terça-feira, 30 de novembro de 2010
281> MÃE DE TODAS AS MANHÃS
Às vezes o céu se confunde com o mar
O que é primavera e o que é verão?
Palavras guardadas para nunca falar
Jardins que só existem na emoção
Mesmo que seja eu o único a sonhar
Cães ainda podem morder no andar a baixo
Não era meu aquele sangue na parede
Muitos hertz acima tudo brilhava
Meu pai onde estão tuas espadas?
Só assim poderei me aproximar
Corações impetrificaveis aos meus olhos
Tragam a tona as mais belas memórias
Mãe de todas as manhãs venha me cobrir
Sorrindo não temerei e usarei sua mortalha
Igual ao sol dourado que varre esse vale
Nome escrito na areia
Sangue proscrito na veia
Assim observo os caminhos
E quando me sinto sozinho
Acendo as luzes
Recife, Uma manhã de novembro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
280> OS COMPANHEIROS COM MANTO DE LÃ
O silencio tem vozes que vem de dentro
A essência e o sabor da verdadeira pureza
Na calada dos séculos vem com os profetas
Esvaziando a ânfora das intimas angustias
Face e pele são agora uma casca ressecada
Os naturais se tornaram estranhos ao mundo
Porque a febre do possuir não os possui
Já que todas as estradas sempre se unem
Assim como os desejos sempre desagregam
A noite ainda é escura assim como foi criada
É fato que a estamos sempre buscando
Não importa se já o temos
A uns se deve dar e a outros retirar
Mas a todos se deve equilibrar
E tudo segue sua própria natureza
Eu ainda sou eu, mas logo serei você
E assim que você for tudo será eu
Basta sermos como os cães
A verdade só se reflete se for verdade
A realidade manifesta uma só vontade
Recife,29 de novembro de 2010
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010
279> CASTELO DOS VENTOS BRANCOS
Em sonho bem acima do quinto céu
Vejo o castelo dos ventos brancos
Quase imperceptível entre as nuvens
Silhuetas enevoadas nos portões
Torres espiraladas de puro cristal
Sinos e as perfeitas oitavas musicais
No mirante de formas quase femininas
Passagem visual para a terra dos bosques
Varias realidades abaixo dos cirros
Era o mesmo que soprava na casa vazia
Era o mesmo que ligava os dois mundos
Cheios de odores das flores que se foram
Com as frias noites nos cobertores alados
Eles não possuíam nenhum dono
Sua senhora partiu na ultima primavera
Deixando apenas uma pintura na parede
A alva Iris dos campos a tudo recobre
Seu mortal hálito gélido sela o ciclo
Hora de guardar todas as sementes
Olhos levemente mais quentes que o ar
Pairam no retrato agora fora de esquadro
Único vislumbre do refugio distante
Única passagem para seu novo castelo
Onde o retorno é agora uma promessa
Recife,26 de novembro de 2010
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010
278> TODAS AS DORES DE CAIN
Quando o vento sopra de fora para dentro
Despindo o manto aveludado de nossos egos
Ate o mármore áspero do intimo ser visível
A dor onipresente de quem existe só por existir
O peso da sombra inegável e indesvecilhavel
Marca uma fronteira invisível entre instintos
E a natureza humana foi separada das demais
A essência é desvirtuada pela parte negada
Véus e tecidos finos cobrem a bestialidade
Areia veste o que esta enterrado na alma
A saga dos animais que não se viam animais
Desilusão transformada em profundos temores
E desses temores brotaram todos os males
Venenos que criamos e ingerimos veladamente
Fechando os olhos veio a escuridão
E na escuridão se pode ver a luz pura
Distintas das que brilham desfocadas
Pairando alem dos modelos atômicos
Atravessando uma barreira imaterial
Voa a parte mais indescritível de nós
Armadilhas elaboradas esperam o saber
Cercado pela angustia que nos marca
Quando nos afundamos em conhecimento
Uma voz reverbera sempre dentro de nós
Diferentes volumes, mas o mesmo dizer
Conexão imediata com o desconhecido
Algo que os presunçosos julgam conceber
Palavras perdidas no abismo da linguagem
O reflexo de todos os filhos de Caim
No fogo que não se apagará jamais
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
277> DIÁRIO DE UM CRUZADO
Um único olhar e o caminhar em silencio físico
Os últimos raios da manhã partem rumo ao oriente
Sobe e desce angular na ponta do astrolábio Mouro
A vaidade embriaga como o forte odor de gengibre
Sonhos com distantes e exóticos rostos
O que dirão nos seculos que virão
Nada do que foi escrito foi sentido
Nada do que foi omitido foi perdido
Arabescos brilhavam na escuridão
Lua crescente de todos os cavaleiros
Falavam com os seres do vento
Rezando como se fosse o ultimo luar
Uma criança chorava noite a fora
Uma distração indevida a meia noite
Transportado por lembranças ao lar
Seus olhos equilibravam-se nas orbitas
Quem escolhe quem deve sobreviver?
Quem deve caminhar entre cadáveres?
