ECOS

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Chittorgarh-India

sexta-feira, 4 de junho de 2010

170> BEM ALÉM DA VISÃO

Respirei o ar carregado a som dos trovoes
Respondo a todas as perguntas a mim externas
Às vezes o sol se torna minha lança
Quando tudo se enche de fogo etéreo
Nosso tempo assume proporções épicas

A espera silenciosa e necessária a luz
Amigos em sonho vêem do passado
Acordados pelo medo estar atrasados
Os espectros tomam distancia involuntária
Desaparecendo em explosões elétricas

Olhando as maravilhas do céu iluminado
Sentindo na pele os tremores telúricos
Atravessando o vale da segunda morte
Lavando os três frutos em água cristalina
Enfrentando de vez as três serpentes


Recife,11 de novembro de 2009

169> DIA DOS ESPIRITOS *

A águia de duas cabeças cruzava o infravermelho
Numa sonora atmosfera separada desta dimensão
Pude ver os raios que emanavam do meu rosto
Refletidos nos outros cavaleiros da liberdade
Pensamento firme e indivisível alem do portal
O céu não era aqui, mas salvação não estava longe
O brilho das lanças de rubi e das espadas de safira
Cinzas e farrapos soprados pelos redemoinhos de vento
Ondas eletromagnéticas paralisavam tudo ao redor

A verdade era mesmo o seu signo fixo no punho
Mas eles não fugiriam ao confronto jamais
Os sombras viriam nas mais diversas formas
Desorientados pelos dispositivos elétricos
Ou pelo reflexo do sol contido nos nossos olhos
As velhas fardas caquis e os velhos emblemas
Então amigos é chegada a hora de partirmos
Deixando estas paisagens de faces petrificadas
De volta à superfície de uma noite estrelada.


Recife(astral),2 de novembro de 2009

168> CIRANDAS ANTIGAS

Olhei-os com o canto dos olhos
Na verdade evitava qualquer contato
Cada passo e gesto dado reportavam-me
Aquele sorriso

Existiria um lugar milhas daqui
E ao mesmo tempo tão perto
Onde o coração em seu bater
Fosse como o das crianças

E apenas toquei seu braço
Cerrei os olhos e imaginei
Toda ternura passando por mim
Como cirandas antigas


Recife,2 de novembro de 2009

167> DOIS SONHOS

O encontro de dois afluentes era admirado
Aquarela das águas em suas cores distintas
As nuvens descreviam a forma de um olho
Como se o divino resolvera espreitar-nos
E fomos tão ao norte só para testemunhar

Aquela lua que talvez não fosse bem lua
Teimava em não estar imóvel sobre o mar
Discordando de sua orbita e de minha lógica
A caixa de botões simples produzia o som
Levá-la-ei ao corcel ate poder encontrá-los

Após saber de tudo o que direi ao acordar?
Eles preferem as revelações pela manhã
Mas levam-me ate minha única amada
E assim projetam a ausência de alguém
E assim deixo registrado o que esta além...


Recife,27 de outubro de 2009

166> CONTOS DA GUERRA OCULTA *



No espaço onde toda essa dor se encontra
Na fronteira deste orbe assolado pelo medo
E os insurgentes nas profundezas oceânicas
E nos só tentávamos achar nosso caminho

E se todo esse medo instigado apagasse?
E se víssemos pedaços de deus em todos os olhares
Exatamente no brilho da luz refletida da retina
Ainda haveria motivo para tanto ódio?

Demorei a ver o quanto eram organizados
Envolvido nos revoltos mares da vida
Enfim pude perceber algo alem de meus desejos
E bem acima no prateado lunar também me viam

Ergam os braços e protejam o rosto das fagulhas
E quando o chão afundar roubando o equilíbrio
E na queda o sol se tornar escuro privado da luz
Estarei onde deveria estar e todos saberão

Solidão me assusta mais que a morte indesejada
Futilidade ainda me irrita mais que a maldade
Estas são palavras do mais novo guerreiro secreto
Que sonhava com luzes no bosque das amoras...


Recife,26 de outubro de 2009

165> 4 DE COPAS




Lembrei de você tão linda naquela noite
Toda vestida de lua
Exalando o perfume das mais delicadas flores
Enquanto refletia a aspereza no olhar,
Algo impaciente

Recuei um pouco a fim de vê-la mover-se
Com sua típica e apaixonante altivez
Mas com os passos mais pesados
Traduzindo uma resistência inercial
Ao movimento e as mudanças...

