ECOS

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Chittorgarh-India

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

393> O NAUFRAGO DE NAXOS

Tantas noites escuras em claro
Quantas luas cheias tão vazias
Mas o mar desliza sobre o destino
E nesse balanço eu te vi sem fé
A luz tremula na ultima fenestra
As lagrimas e a madeira úmida

O toque na alvura da areia
A sombra que se perde no escuro
A chama da tocha que incendeia
E nesse isolamento me encontrei
E das minhas masmorras me libertei
Só para ver-te em rubros lençóis

Agonia em uma praia Cretense
Agora historias de um tempo morto
Eis os imperativos históricos
Eis os nossos vãs heróis
Cujo único heroísmo fora
Resistir aos séculos 


Recife, 5 de Dezembro de 2012
Algumas tristes escolhas .

 

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

392> PECADO ORIGINAL II




Um olho me olha e outro me esquece
Referencias do que fui ou do que acho ser
Espelhos espalhados na alma
Espelhos nas retinas
Espelhos nas paredes
Espasmos na carne e as pálpebras tremem
Leão manso entre carneiros raivosos
Esquecidos que instintos são instintos...
Partes indecisas de nós mesmos
Inconstantes e instáveis
Conflitantes

Aurora realizável no desafio do eu
Dia a dia hora a hora
Coisas do tempo
Coisas que nem existem
Dentro e fora tanto se confundem
Que se fundem
O real oculta-se e a sombra torna-se visível
Assim construímos nossos mundos
Com reflexos, projeções e toda sorte de ilusões
Pai e mãe de todos os medos
Em um aborto do desejo rebenta a dor
O único e plausível
Pecado original

Voando sobre o negativo da Terra sem fim
A efêmera idealização da vida de encantos
Assombra os desejos dos viventes em mim
Aqui onde tudo transcorre tão rapidamente
Vivo e sempre viverei
Essa é minha vontade


Recife, 22 de Novembro de 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

391> EXILIO


 
Castelos cristalinos que fui privado
Estrelas que me falam em silencio
Da saudade velada em melancolia
Impressa na memoria da infância

A marca invisível que carrego
Ligação instantânea e intermitente
Salta a alma em lembranças imprecisas
Aroma de outrora
Campos e jardins
Risos infantis
Alva senhora
E brevemente tudo perde definição

Um fruto que não é deste pomar
Aos outros a doçura
Ao próprio fruto a solidão
Arco, espada, lança e tridente
As armas divinas e suas potencias
Sol na lua e lua no sol
Eis minha arma
E minha vergonha

Sou o segredo de Pandora dos que já se foram
Presenteado aos que aqui ficaram
Preparando os novos tempos que virão

Quantos realmente podem ver os corações?
Quem mais fareja as trevas?
Afinal este recipiente pode me conter?
Quando em fim vou morrer?
Mas não se responde uma pergunta com outra
Assim se diz no oriente luminoso
Assim este é o meu destino
Como é o de todo exilado
Retornar
Em uma estrada de luz, sorrisos e perdão
A única possível entre nossos mundos


Recife , 8 de Novembro de 2012
Foto : Margem de Ganga (Ganges), Varanasi-India , arquivo pessoal .

quarta-feira, 31 de outubro de 2012

390> A ROSA DA MOÇA

 


Flutua na serenidade o meu legado
A lua imóvel observa sendo observada
Novos mundos
Novos sonhos
Tudo silencia na grande criação
Onde outrora era inquietação

Minha farda era graduada
Meu professor justo e perfeito
Instruções na outra madrugada
E a rosa da moça me protege

Por onde andarei essa noite?
A mente galopa anos-luz
Tão perto e tão longe
Tudo em um piscar de olhos
Essas coisas não respeitam o tempo
E sentenciam-nos a imortalidade

Recife, Lua cheia de Outubro(29,30) de 2012

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

389> SOBRE O FIM DE UM TEMPO



Telas pintadas para seus descendentes
Falsas historias de amor em livros
Prateleiras cheias de palavras vazias
Onde esta o chão onde eu andava?
Quem mais aceitará minhas perdas?
Eu conheci a mim mesmo
Todos estavam errados
E nos meus devaneios fui flagrado
A lua se invertia no céu escuro
Meu coração se afogava no peito
Noite que se derramou em um leito frio
A visita inusitada e as canções do passado
Rajadas de conflitos íntimos
Alguém disse que não era o fim do mundo
Mas era sim o fim do nosso mundo
As casas que moraríamos, desmoronando
Cidades que iriamos, destruídas
Pessoas que conheceríamos, padecendo
Gargalhadas silenciando
Beijos secando
Bussolas girando, girando
Prefacio de um livro em branco
Nada importa mais
Tudo é esquecimento


Recife, 4 de Outubro(3 de Maio) de 2012