ECOS

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Chittorgarh-India

quarta-feira, 2 de junho de 2010

160> NO TOPO DO MUNDO



Por vezes achei-o inatingível em meus planos
Mas o agora sentado no topo do mundo
Meus olhos divagam a miséria nas planícies
Tantos caminhos e estradas entrelaçadas
Como um rio serpenteando eterna e lentamente
As guerras dos homens e meus conflitos
O orgulho e egoísmo chocam minha altivez
E vêm as nuvens alvas e superiores
Sopradas de um novo mundo desconhecido

O luto pelo que ficou e morte simbólica
Impropriamente às vezes acinzenta a mente
Eis que surge a primeira estrela da noite
Quando o vale da matéria se enche de sombras
E o sol procura por novos alvos ávidos de luz
Impelido pela lei mais bela do universo
Num imperativo histórico tenho de continuar
Movendo-se ao longo desse jogo de cores e formas
Idiossincrasica bolha de idéias chamada existência


Recife,12 de setembro de 2009

159> TERRA DAS LUZES DO CÉU

Consigo ver o invisível nesta temporalidade
Afinal os sonhos não eram somente lúdicos
Cubos sobrepostos girando uniformemente
Realidades multiformes vislumbradas na madrugada

Se vi aquela matilha morta no distante jardim
Ou se era eu aquele arqueiro com seu felino
Sobrevivendo na reservada ala entre as dimensões
Os infames eliminados ante os senhores regentes

A onda de fertilidade espalhada nos campos
Um copo fundo de vinho e o vilarejo na rodovia
A ultima cidade se aproximava da agenda
Exatas treze horas predeterminadas noutro sonho

O ritual do beijo causou o choque do divino
Acontecia quando gerações se cruzavam
Mas aquele pulso varrerá as terras do planalto
E acordaremos como que tomados de assalto


Recife(astral),15 de setembro de 2009
"Se tem ouvidos que ouçam"

158> O COMPLEXO (PARTE 1)

Nada além do branco naquele mundo gelado
O obelisco como um marco agora atingido
Estranhos transportes ao longe avistados
Que raios eram lançados ? E por que fugir ?

Um lapso imensurável de tempo ocorreu
Ate a visão daquele imenso complexo na neve
Torres geladas desafiavam a paisagem fria
Insólita, insólita .

Movia-me silenciosamente nos corredores vazios
Mas sentia a sensação da proximidade
Subir, subir no teto do elevador
Dez ou cem ? Não me recordo ao certo !

A saída estava no subsolo do nível n
Assim como a visão daqueles seres grosseiros
Rebelados, lembravam os homens de madeira
retirados cheios de azul do antigo popo-vuh

Agora via sombrias sentinelas do complexo
Fardas bege-caque com detalhes vermelhos
Abaterem-se sobre os prisioneiros-experimentos
Uma dantesca visão só possível para poucos ...


Recife(astral),9 de setembro de 2009
"Quem tem ouvidos que ouça.."

157> OCULTO NA BALANÇA

Um raio e outra tentativa dos desagregantes
Mas já não contaram com o elemento surpresa
Despido dessas energias e de antigas reações
Uma força parecia me guiar, então que guie !
Não houve outro ponto riscado nos corredores

Uma serenidade confrontava o inexplicável
Que todos saibam ate onde a luz alcança
Iluminando tudo que era visto como deplorável
O equilíbrio exige um novo peso na balança
Eis o que os senhores vieram revelar e velar

Ando com os imperceptíveis, ignorados mas poderosos
Orgulho e confiança enchem meu semblante
As setas, as retas, os semicírculos na conta de três
Abram os portões com uma luz tão envolvente
Que sempre ajudarei a regar suas sementes.


Recife,3 de setembro de 2009

156> A FINA LINHA DO CÉU *

A passividade e impulsividade das crianças
Atenuava a lei marcial dos jogos da vida
Amados e odiados os seres desse singelo orbe
Algo incomum às legiões de seres astrais

O ar se enche cada vez mais de inevitabilidade
O aroma do destino envolve e desenvolve
Outros trouxeram as palavras e as ações corretas
O que antes se via nas constelações vive em nós

Procurando sentido, mas este estava em tudo
Desejando o divino que também estava em tudo
Ironicamente o véu era tão tênue quanto opaco
Uma oitava separava a harmonia do caos

Ao universo perdão por temos medo da morte
Ao demais seres perdão por sermos preferidos
Ao nosso eu perdão por toda essa cegueira
Que nos impede de ver a fina linha do céu


