sábado, 30 de outubro de 2010
271> O SEGUNDO DUQUE
Corria ate a linha do sol poente
A dor dos anos que não passam
Mistura de temperos no suor e na areia
As vozes agora silenciaram ordenadas
Manifestações de um universo inconcebido
Transfigurado, deformado e inconformado
O real significado das flores do deserto
Clarões vindos de espaços a muito fechados
Águas que corriam e lembranças indragáveis
Oceanos que se perderam para sempre
Deixe que eles vejam o meu anel
Testemunho da vida e morte de milhares
Na cor do sangue dos que amei
Deixe que a areia resseque toda vitalidade
Como a saudade amarga a vida
Rabiscos iluminados na aurora dos homens
Canções tristes ecoam nos astros distantes
A natureza nunca foi apenas planetária
Toda grandeza foi apenas um aviso
Que nada se vem ou se vai em vão
Recife,30 de outubro de 2010
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270> AO LAR
Se outrora atravessei as estrelas em partes
A lembrança se encontra em alguns pedaços
Os dias no cosmo são demasiadamente longos
Não vi primaveras nem outras estações
Pedregulhos na rua quase deserta
Arvores e seres cinzas nas esquinas
Escute os cães felizes ao longe
Meus passos fazem-se mais altos
Criaturas obscuras que atravessaram os portões
Eu voltei
Seres dos jardins das flores do tempo
Novamente eu cheguei
Minha guarda pessoal e os oito caninos
Minha leal matilha
O vazio deve ser sempre preenchido
Pois tronos precisam sempre de um rei
Registros anotados no livro sem paginas
Visitas ancoradas no porto dos sorrisos
Água varre os salões empoeirados
Alegria veste os corações
Eu me lembro daquele dia
Eu nunca esqueci meu lar
Recife,30 de outubro de 2010
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
269> ESTRADA DOS VAGA-LUMES
Inúmeras formas de se expressar
Existem tantos quintais sem cercas
Ruas que convergem em outras ruas
Os mesmos desconhecidos conhecidos
Foi loucura partilhar minha vida
Vaga-lumes só são percebidos no escuro
A intermitente lembrança da luz do dia
E assim a beleza sempre será notada
E assim a pureza sempre será um alvo
Criaturas incendiadas
Criaturas iluminadas
Deixem-me dormir só por hoje
Viver apenas em um mundo
Acordar e acha que tudo foi sonho
Cai e nunca se ferir
Não ser a primeira pedra
Mas minha vida não me pertence
Nada realmente pertence a alguém
Tudo transita e é transitório
De volta à estrada dos vaga-lumes
Cresci, cresci em muitas voltas no sol
Junto a um mundo tão próximo de outro
Intersecção dos nossos campos visuais
Tantas vezes invisíveis
E nada parece parar
Onde tudo se percebe
Recife,27 de outubro de 2010
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terça-feira, 26 de outubro de 2010
268> SENHORA DOS AFLUENTES
A vi em uma moldura no rio de águas caudalentas
Na margem distante seu antigo amado ou carrasco
Mas nem tudo foi feito para ser entendido
Algumas portas deveriam estar fechadas
Vermelho, vermelho vivo e vermelho sangue
Quem sois e o que quereis ?
Um vidro entre o superficial e o profundo
Uma lamina entre o divino e o profano
E muitas vidas entre a razão e o absurdo
Sua face abaixo do espelho d’água
Seu sorriso além do tempo
Suas imagens em meus sonhos
A passagem ainda aberta
Na casa da rua de barro
Recife,26 de outubro
Imagem da excelente paisagista Claudia Casella
segunda-feira, 18 de outubro de 2010
267> OS QUATRO PILARES DE ARUBA
Avistava a sombra de seres naquela prisão
Ainda ouviam-se os gemidos na noite pálida
Todos estavam onde tinham sido deixados
Hinos incompreensíveis de outros orbes
A saudade assumiu sua face mais obscura
Alem dos muros as lagrimas secaram
Alem dos mundos das energias colapsadas
Os quatro pilares nos portões do Caribe
Avança o alvo navio da dourada guardiã
O vento girava-me em um grande circulo
Na areia arvores imateriais e os refugiados
No meu olhar a perceptível determinação
Aquele ser não mais traria o desespero
Encolhido e derrotado na teia imantada
Os olhos das mães procurando seus filhos
O desespero dos pais vestindo suas filhas
Imóvel vejo tudo em preto e branco
Minha força vem de todas as mães
Minha permissão vem de todos os pais
Ergo a mão direita ceifando-lhes o mover
E que nadem nas lagrimas que geraram
Recife(astral),17 de outubro de 2010
