ECOS

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Chittorgarh-India

segunda-feira, 25 de junho de 2012

384> CINZAS DA NOITE DE SÃO JOÃO



Chuva fria e neblina rasa nas minhas retinas
Luzes por toda parte
E entre elas a escuridão
Espaços possuídos por vazios

Reflexos de minha face
Audição que fere
Visão que engana
Quem nos salvará dos sentidos?
O tato que enlouquece
Odor que envenena

Fogo que só aquece o corpo
Não pode me queimar
Pedras que paralisam a carne
Não pode me deter
As lembranças são tão reais
Os sonhos são tão verdadeiros
Mundos que criei
E crio a milhas daqui

Cinzas na noite de são João
Baterias de oitenta e oito
Irreconhecível aos demais
Os anjos descem do céu
Para verem tudo isto desaparecer
Em luzes invisíveis
Em corações esvaziados
No sangue das minhas veias
Na mais pura salvação



Recife, 25 de junho de 2012

terça-feira, 19 de junho de 2012

383> PONTES DE LUZ E SOMBRAS


Manhãs de inverno não me congelam mais
Andando comigo mesmo nestas ruas
Elevando os pensamentos além dos faróis
Desfavorecidos encharcados por seus pecados
Olhos vidrados dos dois lados do caminho
Perdem-se no meu próprio olhar
Em instantes escuto seus corações
Sinto seus medos
Presencio suas ausências

Às vezes me sinto um anjo tão distante
Cheio das mais brilhantes imperfeiçoes
Ouçam o que eu digo sem nada falar
Ignorem o lento pulsar dos umbrais
Hipnóticos ritmos das mesmas noites
Milenares
Cães e crianças raivosas
Irreconhecíveis na teia do tempo
Cegos nos olhos da alma

Através de gargalhadas que não ferem mais
Dia a dia vou encontrando minha redenção
Crucificado pela própria mascara que criei
Outrora útil para lidar com os inúteis
Compreender toda incompreensão que me cerca
É meu maior trunfo
E meu maior desafio

Recife, 19 de junho de 2012
Foto : Ponte nova, Mumbai-India

sábado, 16 de junho de 2012

382> OS DESCENDENTES E OS PORTAIS DO AR


Seres descendentes de toda criação
Habitantes do ar bem mais sutil
Miríade de entes dispersos no éter
Saber se torna a mais sublime tentação
Viver sempre foi a mais bela emoção

Pontes e arcos feitos e desfeitos
O sopro do vento
Aquela musica divina
Um pensamento com aroma de lembrança
Buracos de minhoca da consciência

Navego nesse fluxo infinito
Onde a matéria da a forma
Onde o tempo é uma estrada
Não acredito no solido e nem na solidez
Não acredito em passado, presente e futuro
Mas é maravilhoso vivencia-los

Uns sobem e outros descem
A escadaria se sobrepõe
Uns voam outros caem
Nascimento e morte se encontram
Sempre no mesmo ponto que nunca existiu
Sempre na mesma hora que nunca passou 


Gravatá-Pe, 16 de junho de 2012

quarta-feira, 6 de junho de 2012

381> EXILADOS DA MESMA ESFERA



Aqui um amanhecer perdura por décadas
A mais esplendorosa breve primavera
O som da chuva relembra as frequências
Próximos e separados na mesma esfera
Esperando os sinais de mudança
Esperando a hora de partir

Oceano que reflete minhas estrelas
Caravela que rasga a superfície fluida
Memorias não compartilhadas de outrora
As aguas eram profundas
O tempo insano

Tenho falando tanto em quedas
Que nem mais sei qual é meu lar
Tenho sentindo tanto
Que já sei o que é amar
Tenho esperado tanto
Será que já posso voltar?

Meu corpo é pesado demais para voar
Minha alma impura demais para volitar
Será que você não vê isso
Será que você não pensa nisso
Mais dia menos dias hei de retornar
Porem já disse, dias podem ser anos
E se deste exilio eu primeiro me for
Ate que a saudade te desperte
De certo que no meu novo tempo
Olharei sempre as estrelas
Como tenho sempre feito


Recife, 6 de junho de 2012

terça-feira, 5 de junho de 2012

380> CÉU DE INVERNO SEM CHUVA


Cores mais amenas bem distribuídas
Por instantes tudo fica mais leve
Mesmo as coisas mais difíceis
Sob a aquarela do mestre das pontes

Criaturas da noite a te perturbar
E a chuva ainda não caiu
E as lagrimas não tem mais fonte
Soluços inaudíveis em um sorriso plástico
Canções só traduzidas por um piano
Varias oitavas acima onde estou

De costa para a grande oferta
De frente para o vento
Andar onde não se pode mover
Disfarçar toda a agonia
Nuvens carregadas
Olhar trovejante
Derramar o orgulho que consome
Aprender a admirar o voo dos pássaros
Somente assim a chuva cairá
As lagrimas serão novamente úmidas
E o chão das almas se vestirá de flores


Recife, 5 de junho de 2012
Porque fugir não adianta nem nunca adiantará .

domingo, 3 de junho de 2012

379> SAZONAIS SENSAÇÕES


Sábado à noite eles balançam as arvores
Vejam o frio entre suas folhas dançantes
Longe das obvias perspectivas humanas
Aqueles que se vão se perdem
Os que ficam sonham

Uma bela noite de outono
Infância que retorna em sensações
A beleza que nunca se perdeu
Olhos que não vêem
Ouvidos que não ouvem
Coração que não sente
Luto sensorial
Involuntário e pueril

Palmas ouvidas nas cantigas das crianças
Que não tem medo da morte
Roda da felicidade cruza oceanos de dor
Clareza que dissolve a nevoa da duvida
Assim morrer todas as noites
E reviver a cada manhã


Gravatá, 2 de junho de 2012
Impressões em uma bela noite de junho