347> POVO DE LÁ


Nuvem que passa cheia de sonhos
Aurora que teima em recomeçar
Fios que nos ligam a nós mesmos
Dia e noite sem fim até o fim

Gigante no ar e gigante na terra
Sempre a girar a roda de prece
A roda da vida
Um mosteiro na mesma avenida

Se um dia fui, pouco me lembro
Que um dia irei tenho certeza
Vinho e velas no solitário mármore
Defina-se cão, fiel ou sanguinário ?

Abram o portão e deem passagem
Pois o lado daqui é escuro
Documentos não conheço no lado de lá
Onde todos se definem no olhar


Recife,16 de Novembro de 2011

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

346> OS SETE CÉUS DA TERRA


Margeando tudo que pensei ser
Os reflexos não tão cristalinos
Protegidos das bestas zunindo
A lã de Ariadne sutil e eficaz
Nos labirintos escuros da vida

Uma casa na colina da estrada
A única referencia luminosa
A pagina perdida do livro
Meus olhos e o vento frio
A neblina encantava meu ser

Contei os sete céus da terra
Todos sem discos voadores
Todos sem o pássaro azul
E na saudade desse abstrato
Viveu meu espirito inquieto

Sonhei e vi, pensei e escrevi
Assim essa infância se foi
Mas só no asfalto do tempo
Pois no reflexo furtivo do olhar
Os sonhos duram para sempre


Recife, 9 de Novembro de 2011

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

345> LUZES NO DIA DE FINADOS


Entre a luz dos postes cantando sozinho
Ouvindo trovoes da chuva que não vem
Mantendo sempre o movimento preciso
Deslizo nas veredas dos que nada tem

Já é tarde no dia dos que se foram
Minha cabeça dói em algum lugar
Eles sabem das minhas habilidades
Eles estão tão cheios de saudades

De longe só se viam velas acesas
Aos pés da santa
De perto todos procuram por alguém
Em qualquer parte

Acorde cedo, pois de longe vim
Não chore porque logo me vou
Tenho pressa de ver o que já sei
Pois nem tudo o tempo apaga.




Recife,2 de Novembro de 2011
Dedicado a todo coração que ja chorou a perda
de alguem e a todos os coraçoes que batem fora
do peito ...

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

344> ÓBULO


Sempre as vozes do passado soprando
Algumas folhas antecipam o outono
Não me importo
Perdi a noção do tempo
Fios ligam o antes e depois
Lagrimas lubrificam os dois mundos
Sob a regência de um único sol

Nas ruelas da escuridão dos que se foram
Perdidos nos labirintos e caminhos
Assim como também me perdi
Ate ver o milho verdejar no jardim
Protegido pelos quatro fieis cães
Mãe, deixe as crianças brincarem
O rio não mais oferece perigo
Pois as cobras não tem peçonha
Quando se tem moedas para Caronte


Recife,26 de Outubro de 2011

domingo, 16 de outubro de 2011

343> PERGAMINHO INSONDÁVEL


Refazendo agora os antigos caminhos
Entre os destroços de antigos sonhos
Caminhando com as sombras moveis
Presentes da luz imponente de um luar
Penso qual a chama acesa nessa distancia
Qual foco ilumina aquelas cruzes
Que som reverbera aquelas vozes

Assim que o cinzel mastigar a pedra
Verei o brilho evidente do mármore
Levantei feliz para receber a visita
No castelo em que outrora fui sufocado
O mesmo pânico na lenta subida
Como sonhei fugir em um cavalo alado

Sereno como o mar na maré vazia
Pronto para as novas tempestades
Deixo minhas obrigações à beira mar
Sigo a noite em seu veludo negro
Ate os que nunca me esqueceram
Ate as respostas que nunca terei
Castelos não plenamente materiais

Na terra das bruxas as batalhas
Sangue que não ofereci em vão
Confundo solidão com estar só
Mas aqueles olhos são inconfundíveis
Um pergaminho escrito em sensações
Oculto na vibração insondável da alma


Recife,16 de Outubro de 2011

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

342> CAVALEIRO DE SANTO ANDRE


Cada curva lentamente sinuosa
Lembranças esperam por mim
Serpenteando perto de Santo André
Cada momento flutuando em ondas
Revivo a criança em meu ser
Sempre nadando sem tocar o fundo

E todas as vindas serão sempre a primeira
Através das frestas do pântano vejo a luz
Saltando aos meus olhos aquele cavalo
Corações gentis e palavras fortes
E eu morreria em nome desta lei
Essas são minhas preces aos teus pés

Eu pensei que viveria no céu
Enquanto vivi na terra
Dois de espadas e dois de paus
Um recado no dia do enforcado
Mentiras seladas por beijos
sempre estranhas para mim


Recife,12 de outubro de 2011

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

341> PASHUPATI


Da madeira ao couro
As correntes de ouro
Azul acima da morte
Ao sabor do invisível

Face ao chão o mundo vibra
O céu trás o rastro de fogo
Realidade rasgada pela carruagem
Aguas sagradas agora pacíficas
Em verdade ate a próxima dança
Pois lobos sempre comem carne
E do gado manso tudo se aproveita
Se ora caço ou ora pasto
É porque sou tão lobo quanto gado


Recife,3 de Outubro de 2011

domingo, 2 de outubro de 2011

340>AO SENHOR DOS CAMINHOS


O que verei quando eu me for só eu sei
O que construí em meu atual passado
Minhas mais intangíveis memorias
Sopradas em vórtices de emoções
Sob o mesmo sol nascente
Sob o mesmo sol poente