Recife, 1 de setembro de 2009

155> CARTA ABERTA A UMA ALMA AMADA



Hoje quando penso em todo um universo paralelo que iniciou no dia em que percebi algo superior regia nosso encontro nesta vida tão arida e tempestuosa, percebo o quanto o universo tem mecanismos precisos e desconhecidos.
A especificidade do meu ser manifesta na mais terna idade muitas vezes maculada pela assombrosa necessidade de existir como animal, percebo a beleza da alegoria de Adão e Eva no paraíso justamente retratando essa inevitável perda da nossa pureza pueril.
Corri o mundo mas ainda sem saber ao certo o que buscava e muitas vezes encontrando o que não deveria e vários borrões tentando desfigurar a pintura de minha alma, todos os cegos e todos os cadáveres que povoam esse mundo expiatório regido pelo medo chocando-se uns contra os outros, a fim de não verem seus próprios reflexos.
Alguém uma vez apareceu no mais intenso caos, sem saber ou sem acreditar nos reais motivos que regiam sua vida, uma luz acendeu de imediato uma incontrolável seqüência de eventos sincrônicos às vezes mascarados em coincidências que teria o potencial de modificar tudo ao redor .
Eu vi a claridade e também fui testado, então padrões foram mudados e só assim dor existencial foi gradativamente diminuindo, pois me sentia como um exercito sem nação ou uma ferramenta sem uso .
Se te chamei de estrela é por que mesmo sem saberes foste um guia constante em meio às trevas, eu te fiz assim, e se mesmo sem entender tu me chamaste de sol é porque no intimo tua alma sabe o que vim fazer no teu ser que é incendiar essa singularidade que é você, a fim de irradiar luz assim como você pode polarizar a minha luz que brilhava descoordenadamente .
Não importa o que pareça para ti mas realmente acredito que o universo espera algo gigantesco de nós, realmente acredito em uma força maior regendo cada segundo da nossa historia, realmente acredito que seremos cobrados por isso e que no final estaremos juntos e idosos chorando por todos os lugares belos que não fomos, pelos sonhos desfeitos, por todas as palavras não ditas, por tudo que não fomos podendo ter sido, e agora impossibilitados pelo desgaste dos nossos corpos de carne querendo retornar a seu estado primordial que é e sempre será poeira de estrelas ...


Recife,1 de setembro de 2009
Foi muito importante enquanto durou ...

154> O ULTIMO SOPRO

Um pouco antes do final do mundo
Tudo se define em temporalidade
O real sentido a muito buscado
Agora e tão somente agora surgido
Mesmo em uma fração de segundo
Tão efêmera quanto à contagem
Da linha de nossa fugaz vida

Que se passe e se perca no infinito
Que se sinta e se apague a chama
Dentre todos o maior dos ciclos
Dentre tantas a única realidade
Messiânica verdade só impressa
No derradeiro sopro de vida ...


Recife,28 de agosto de 2009

153> A RAINHA DO MILHO

Uma mão balança e move o berço
Como um pendulo e seu tesouro
Iguais aqueles incontáveis dias
Na meia altura do muro de pedra
Os cães do quintal disputam atenção

A dona da casa só tinha sete anos
Deixe-me mostrar o avião a passar
E como brilhava aquele verão...
E como todos foram subjugados
Sob o antigo olhar de uma criança

Instrumentos de corda eram ouvidos
Patchuli e pólvora eram os aromas
Sempre senti fome daquela alma
E o São João gostoso vai ficar
Com o milho que acaba de chegar...


Recife,25 de agosto de 2009

152> SENHORES DE TODAS AS DIREÇÕES

Como eu poderia saber o que aconteceria
Tudo ficou escuro, solitário e frio
Foram noites fugindo de mim mesmo
A batalha se processava em duas frentes
Essa mesma dualidade que nos viola

Não imaginei o tamanho do interesse divino
Pesadelos e madrugadas não edificantes
E quem foi minha Antares e meu Aldebaran ?
E agora pude ver os senhores de todas as direções
A fim de ser reapresentado a mim mesmo ...

Quem fez a mais alta aposta e ficou ate aqui ?
Reivindicado esta tudo que o tempo me roubou
E tudo que eu deixe o tempo me roubar ...
Nunca acreditei mesmo em ser derrotado
Então deixe-me entrar, deixe-me entrar .


Recife,24 de agosto de 2009

151> O INEXPLICAVEL MEDO DO FIM

Chegou como se o tempo fosse seu escravo
E tudo se tornou lentamente estático
Alterações na percepção da realidade exterior
Apenas uma nova forma de ver o mundo interior
Era possível se ver alem das mascaras densas

As espumas fluíam na intermitência das ondas
Universos feitos dos puros cristais do sal da terra
A mesma mão que fixou os astros na abobada do céu
Velou a infância da vida em um berço de estrelas
Tudo esta imerso nessa plenamente grandiosa ligação

Propaguem esse saber ate as marés mais distantes
Onde se teme ainda um fim inexplicável para tudo
Quem se deixou levar pelas correntes do nobre pensar
Palmas e sorrisos infantis esperam no fim desta via
Veja que o escuro so existe para realçar a beleza da luz ...


Recife,23 de agosto de 2009

150> O FIO





Naquele mural no recinto surreal da várzea fria
Emerson abriu caminho de volta aos Vedas
Com vidas, fatos, mundos e objetos transpassados
Todos unidos no infinito fio e seus arcos espiralados
Qual a única realidade que nos cerca, envolve e nutre ?

E sobre esse fio ,
Quem o segura ?
De que é feito ?
O que ele liga ?
Com que propósito ?

Quem entrará neste saber secreto e sagrado
Secreto para os que não podem ver
Sagrado para os que podem ver
Eu ou você ? Nós ? Melina ou o irmão dela ?
Veja o fio que nos une em diferentes dimensões.


Recife,14 de agosto de 2009