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quinta-feira, 14 de outubro de 2010
266> MARIPOSAS VISCERAIS
A primavera não acabou, mas já passou
Assim breve, sem flores e sem lagrimas
Por todos os cristais dos meus bolsos
Meu sangue nas entranhas dos insetos
Pequenos Judas alados para culpar
Neste jardim o sol sempre se põe no ocidente
E as sombras não pairam no fim de tudo
Agora uma cerca divide meu outubro
A expressão separada de um olhar incipiente
Vestidos e ornamentos dourados no ébano
Que vá em paz vidente do fim do mundo
Que fique em paz com o ouvinte surdo
Quem espera tem os séculos para esperar
Quem nada espera nunca terá outro engano
Uma mariposa repousa sobre a luz
Cartas escritas sobre a mesa escura
A linha da face não mais atenuada
O destino sempre exerce sua vontade
Recife,14 de outubro de 2010
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010
265> EU, DÉDALO
Da chama de Prometeu ninguém se recorda
O fogo divino a muito perdido na memória
A ação e o verbo pesados como este mundo
Terrível tendência estática dessas vibrações
Cobiçada colméia cheia de mel e de ferrões
Outros nascem para somente viver
Muito alem do nascer e do morrer
A aldeia nos sonhos de Kurosawa
A Melina viva nos meus sonhos
A esperança na caixa de Pandora
Nessas leis o giro do spin importa
O jogo de luz e sombra faz o ocaso
Mas no tabuleiro nada é por acaso
Toda retina sabe a luz que suporta
Cercado dos melancólicos efeitos do saber
Encurralado entre uma imperfeita dialética
Enamorado por pensamentos não polarizados
Enraizado a algumas das mais antigas crenças
Se soubessem como o conhecer pode libertar
Saberiam que sempre é melhor saber
Pastoreando energias no campo unificado
Construindo um mundo reflexo no pensamento
Onde o pequeno reflete o maior
E o maior nada é mais do que pequenos
Saber sem ver é saber sentindo
Nem todas as aves podem voar
E nem todos os animais são aves
Felizes serão quando acreditarem
Que não somos como as aves
Mas um dia todos voaremos
Gravatá-Pe,12 de outubro de 2010
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Andrea Pisano sec XIV
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
264> EPÍGRAFE DE UMA EXISTÊNCIA
É sempre tão difícil quando descemos aqui
E meus pés tocaram novamente esse chão
Às vezes úmido e fértil como minha imaginação
Outras vezes áridos e fatais como meus instintos
Incertezas crescem juntamente com a criança
Olhos temerosos e confiantes fixos no meu céu
Pedras do passado constroem castelos no futuro
Antes e durante soube das tempestades de areia
Vultos aglomeram-se nas cercanias da alma
Que o vento arranque suas carnes e seus capuzes
Que o vento só me traga o perfume da vitoria
Estranhos não tão estranhos riam da queda
Ignorando os grandes planos já tecidos
Enviando suas temidas bestas voadoras
Braços malditos de muitas desventuras
As estrelas estavam la sempre para lembrar
O ar trazia partículas de uma outra época
Tudo em um claro e silencioso complô
Os símbolos rasgaram a pele e abriram os olhos
E a fusão de tudo iniciou em um brilhante sol
Incapaz de ser retido por um tórax ou um corpo
Aspirações fustigadas por elevadas magnitudes
Abram o mapa dessas regiões e suas passagens
As armas devem servir seu verdadeiro dono
Todos os exércitos prontos para semear e podar
Em nome do inominado agora assim como eu
Recife,11 de outubro de 2010
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sábado, 9 de outubro de 2010
263> ZEPHYROS NO DESCANSO DAS ALMAS
Desloquei-me ate os lírios que você avistou
Onde crianças rodopiavam no vento oeste
La pensei em varias formas e vários nomes
Ate o coração bater o mundo fora de mim
Então voltei para enxergar os que eram leves
Um balão expandiu e a tudo englobou
Flutuando sem saber o peso do ar
Ou talvez importunado pela densidade
Levitando pela estrada das quatro raposas
Ate a casa mais alta da colina entre vales
Ate que as vozes da natureza silenciaram-me
À noite e seus mais belos fantasmas obscuros
Pele clara imaculada sempre perto do fim
Vem tomar mais uma vez meus sentidos
Dama regente de todos os segredos velados
Um rio distorcia suas águas ate desaparecer
Onde a ultima maré destruiu nossos castelos
Os frágeis cavalos marinhos e sua benevolência