Minhas crenças e minhas verdades
Fluidificando os secretos desejos
Percorrendo o leito profundo da alma

Minha fé, minha única fé
Cristalizando as imutáveis leis
Dos que ainda vem e vão

Infinitos horizontes empilhando possibilidades
Outros eus acontecendo ao mesmo tempo
A chave mestra das portas que desconheço
Onde esta o senhor de tantos caminhos
Onde esta o maestro que rege tantos sons
No fim o portão de ferro e os cães vermelhos
Um fim que nunca acaba

Lembro-me da caverna nas dunas astrais
Do planeta das sombras rosáceas
E da solitária e majestosa rosa
Uma luz, um banco, um vilarejo frio
Uma escuridão, a queda, a grande prova
E mil vivas a fonte de onde tudo emerge
Pois nesta vida tive muitas vidas
Como outrora muitas vidas me tiveram

Recife,2 de Outubro de 2011

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

339> DEUSES DE MU


Cores distintas porem inseparáveis
Balançavam na chama de uma vela
Pois além tudo era escuridão
Mas ali outros sentidos imperam
Cárcere dos mais sombrios pensamentos

Liberto nas asas da noite em um sonho
Repleto da vastidão de mim mesmo
De joelhos, consciente e resignado.
Não importa se de dentro ou de fora
O brado fez-se ouvir, ou sentir?
Te dei formas que não definem teu ser
Ouvi teus sentimentos sufocados
Doce é a roupa que te veste
Amarga é a nudez que te vejo

Teus irmãos convulsionam na tua terra
Tua terra afunda nos meus mares
E as espumas unem o ar e a agua
E a lava une o fogo e terra
E tudo que uni eu separei
Só para ensina-los a nadar


Recife,29 de Setembro de 2011

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

338> O RETORNO


O sol não revela a idade dos teus cabelos
O vento faz a poeira dançar tua musica
Os laços coloridos do povo do oriente
Cavalgadas nas fronteiras da fria noite
De onde venho
Para onde vou
Só desertos vazios
Cálidas impressões e fugazes visões

No fim o sol tomba cheio de vontade
Trazendo a lua tão cheia de saudade
Tendas translúcidas como sua veste
E na solidão minha alma se apresenta
E na brisa noturna me vejo diluído
Frações de pensamentos me definem
Onde o tempo não faz mais sentido

Eu sou todos os meus Eus
Assim no futuro pulsarei em mim
Esperando o que todos esperam
Cansados da mascara individualizadora
Navegar o mar em diferentes povos
“Voltem para mim,
Esse é meu desejo”


Recife,15 de Setembro de 2011
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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

337> A CESAR O QUE É DE CESAR


Eis que sem ver vossos olhos
Fui iludido
Eis que posso ouvir gargalhadas
Ainda que veladas

Verifiquei as diversas moradas
Sempre protegido pelo signo
Sem temer a segunda morte
Nos vales dos olhos âmbar

Armas de projeteis agora inúteis
Caminhando na rua dos perdidos
Sem nada para dar ou receber
Só um longo olhar de força

O sol brilhando lembra o eterno
Os seus com lustrosas fardas
E nesta fé a liberdade
E na esperança a vitória

Ao alto o que é do alto
Abaixo o que é de baixo
Essa é a única tratativa
Tudo mais é consequência


Recife,7 de Setembro de 2011

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

336> DE VOLTA AS ESTRELAS


Vapores de mares tão distantes
Sobre as brumosas passarelas
Alinhamento de todos os astros
Luz em um estado inimaginável
Concentrado e condensado ele veio

Alguém disse que os deuses eram astronautas
O que dizer dos que te guardam a toda hora?
Assim quero voltar para minha estrela
Longe do limitados olhos carnais
Perto das lembranças infantis

Sou aquele que sente a partida na chegada
Quando o vento enferruja a carruagem
Quando a lei paralisa todos os excessos
Pois em vida tudo parece um sonho irreal
E na morte todo o sonho se torna real

Como será o pensamento de uma galáxia?
Gozemos o delicioso prazer da individualidade
Enquanto nosso conceito de amor for polar
Pois nas encruzilhadas do infinito não há retorno
Onde todos os universos possíveis se encontram


Recife, 25 de Agosto de 2011

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

335> A GRANDE MESA INICIÁTICA



A pomba alva sorvida das praias astrais
Maadakiten recolhido em um descuido
Suas asas negras inúteis naquele castelo
Toda não observância tem seu preço
Uma mielopatia proliferativa do seu clã
Na verdade bem especifica...

O pai Buriê e as minhas espadas

Dustain, Pedro e Pyros.
A escolha greco-romana do cordeiro
Um outro escolheu o primeiro
Um outro escolheu o terceiro
Trilharam a esquerda
Pensando ser a direita

Agora a luta contra os robôs e dispositivos
Tempestades de areia assolam tudo abaixo
Plasmem nosso transporte ate a vila
De quarto em quarto no andar superior
Um cubículo e uma vela
Mas tudo é relativo

Voava sem as asas entre as ilhotas
Distante da embarcação nas minhas costas
A voz muda disse “a gralha negra”
Tentei e tentei toca-la
Esfumaçou-se em um negro lençol
Histórias da grande mesa iniciatica


Recife,24 de Agosto de 2011

domingo, 14 de agosto de 2011

334> PURGATORIO


Soube que meu filho me observava
Da terra dos que não vieram ainda
Ardendo de vontade de existir
Vivendo na dimensão das intenções