Tive medo do seu olhar se perder no vazio
Mas desta vez só evitavas inconscientemente
A minha leitura da tua alma
Ainda alheia ao novo brinde ofertado,
Ainda...

E se tudo fosse um pesadelo, eu te acordaria!
E se tudo fosse um sonho, você me amaria?
Volte para a parte mais alta da cidade
Vamos para casa,
Vamos para casa...


Recife,21 de outubro de 2009

164> ASAS DE OUTUBRO *

Tempos varridos por ventos que não voltam mais
A única lembrança ainda presa no fio da memória
Incompreendida historia com tantas sutis entrelinhas
Nas mais belas nuances proporcionadas pelo destino
Açoita meus olhos, meu rosto e toda minha vida
Regente escolhida para a opera triste dessas auroras
A mais bela canção vinda nas asas de outubro...

Brilhantes de uma beleza indistinguível a todos
Reluzem onde reside os sonhos e os desígnios
Inflamando meu desejo de viver e ser vida
Traço mais provável do que seria o divino
O templo vivo das minhas preces mais altas

Deixe-me a sos um pouco
Entre meus tantos sonhos

Brinda a singularidade de nossa existência
Alem, muito alem do que é chamado racional
Rondando sempre nos recantos das minhas noites
Rondando sempre nos lampejos da minha mente
O único propósito possível nas lagrimas de alegria
Sol que enche de calor e sentido esse mundo frio


Recife,6 de outubro de 2009

163> NOITE DAS VOZES SILENCIOSAS



Notas cruas naquela harpa invisível aos olhos
Derramavam-se em ondas nos raios da lua
Às vezes cobravam o vigor peculiar da noite
Para voltar ao tom misterioso como a vida
Um sublime maestro com dedos de galáxias
Pendurou no preto fixo aquele sonoro satélite
Obrigado por poder ouvir a musica da luz
Obrigado por poder ver a cor do teu som
E o ritual seguirá toda madrugada a fora

Uma criança surge assoviando em uma visão
Tão sublime quanto a inesperada aparição
Filha do lado bom da noite, minha filha
Faz sorrir teu pai que não teme os outros...
Salta nove dimensões ate o ventre da mãe
E com cautela avançamos cada vez mais
Sempre imprimindo vida em nossas vidas

Ao lado minha arma mística e a luz verde
Lentos passos largos rumo a plenitude
As vezes tudo se enchia de luminosa graça
E ouvia-se as silenciosas vozes chamando
Para o novo amanhecer de nossa existência


Recife,29 de setembro de 2009
Também postado na Fabrica de Letras

162> HISTORIAS DO TEMPO *

Corria levemente nos vales suaves da face
Aquela lagrima que nunca quis atirar-se
E nem sempre carregava tanta felicidade
Um testemunho de contrários harmônicos
A isso chamam de lagrimas de alegria...

A vibração que precede o novo encontro
Um sorriso fica no espaço do social
Ate que a mutua visão encerre as convenções
Cheio do aroma de outra cidade distante
Irradiando as luzes artificiais do recinto

Caminhando em passos bem simétricos
Algo circulava de um lado ao outro
As mãos dadas faziam o contato etéreo
E o mundo começava a girar ao redor
Fatalmente como essa historia é escrita


Recife,29 de setembro de 2009

161> O QUE ELA ESCREVIA

Leio e releio as coisas que ela me escrevia
As vozes através das poucas entrelinhas
Privações e alguns reflexos traumáticos
Seus gritos sozinhos nas infestadas ruas
Vozes que nunca estariam de todo nuas

Era tão real quanto às noites solitárias
Como um pendulo instável e temperamental
Era tão estranho quando se balançava ate mim
Com a típica aspereza do ferro enferrujando
Conte ate três e o pesadelo acaba enfim

Aquelas frases me faziam ver o que ela não via
Aquelas frases me faziam ver quem ela não via
Através de mim a tentativa de saber da outra nela
E quando a resposta estava emergindo em calor
O papel sempre queimava, sempre queimava...


Recife,22 de setembro de 2009