Decidir pelo que já foi a muito decidido
Através da penumbra a salvo na proa
Sem encontrar as respostas das perguntas nunca feitas
No reino prometido nada foi prometido por deus
De volta as sombras sem nunca ter visto as luzes
Cruzes de fogo nas marcas de nossas almas em pânico
Recife, 17 de novembro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
276> AQUELES QUE MORAM EM MIM
A sublime voz dos contos de vida e morte
Perpetua inabalável entre a incompreensão
Espelhos que jamais foram usados
Na pureza do primeiro pranto ao nascer
Perdida nos punhais afiados do tempo
Dilacerava corpo e alma
Perdoa aqueles que moram dentro de mim
Perdoa-me por não pacificá-los
Existe sentido na guerra pela paz
Somente Arjuna pode conceber
Somente eu posso me vencer
Em meus anos procurei um messias
Em meus planos me tornei um guia
Os cômodos eram escuros
As passagens estreitas
E todos eram da mesma família
Cavernas que Vollenweider desconhecia
Viver minha vida ao meu lado
Coexistir com tantos seres
Dentro e fora do que penso ser eu
A face mais absurda do ser humano
Não nos torna imperfeitos
Se a fé se une ao destino
Recife,12 de novembro de 2010
275> CONVULSÃO DE MUNDOS
Descendo escadaria de degraus laminados
O ser ainda não formado vai adormecendo
Na sala das chamas agora só há cinzas
Mas existem outros a muito formados
Personalidades forjadas em outros tempos
Combatendo pensamentos que já criamos
Eis porque nem sempre nos reconhecemos
Nos sonhos mais profundos e enigmáticos
Como um motim de impossível controle
As múltiplas pétalas de uma flor
Os vários espinhos
As inúmeras cores
Uma luz atravessa a deformação
Num piscar de olhos o retorno
Longe no tempo e em outras dimensões
Mas existe para sempre o ponto de fusão
Fio do rosário concebido e inconcebido
Esticado alem do nosso alcance visual
Bendita é a narcose que nasce conosco
Para novas raízes romperem o universo
Longe da fonte de todas as loucuras
Ate as asas negras da noite ressuscitarem
As vozes que convulsionam os mundos
Recife,12 de novembro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras
terça-feira, 9 de novembro de 2010
274> NORMANDO E OS ANJOS
Um quarto não tão escuro quanto o primeiro céu
Ajoelhado todas as noites depois da ultima morte
A abobada estrelada e o decreto de retorno
Tempos diferentes e a lentidão do alfanje
Liberto pela luz de todas as estrelas
Eles costumavam observá-lo nos intervalos
A visão do vagamente preciso gigante negro
Não se iludia com as palavras voláteis
E a eloqüência dos sacerdotes o entristeceu
Foi quando eles trouxeram a revelação
“Normando Deus esta no começo e no fim,
Tudo entre o Alfa e o Omega é promessa divina”
A teologia nunca mais fará escravos
O vento soprou profético e a chuva caia
Foi assim que minha sala foi inundada
E pude sentir seu coração pulsando
Quem esta liberto e quem é prisioneiro?
Olhem para a verdadeira hierarquia
A sabedoria que quebra os cadeados
Retidão que mantém em pé
Até o medo se dissipar
Até o sonho se realizar
Recife,9 de novembro de 2010
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domingo, 7 de novembro de 2010
273> PRESSENTIMENTO
Tempestades de eletricidade sutil e imperceptível
Angustia e medo repentinos no ar cinza cortical
Ciclos de diferentes eus voltam a tomar forma
A deriva nos mares da incerteza momentânea
O tempo parece distorcido no meu referencial
Tudo perde dinâmica e reduz seu compasso
Os sentidos seguem alertas noutra realidade
A mão direita é preparada com o símbolo
Em ondas as percepções são restauradas
A singularidade se desfaz em sombras
Preparem a fogueira para queimar
Tragam as antigas preces e os cânticos
Aqueles acima dos riscos assumidos
Aqueles abaixo dos mundos possuídos
Unidos pela delgada membrana cônica
Separados na densa cortina da matéria
Recife,6 de novembro de 2010
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010
272> SOBRE A MORTE
Retângulos bem separados e bem protegidos
Muitas vezes acha-se que não se pode suportar
O velho retrato na sala e aquela mesma musica
E o dia se encheu de passado
E o dia se encheu de saudade
A através de desejos incontidos e não naturais
Todas as maneiras de negar o que não pode negar
Os olhares borbulhando se fazem presentes
Iniciando as vidas não vividas dos que ficaram
Isolados nas crenças egoístas da perda
Mas só se perde o que se possui
A especificidade torna a partida mais dolorosa
Em um mundo de solidão cada pétala importa
Os jardins divinos estão agora mais perfumados
As estrelas celestes estão agora mais sorridentes
Outro corpo deixou a alma
Outro sono para despertar
Os ponteiros continuam a marcha angular
Os porteiros têm muito a trabalhar
Em breve os salões estarão cheios
É o fim da mais maravilhosa aventura
Ou o inicio da mais cativante descoberta
Recife,3 de Novembro de 2010
Imagem by Aeterna Doloris
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