A paciência se valorizando ainda mais
No perigoso limite impreciso da inércia
Assombrada pelo fantasma da solidão
Coexistindo com seus reflexos incompletos

Me abrace novamente antes de partir
Outra noite dessas as estrelas apagaram
Deixando o príncipe ainda mais distante
E tudo que estava acima se entristeceu
Ate o sol tão cheio de Shiva escureceu

Amarrado na arvore que me fez crescer
Deixado para sentir as dores de Prometeu
Cicatrizando a seiva viscosa da ambição
E nos mesmos passos antigos
O mesmo vazio de nós todos

Recife,14 de Agosto de 2011
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sexta-feira, 12 de agosto de 2011

333> SOMBRAS DE AGOSTO


Bastou alguma breve reflexão
Amargura que segue as estações
E tudo vai envelhecendo
E nós vamos envelhecendo

Agosto chega cheio de sombras
Caio e não chego ao chão
Assustei-me quando vi o que criei
Pensamentos e idéias fixas
Um carrossel de formulas falidas

Segunda-feira é dia das almas
Velas para os que se foram
Um dia nos iremos também
Rever aquelas faces da noite
Onde esta você agora?
De-me sua mão,
Vamos

Com uma pedra derrubei o castelo
Para fazer feliz teu inverno
Para congelar teu verão
Meu espírito não dorme mais
Vendo meu corpo adormecido
Como um anjo caído eu digo:
O filho preferido aqui e agora
Pois o ontem foi cheio de desejos
E o passado mora La fora

Recife,11 de Agosto de 2011
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Também postado na Fabrica de Letras

sexta-feira, 29 de julho de 2011

332> ESPAÇOS ENTRE OS ESPAÇOS




O movimento sutil que nos envolve
Levitando espaços entre os espaços
Mas no recanto a nós destinado
O peso ainda determina a amplitude da ação
A cor ainda determina a vibração do raio
Com um balet de roupas secando ao vento

A locomoção era diferente na câmara
Vindo do alto mais rápido
Vindo de baixo mais lento
Para uns era como um mundo de estatuas
Para outros era tudo tão imperceptível
Alguns acima da logica atravessavam tudo
Mas isso ainda era um mistério

A vida é um conjunto harmônico de informações
Condensados em formas geométricas e símbolos
A fim de manifestar o imanifestável dimensional
A fim de dividir o indivisível raio de luz em cores
Dores são sentimentos e estes são divinos
As rochas não as sentem
Então porque as temem?

Nosso tempo como conhecemos logo finda
A realidade como entendemos logo limita
Os sonhos esses sim estão fora das escalas
Aquela nossa voz de dentro vem de fora
Essas imagens de fora vêm de dentro
Pois a beleza é um estado de espirito
E puramente nada mais


Recife,29 de Julho de 2011
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quinta-feira, 28 de julho de 2011

331> KUAN YIN




Lábios que insistem em me beijar em prece
Face luminosa que torna pequeno meu sol
Após o luar banhar o brilho de um sorriso
Dentro da criança que só este fogo aquece
Nu eu venho e nu eu irei o resto é poeira

Trançando rotas para as carruagens douradas
Quantos seios nutrirão nossa carne
Quantas mãos nos carregarão longe do solo
Quantas pernas nos sustentaram
O sopro que anima e a voz que ensina

Se por dentro um deus me atrai
Se por fora correm ondas abençoadas
O pulsar mais uma vez das veias
Rios que correm ao teu encontro
Enchendo de vida toda criação

Se todos se vão só tu permaneces
Onde tudo seca só tu floresce
A sombra benigna atrás da porta
A luz divina na primeira manhã
A onde quer que eu vá


Recife,27 de Julho de 2011
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Primeira postagem que senti a necessidade de trocar o titulo... e dai surgiu o atual Kuan Yin ...

terça-feira, 26 de julho de 2011

330> MINH'ALVA AVE CAÍDA


Flores ou anjos que acordam
Falam-me na linguagem azul
Sopro que não vê janelas
Na alma tudo é claro
Ate as sínicas e falsas risadas

Um olhar, uma pose, um quadro
Então uma vaga imagem é registrada
No meu espaço o tempo passa diferente
Então me fixo vendo a lua cair e subir
Na sua floresta de criações

Mas sábado encontrarás o mundo
Na sala de jantar
No ápice dos prazeres
E na manhã seguinte tão frágil
Caída na estática realidade fria
Vendo seus incompreendidos monstros
Monstruosamente não quererem mais brincar
Justamente por serem tão puros
Eis o teu mistério
E eu sei que não cheguei a tempo
Descalço nos dourados cachos
Incauto em uma blasfêmia

Tua rua cheia de figurantes
Cruzou minha rua vazia
Minha alva ave celeste
Meu sonho de Cruz e Souza
Amazona natural e irradiada
Que nunca tocou o chão

Antes daqueles dias de destruição
Sufocado pelas obscuras ilusões
Momentos confundidos com amigos
Todos guerreiros armados do céu
A ultima luz que verei
A ultima graça

Em você um novo amanhã
Asas negras nunca tocam o céu
Nunca
Gritos secos e censura silenciosa
Não serão desculpas para o que fizemos
Olhe-me nos olhos e não se perturbe
Eu sou sempre você
E tudo flui para sempre

Recife,25 de Julho de 2011
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quinta-feira, 21 de julho de 2011