Face a face com o poderoso tridente de Poseidon
Memórias lançadas desoladas junto ao sargaço
Surpreendido novamente nas portas de novembro
Um desajustado nó do destino chega a galope
Se eu pudesse escolher me libertar para sempre
Seria obrigado a me despojar de meus pedaços
Para ver sonâmbulos acharem que estou dormindo
Gravatá-PE,9 de outubro de 2010
262> VOZES NA JANELA DO ALTO
Ouvi dizer que os homens do mar viram algo
Na queda do por do sol no eqüidistante horizonte
Coisas que só se sabe nas historias imemoriais
Coisas que sábios nem sempre contam aos filhos
Quando o sono não pode mais ser uma fuga
Cheio de um novo vigor foi o renovado desejo
Historias de garotos nos contos das almas antigas
Assim eram os fatos nos tronos do alem mar
As belas esmeraldas e turmalinas bem protegidas
As infâmias e blasfêmias agora todas naufragadas
O sal ressoa ao vento poucos palmos acima do mar
E só eu estou a ouvir e ver o silencio nascer
Ou será que eu me percebo só ao lado das estelas
Claro que oriundas do mar que corre no céu
E fui eu mesmo em outra hora em outro lugar
Impérios caídos nas tortuosas estradas conhecidas
E sempre estivemos juntos na guerra pré-concebida
Mil pedaços espalhados compõem a aventura
Mil milênios e ainda mentimos sabendo a verdade
Os sorrisos e as lagrimas que a muito escolhemos
Gravatá-PE,9 de outubro
terça-feira, 5 de outubro de 2010
261> OS ULTIMOS DIAS DE COSSETTE
O concerto subia o tom dos violinos
Perdidos no vasto salão aveludado
Três fileiras adiante
Três fileiras de desejos
Assim eu a via no teatro das emoções
Queria tocá-la, mas ela não estava ali
Queria amá-la, mas não aqui
A opera seguia o meu pulso
A vida palpitava no peito
Ninguém esquecerá esse capitulo
Moselle, Musel e depois Mosel
Da torre do castelo vi seu barco
O vestido tocava a água serene
Corri junto com os sinos vespertinos
Corri do tempo que nos afastou
Troquei todo o ouro do reino
Neguei todas as nefastas profecias
Condenei o dia a viver a noite
E nunca retornei ao grão-ducado
Ignorando as noticias de Mertert
A insanidade surgiu a passos leves
Quando as cores fugiram das flores
Poupando apenas os buquês que colhia
Colocados no mármore daquela lápide
Eterna depositaria da minha desventura
Recife,5 de outubro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras
sábado, 2 de outubro de 2010
260> ENSOLARADA TARDE DE OUTUBRO
A tarde avança perto do seu fim
Todas as flores do meu jardim
Meus amigos estão longe
Meu eu esta tão próximo...
A preguiça do sol de outubro
Uma brilhante laranja rosa azulada
Derreteu o cinza das pálidas cidades
E as horas tornaram-se em paz
Para admirar a sinfonia dos três reinos
A poeira ergueu-se da estrada
Mas eu já estava em casa
Lembranças das épocas do fogo
Depois da redenção eu fui
Depois da desolação eu voltei
Livre para crer e para caminhar
Ate a gênese de um novo ciclo
As oitavas de minha mente
A separação e o meu desjeito
Fez de mim um distante estranho
Minha estrela incendeia o peito
Longe da atenção dos olhos desatentos
Libertando as almas que a tocarem
O céu pintou-se de cores Cuzquenhas
Paralisando meus sentidos
Ao momento impar onde Rá toca a terra
Livrará o outro lado da ilusão das trevas
O vento se apressa em aquecer minha alma
As estrelas não têm mais pressa
Como tudo em outubro
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
259> NOITE, INEQUIVOCA NOITE
O ar umedecido embriagava as luzes dos postes
Como são mágicos os suspiros da madrugada
O encanto do mistério que se torna visível
Fadas da água dissolvidas em sutis nevoas
Nas estradas vazias da colina do passado
A noite faz valer seu direito ao silencio
Apenas os insetos discordavam
E na quietude muitas vidas passavam
Fagulhas intermitentes no campo unificado
Onde um sabia do outro em qualquer lugar
Desafiadores como aquele canto cigano
Sublimes como aquelas fervorosas preces
Assim girava a moeda da noite no tempo
A coroa da regeneração iluminada do alto
Ou cara da destruição orquestrada a baixo
Horas inundadas de liberdades proibidas
Assim era a projeção humana da noite
Na sua calada ou nos sonhos vividos
E no mais belo dos sonos eu dormirei
E na mais bela das vidas eu sonharei
Gravatá,primeiro de outubro de 2010
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