329> A MENTE QUE NOS CLAMA


Todo amor que voava nos dias de julho
Deixava no mar seus devotos
Onde a areia se enamora da espuma
Loucos uniam-se em uma linha mântrica
O ar entre o grão e a gota
O silencio entre o som das ondas
Eis o meu segredo

No jogo da vitrine me foi dito:
Deixe uma coisa sua realizar a de outrem
Não estranhe o peso da gangorra gigante
E seja direto e sincero com o vigilante

Uma segunda voz feminina agora vibra
Como um sussurro nos ouvidos da alma
Pois minhas divindades são naturais
Como haveriam de ser

Imerso na corrente horizontal de prana
Submerso no espaço tri-partido do céu
Vibrando ecos da mente que nos clama
Estático nas limitações do grande véu
Toda dor do meu lugar na criação
Mas nós só precisamos caminhar
E contemplar os matizes de luz e sombra
Pois eles em si resumem tudo


Recife,21 de Julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

328> O JARDINEIRO


Serenata de sons incompreensíveis
Mais ainda sim era uma musica
Os sentidos sempre limitam a mente
E também existem outros cadeados

Despertei caminhando na relva verde
Longe de tudo que fui um dia
Um longo dia
Meu tempo, minha dedicação e meu amor
Encontraram flores no meu jardim
Delicados presentes a cultivar
Hoje sorrio
Pois antes fui coveiro
Devolvendo o vazio a terra
Pensamentos, ações, pessoas e idéias
Esvaziados pelo evoluir no tempo
Bem antes fui também esse vazio

Escuto bem a natureza
Tenho olhos para a beleza
Apto para a agricultura celeste
Pois na terra hoje só deposito vida
E em troca novamente as flores
A matéria prima de meu castelo
Onde a luz preencherá o nada
Erguendo-me pétala por pétala


Recife,18 de Julho de 2011
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domingo, 17 de julho de 2011

327> VOTO DE MINERVA




Dentre tudo escolho a chuva
Tocando a terra dos solitários
Imantada com meus sonhos
Ligada a uma nobre melancolia
Levando ao presente eus passados
Em cada noite que eu cruzar
No magistério de cada campo santo

Ainda arde a dor em sua alma
Mesmo sonambulo eu posso sentir
E isso sempre foi melhor que saber
E essa sempre foi a melhor oferta
Quase nunca aceita
Pois abaixo da iluminação só há dor
E alguém na sala perto da janela
Em seus escritos não falava em sorte
Na sua vida não se admitia a morte
E ela nem sabe a cor dos meus olhos

Versão mais severa do voto de minerva
Entre tudo que é igual
Ou você não vê?
O ar se dissipa e a agua se acomoda
O travesseiro tem nome e o lençol corpo
Pedaços que se julgam partidos
Ou você não sente?


Recife,16 de Julho de 2011
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Abaixo da iluminação só existe dor... ( Budha )

quarta-feira, 13 de julho de 2011

326> LOBOS, ANJOS E CARNEIROS


O demais é incerto e o talvez é uma certeza
Em um mundo habitado pelas próprias razoes
Assim foi dito e assim o é

Pelo amor de deus, meu povo!
Dizia o auto-falante na rua vazia
As portas e os caminhos fechados
Mas ouçam os que têm ouvidos

Nem sempre estamos felizes
A felicidade é um outro nível
Com suor, sangue e lagrimas
Faz-se por merecer
Merecer

Viver o aqui e agora
Não é ignorar o futuro
Carpe diem tolos
Porque serão ontem

Dentre todas a mais justa
A única guerra santa
Aquela travada contra si
Só assim o lobo viverá entre carneiros
E os anjos viverão entre nós

Recife,13 de Julho de 2011
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terça-feira, 5 de julho de 2011

325> UM TRONO VAZIO EM ARUANDA


Como elevar a voz perante seu silencio rouco
A alma solta capturada em armadilhas de vento
Venha dormir longe das arvores escuras e frias
Passos sentidos pelas minhas noites
Passos não ouvidos

O toque que afastava minhas trevas
Uma jóia milenar no fundo do Nilo
Brilhando para meus olhos brilharem
Vales submersos
Medos emergentes
Algo que não sai da minha cabeça

De joelhos rezando seja ao Olímpio ou a Aruanda
Caído quase sem luz a beira-mar
Tão longe da casa áurea
Seus gemidos, suas lagrimas no alto
Toda agonia imanifesta e sincera
Foram dez anos humanos perdidos
Sonhos distorcidos e cartas não mais enviadas
Entre os mundos
Entre nossos mundos

Eu sei o resto da minha vida
Eu conheço meu destino
Parte do meu destino
Seus cavaleiros negativos e um novo sentido
Uma nova vida não tão nova
Ergo-me pelos anos perdidos
Armas etéreas e minha palavra de fé
Voando com dragões do ar
Tendo com os senhores do fogo
O tempo tem agora um sentido duplo
Onde os círculos se completam

Recife,5 de Julho de 2011

quinta-feira, 30 de junho de 2011

324> DA LOUCURA A MUSICA DIVINA


Em um impulso se originou tanta grandeza
Sons que poderíamos chamar de musica
Musica que poderíamos chamar de divina
Vibração da água nas gotas da chuva
Os sentidos entorpecem e a alma flutua
Baila, baila

Sementes eclodem como a vibrante vida
Codificação do que imaginamos ser
O universo complexo que imaginamos ver
Subindo as escadas
Descendo as escalas
Somente para ser um

Uma voz derramada no largo de estrelas
A visão completamente cega
Infinitas pinturas moveis astrais
Pairando sob toda gravidade
Contando o tempo na escala de um piano
Beirando a loucura de tanto brilho

Por favor, me contem todas as historias
Tudo que minha audição permite ouvir
Digam-me que estarei em todos os lugares
Espalhado e dinamizado em todos os cantos
Permitam-me então existir novamente
Mais e mais vezes




Recife,30 de Junho de 2011

sábado, 18 de junho de 2011

323> O DOM DA VIDA


Uma imagem velha em tons de cinza
Uma folha seca guardada em um livro
Décadas de historias silenciadas
Agora que tudo se transformou
Agora que minha carne envelheceu
Um quarto abrigava um ar tão antigo
Proibido de circular no presente

A vida aconteceu como um sonho
Estrela cadente de minha aurora
Um brilho que encantou quem viu
Mas olhar o firmamento era necessário
Uma coisa simples assim tão complexa
Um violino tocava outro século
A grande valsa dos que foram meus
Assim na terra como nos céus

Linhas que se encontram no horizonte
Assim são nossas vidas
Uma breve primavera
Inexplicavelmente plena
Em ebulição na força dos olhos pueris
Na sabedoria serena e estática do idoso
Esperando o inverno coroar o ciclo
Pois outros esperam para nascer
E correr nas estradas desse campo
Quedas, pedras e espinhos nada são
Pois a dor é um privilegio dos vivos !



Gravatá-PE,18 de junho de 2011
Dedicado a Joel G Costa que soube que a vida é
para rir ou chorar ...

quinta-feira, 16 de junho de 2011

322> CONTOS ASTRAIS


Na cidade do descobrimento o frei se foi
Agora sorri na distante ruína da capela
Em uma colônia so alcançada por teleféricos

Tenso caminhei olhando para o teto
Com aquele alfanje a serpente foi ferida
Bloqueada em seu vermelho vivo

Uma poça de ouro liquido se forma
Um doce rosto cadavérico se apresenta
Tenha cuidado eu ouvi
E um esquelético braço no metal surgiu
Assim amigos se cumprimentam
Nobre saudação entre dimensões

Eis porque acredito no que não vejo com os olhos
Afinal nem todos os fótons impressionam a retina
Pois vejo o que creio
E creio no que vejo

Recife,16 de Junho de 2011
Link imagem (recomendo)

sexta-feira, 3 de junho de 2011

321> HÁLITO DAS ROSAS


Um jeito simples para falar
Um meio sorriso completo
Toda a noite eu sonhava
Todos os dias eu criava

A criação cresceu do se jeito
Uma obra para o universo
Pegadas leves na relva
Campos floridos no inverno
Todos os seres da selva

Hipnotizado por sua sombra
O movimento mais harmônico
Ocaso de toda maldade
Folhas e frutos
Verdes e maduros

Aspirando o hálito das rosas
Me levas ate onde tudo é azul
A voz que nunca ouvi
Dizia-me o que não se diz
As cores do amor
Todas as cores invisíveis

Passos que não tocam o chão
Mãos tão diáfanas
Corpo translúcido
Irradiando meus sonhos
Meus dias, minha vida


Recife,3 de Junho de 2011
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quinta-feira, 2 de junho de 2011

320> UM MILHÃO DE ANOS


De onde não se ouvia os gritos
No solo alem da próxima porta
Viam-se as mentiras serem feitas
Esquecendo daqueles dias
Algo que não pude fazer
Algo que não pude acreditar

As mensagens vinham e vinham
Laços que não podem ser quebrados
Eu juro viver todos esses dias
Que venham as manhãs frias
Adeus as trevas que encarei
O brilho que nunca se apaga
A realidade mais translúcida

Mutações do caráter ancestral
Manipulações genéticas siderais
Estejam preparados para o corte
Vos peregrinos astrais
Em busca da própria identidade

Muito se passou desde o principio
Ate as estrelas moveram-se no céu
Muitos de vos ainda sentem saudades
Implícita na memória celular
O tom ainda é precisamente o mesmo
Uma nova estação varrerá a terra

Hei de um dia ver os verdadeiros
Movendo-se com os seres do ar
Hei de saber do fim de tantos devaneios
Subvertendo os filhos do disco solar
Ninguém mais rirá alem dos nossos olhos
Não mais será distorcida nossa historia

Perdão pela imobilidade
Perdão pela imatura escolha
Fui tão jovem
Só tinha um milhão de anos


Recife,2 de Junho de 2011

quarta-feira, 25 de maio de 2011

319> A VISITA


Quando sinto um abraço eólico
Suave no corpo
Profundo no espírito
O frio percorre meus poros
Vejo teus singulares sinais
Soprando o medo para longe
Por breves segundos
O tempo passa lento
Uma eternidade

Do alto das catedrais via-se a trilha
A deliciosa ansiedade da chegada
Novamente o brilho na aura
Tudo vibra e dança pela vinda
Que se evaporem as falanges de gárgulas
Com suas redes de energia e pesadelos
Todo o passado já foi pago

Quem vem cavalgando os espaços
Quem chegará movendo as cruzes
Visões vindas da infância
Decisões vindas de bem antes
Clareando a sombra do esquecimento

Nunca realmente vi ou ouvi
Tudo foi sempre sentido
Sempre foi tudo inesquecível
Era assim que tinha de ser


Recife,25 de Maio de 2011

terça-feira, 24 de maio de 2011

318> ANFITEATRO DAS VIDAS SECAS


Promessas são sempre escolhas
Antes do sol se por estarás só
Disse o vento para a folha velha
Planando nesses campos mágicos
Acima do solo que te sustentou
Neste breve momento
Vê-se tua sombra
Tua alma
E todos os luminosos verões
E no ocaso do teu sorriso
Serei a ultima testemunha
Do que és e do que foste
Pois sou irmão do tempo

Despertei em meio à ventania
Com a firmeza necessária a vida
Neguei o que tinha que ser negado
Aceitei o que tinha de ser aceito
Não sou o que fui e não serei o que sou
Pois tantos outros se perderam
Condenados no mais implacável tribunal
A consciência era o único jurado
O remorso a incontestável prova

Caminho para fora do anfiteatro
Disseram que saber é diferente de ver
Mas ainda percebo a primeira execução
Em atos e cenas deslocadas
Um palco vazio e silencioso
Sem o grande mestre da chuva
Delicado como as singelas flores
De uma primavera que não verei
Algum brilho dos vitrais
Cruza a bifurcação do caminho
Olho a guilhotina fixamente
Antes de partir para o norte
A memória que não sai do meu mundo
A ultima visão daquele ser
Um cantor solitário
Um poeta sem amigos
Assim como fui um dia


Recife,24 de Maio de 2011
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Também postado na Fabrica de letras

quinta-feira, 19 de maio de 2011

317>ANASTACIA E O PECADO DOS PAIS


Sentia em algumas noites
Às vezes no olhar de um estranho
Lembro da chama das velas
Pequenos postes luminosos nas estradas

O esporádico se tornou freqüente
O que nunca se foi novamente retorna
A tela celeste sintoniza
Uma madrugada de pressões oscilantes
O fogo se faz presente
Nas mesmas palavras
Nas mesmas palavras

Vejo os passos do inevitável
Conselhos sempre presentes
Refletem a ausência de retidão
As belezas do mundo
A morte deste mesmo mundo
Brincando nas esquinas azuis
Coisa para se lembrar
Promessas
Pássaros voando ao longe
Anastácia esperava na chuva
Criaturas da noite sem nada a dizer
Sem esperança

Eu vim na terra por você
Minha criança
Abençoar suas lagrimas
Amparar tua involuntária queda

Vejo tantas outras perdidas
Mistificadas pelo poder da juventude
A carne ainda fresca
Comprando sonhos alheios
Vendendo alimento aos instintos
O terrível preço do abandono
No covil de lobos famintos

Estarei à espera daqueles a quem te confiei
Estáticos no canto dos cantos
A única luz refletida no umbral
Um punhal cravado no inferno
Afinal lei é lei
E vida é vida


Recife, 18 de Maio de 2011
Também postado na Fabrica de Letras

quarta-feira, 18 de maio de 2011

316> A NOITE VESTIDA DE SONHOS


Verde, úmido e desfocado
Passado ou outro lugar
Vozes femininas
Risos

Um registro de impressões
Os ares da infância lúcida
Harpa e amigos invisíveis
Ruas secundarias em vilarejos
Orvalho, nevoa e neblina
Harmonia e alegria
Saudade

Capturas acionadas pelo som
Vibrações, sempre vibrações
O luar vestido de pura seda
Derramada na noite dos sentidos
Estampada de estrelas
Tudo se enche de mágica

Passagens ocultas na areia
Passos se aproximam
Uma nascente de água cristalina
Protege um ninho de luz
Raios atravessam minhas mãos
Um doce assovio sereniza o ar
Alimenta meus sonhos
Em todos atos da minha existência

Recife,17 de Maio de 2011

sexta-feira, 13 de maio de 2011

315> ANO 22011


Um horizonte de linhas imprecisas
Na medida exata de uma falha visão
Um anoitecer silencioso e solitário
Sob um segredo não revelado
Escorpião surge nas alturas
Antares e suas discípulas

Como se pode quantificar o transitório?
Como não se pode amar o aleatório?
Assim se escreve o que não se diz
E se sente o que não se escreve
Um automatismo quase fisiológico

Queria ver o mundo após vinte milênios
Os passos que a evolução seguiu
Todo o silencio da maturidade terrestre
O que sobrou e o que partiu
Das falhas humanas o que restou
E quem no fim ainda sorriu

Um sino anuncia a caravana
Profundo respeito se irradia
Ide e espalhai a semente
Que a terra presenteie com a vida
Como um dia também foi presenteada

Quantas idas e vindas contabilizamos
Nos livros os registros dos tempos bárbaros
Nascer e morrer incontáveis vezes
Ler e reler os registros eternos
Algumas coisas permanecem as mesmas
Os vedas continuam na mesa

Metano agora reage com os ultravioletas
Cúpulas gigantes se erguem no horizonte
Não ousei ver como são nossos descendentes
Não acreditei em tudo que me veio à mente
Holocausto de um presente que virou passado
Renascer da força vital que nos condensa
Em que corpo e em que forma
Um mero detalhe da artista natureza

Recife,15 de Maio de 2011

domingo, 8 de maio de 2011

314> LAGRIMAS NA CHUVA


No fim de uma bela e triste passagem
Palavras confusas e lábios que silenciam
A luz era fraca
As asas empoeiradas
O ultimo toque e a partida
Na morte de tudo eu acreditei

Toda mulher é uma flor
Todo toque é uma caricia
Esquecem que podem voar

A seda dos lençóis e a pele se misturam
A madrugada segue seus passos
Inesquecíveis marcas sensórias
Passos que flutuam na nevoa
Um terno sorriso que desafia o tempo
Onde posso confiar esse segredo?

A leveza transcende a matéria
Um livro vívido e nunca acabado
Sem fim
A terra se faz incompleta
A saudade se torna bela
E assim se perpetua teu mistério
Nos detalhes e pequenas coisas

Olhando a chuva na janela
Via sua face
Todas as faces
Gotas choravam no vidro
Lembranças marcantes e indefinidas
Um perfume invade o aposento
Cerro meus olhos
Um carrossel girava e ela me via
A face disfarçava alegria
Alguns segundos retorno do êxtase
O tempo não importa
Sempre é tão eterno
Sempre esperarei a brisa soprar jasmim
Nos meus pensamentos e sonhos
Abrindo o portão para ela levar-me
Para longe de tudo que é imperfeito

Recife,8 de Maio de 2011
Dedicado a mulher dentro de todas as mulheres...
Sobre tudo as que ja partiram ou para o "auto-esquecimento" ou para "outra vida".
A vida sempre floresce...

sábado, 7 de maio de 2011

313> A FONTE


Umas vezes ameno outras não
Assim é o som do céu
Assim é o brilho das estrelas
Brilhantes símbolos e brasões
Protetorado dos sonhos

Das antigas paisagens terrenas
Só pedras restaram
Historias e fabulas soterradas
Sob os pés dos herdeiros
Sob o mar tão perfeito

Botões de rosas nos nossos olhos
Correnteza indomada em nossas veias
Caldeirão de desejos e porções de esperança
Alimentam a alma no deserto da vida
O fogo intocável de uma promessa

Olhar nos olhos dizia Lao-Tsé
Penetrar o impenetrável
Permear o impermeável
Ver arder a chama transformadora
Onde toda criação se consuma


Recife,7 de Maio de 2011

312> ANJOS DE PEDRA


Como poderei ignorar aquelas manhãs
Dias tão frios, intangíveis e distantes
Escarpadas montanhas de tristeza criadas
Onde os rios felizes não correm mais
Ao encontro da linha norte do oceano
Estagnam nas não confiáveis águas deste lago

Um anjo dissera-me para dar-te um colar
Sempre manter em guardá-la com zelo
E segui em silencio seus passos
Ate o exílio que enviaste teu coração
Proibiste-te do contato com o mundo
Afastada do verdadeiro amor, te vejo cair
Justamente onde me levantei por ti

Estranho como somos intensos
Eu fazia a melhor parte de você vibrar
Cheia de esperanças em um dia de outono
Por breve tempo a senhora da felicidade
Ate voltar a purgar teu imenso pecado
E a face pesar como anjos de pedra
Dias e noites chorando no vento


Recife, concluido dia 7 de Maio de 2011
Mas bem mais antigo...

sábado, 30 de abril de 2011

311> UMA HISTORIA EM DEZ ESPADAS


I A MORTE
No regresso das almas que nos são caras
Pedaços dos nossos espelhos íntimos
Cada vez mais estilhaçado pela ausência
Rachando nossa realidade de segurança
Enfim uma triste visão da morte humana

II RESIGNAÇAO
Acima da egoísta dor da perda
Considerações do destino comum
Onde todos os caminhos se cruzam
Onde todos um dia se encontram
Mais dia menos dia a porta se fecha

III A FÉ
Falam de fé e de amor, mas fraquejam
Confiam em Deus desconfiando de si
Em verdade não confiam em ninguém
Cegamente acreditam nas próprias mentiras
Aceitam-se mediante a aceitação alheia

IV O DESTINO
Existe algo acima de tudo e de todos
Metódico e infalível na linha das horas
Voando sobre as nuvens de nossas mentes
Abatendo precisamente os pretensiosos
Um a um jogados da janela do palácio

V A PROFECIA
Todas as retas se cruzam em um ponto
Mas não existe reta e o ponto flutua
Virão de todos os tempos e lugares
Arcos dividirão os reais filhos da terra
Banindo outra vez os filhos das estrelas

VI ECLIPSE
Os girassóis à noite abaixam as cabeças
Saudosos choram o orvalho da noite
Observam o pólo sul celeste e tudo ao redor
Alguns graus depois e ângulos mais tarde
Algo no horizonte incerto estremece a alma

VII MILAGRE
Raios pioneiros cortam a escuridão em fatias
Vibra o ar e ativa tudo que é vivo ou morto
Amanhecendo tudo que estava latente
O movimento acelera em direção incerta
Mas certamente conhecida

VIII REDENÇÃO
Todos correram para o pátio central
Uma nova era novamente se anuncia
Vinde todos os filhos do precipício
Ver, ouvir e saber todo o sentido
Liberdade agora corre nas veias

IX JUSTIÇA
Marcados pelos invisíveis sensores
Enforcados na terra e degolados no alto
O sangue que vingará a terra dos justos
Devolvo-te ao inferno onde habitas
Pela lei natural junte-se aos teus

X VIDA
Ainda essa noite o alto derramará sua graça
Eis que surge mais um dia em nossas almas
A madrugada anuncia uma nova existência
Mais uma vez veremos o sol diversas vezes
Outro passo rumo ao tão esperado reencontro


Recife, conclusa em 30 de Abril de 2011
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sexta-feira, 29 de abril de 2011

310> O PECADO ORIGINAL


Peso de ouro nas tuas decisões
Cachos de uvas de luz douradas
Sabedoria só floresce cultivada
Sob a bênção do tempo que passa

Fases distantes da lua do oriente
Cavalgando um raio de argenta
Surge o cavaleiro da capa púrpura
No pavilhão estrelado da noite

Após a conversão tudo se suporta
Teoremas superiores a Euclides
Geometria mede a visão da mente
Tentando retificar o universo curvo

Só sei que a ventania se aproxima
E com ela todo caos da mudança
O único abrigo é dentro de si
Os que se curvaram permanecerão

A natureza é naturalmente natural
Desprovida desta passionalidade
Movendo-se para onde tem que se mover
Quem a desconhece é arrasado no caminho

A escolha é sua assim como sempre foi
Mas a mão sempre servirá ao corpo
Pois nós sempre serviremos ao todo
E os relutantes serão servidos pela dor


Recife, 29 de Abril de 2011
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segunda-feira, 25 de abril de 2011

309> MISERICORDIA


No profundo vale do poço dos desejos
Ladeira acima margeando o cemitério
Luzes vermelhas, espanto e medo
Três almas com corações ainda pulsantes
A entrada era pequena
A permissão era seleta
Face azul-acinzentada, traje negro
Pena na mão e tantas verdades

Era eu caminhando sozinho
Era eu e o criador
Sentimentos delineados
Esboços sentimentais
Tantas prisões
Tantas privações

Duas velas acesas na escrivaninha
A rua de todos os destinos
O diabo aparece no tarot
Escolas ensinam a multiplicar
A vida ensina a somar
E eles me ensinaram a sonhar

Quem escreveu o livro sem palavras?
O silencio permeia o recinto
Com seu inconfundível som
Estrelas cantam para um único ser
Loucos saltam as ondas do mar
Bolhas solidas partidas
Pinturas derretidas
Ninguém recitou os nomes proibidos

Os mais improváveis amigos
Palavras incompreensíveis
Senhores dos choques humanos
Desgastado juro misericórdia
Misericórdia

Recife, 25 de Abril de 2011 (sobre 23 de abril)
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quinta-feira, 21 de abril de 2011

308> LADO DE FORA



Às vezes eu vou às vezes me levam
Correndo, aprendendo ou brigando
Muitas vozes tão distantes de você
A cada cama chamam meu nome

Noite passada um pesadelo
Gritando tentei entender
Mas no fundo eu sabia
Uma senhora se arrastava
E todos riam
Todos riam

Violinos desafinavam a coerência
Viventes desafiavam a camarilha
Agora o sangue mancha a roupa
Antes o ódio manchava o corpo

Zunindo metálico do beija-flor
Eu também quero voar
Equilibrado na plataforma oceânica
O incinerador de aracnídeos
Acorde logo desta loucura
O jazz durará a madrugada toda


Recife,21 de Abril de 2011

domingo, 17 de abril de 2011

307> AS ULTIMAS HORAS


Quarto frio tarde chuvosa de Abril
Os espaços confinados da mente
Na desenvoltura da escura fronteira
Ela surgiu vivida em sua nova vida
Alva como sonhos de Cruz e Souza

Um ultimo olhar ainda consciente
Décadas se fizeram frações de segundo
Deixarei-te ir sem saber meu nome
Eis os fantasmas que me perseguem
Pedindo urgente clemência e liberdade

Ate os antigos conselheiros sorriram
E o brilho transbordava o recinto
Nem sempre se dava assim
Momentos que só existem na memória
Mas existem para todo sempre

Se eu pudesse abençoar vidas
Como um dia foi feito
O faria na derradeira dor
Em um ritual sem palavras
Como vocês podem ver

Se eu pudesse devolver algumas horas
Como em um sonho atemporal
Segundos voltando a serem décadas
O primeiro sorriso
O primeiro amor
O primeiro filho
A primeira lagrima
A primeira dança
Novamente te encontrariam antes
Do ultimo suspiro
Das ultimas horas


Recife, 17 de Abril de 2011

segunda-feira, 11 de abril de 2011

306> PRODIGIO


Salvas de trovoes saúdam o sol
Relampejos de uma nova manhã
Sentida no reflexo da pele
Preparei-me para o corte da duvida
Aquilo não podia ser verdade
Foi assim quando o véu caiu

O vento vem me contar historias
Leva e trás almas em minha vida
Escuto o fogo das explosões
Um prodígio na própria alma
Encontrei a única resposta
Não há respostas

Face a face com os espelhos
A tão sonhada redenção
A mais sublime lição

O Maximo agora tende ao mínimo
Atenção no alto
E resignação embaixo


Recife, 11 de Abril de 2011

quarta-feira, 6 de abril de 2011

305> REFLEXOS DO VAZIO



Enfim deixe tudo passar
A natureza seguir seu ciclo
Tudo girando e se movendo
Desligue as luzes artificiais
Pois a noite foi feita escura

Nas portas do amanhecer
O som dos pássaros
O som do silencio
Ate o meio-dia não serão ouvidos
Mas ainda estão La

O solido é tão cheio de vazios
A visão é tão cheia de reflexos
Tantas vezes a ação é infrutífera
Entre tantos caminhos escolho nenhum caminho
Entre nenhum caminho escolho o não-caminho

O moinho enche suas pás subindo
E esvazia descendo
Assim é o coração
Tudo surge só para desaparecer
Assim é a razão
Tão inaplicável...


Recife, ultimos minutos de 6 de Abril