ECOS

ECOS
Chittorgarh-India

segunda-feira, 26 de julho de 2010

230> JORNADA PARA O ALÉM

Monte o cavalo ate escutar os sinos
O sol logo irá se por não se demore
Muitas línguas diferentes ouvirás
Muitos nomes diferentes Deus terá
E tu sempre avançarás sem se deter
Alguém sempre estará a te chamar
As cores da terra mudarão sempre
Muitas historias e a mesma verdade

Às vezes sentirás a sede implacável
Outra quase serás afogado nas águas
Conseguir e bem diferente de manter
Só assim te afastarás do reino animal
Que foge da dor e procura o prazer
Verás que estes ficaram para trás
Honrai então os da tua direita
Respeitai então os da tua esquerda

Encontrando os sábios escuta-os
Mas não usai os ouvidos
Na chuva descansa e usa da noite
A lua estará sempre la a te guiar
Respeita os eclipses, pois somos falhos
Chegando a saudade, aperta o galope
Fazei cada dia teu na jornada ser único
Pois assim teu rastro nunca terá fim


Recife,26 de julho de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

domingo, 25 de julho de 2010

229> A ORIGEM

As nuvens avançam no céu como aquarelas moveis
Tambores marciais juntam-se a um piano sublime
Nisso um beija-flor verde apresenta-se no ar
Sete giros eu dei envolta da verdade multifacetada
Sete foram as cores daquele distante prisma
Fui pedra, fui planta e se fui animal hoje sou humano
Tudo impulsionado pela saudade e pelos códigos
Não sei ao certo o que serei depois, mas serei

Aqui vim para sentir a água correr em minha pele
Aqui fui trazido para fazer o caminho de volta
Olho para o céu e vejo bilhões de olhares atentos
Olho para o chão e vejo bilhões de almas sedentas

A inesperada visita de uma alma recuperada
Vejo que tudo se regenera e brilha novamente
As luzes só apagam para as estradas serem desfeitas
E se acedem para serem novamente refeitas
E tudo pulsa nesse compasso ditado na origem
Do ponto mais alto um pássaro cantava
Pesquei em águas escuras um bagre e deste fiz dois
E certa noite pude ver através das cascas das nozes


Recife(astral),25 de julho de 2010
Foi, é e sempre será ...
Também postado na Fabrica de Letras

228> SONHOS DE INFÂNCIA

Por todos os anéis que deixei nas mãos de minha mãe
Não me diga, por favor, para dormir mais cedo
Era quando eles vinham atravessando as paredes
As ultimas cobranças de um passado remoto
Me acorde, por favor,

Os anos foram passando como os sonhos bélicos
Redes onde não se podia mover-se ou falar
As sirenes silenciaram nos últimos stukas
Os panzers não vibram mais o chão sob meus pés
Aos magos orgulhosos as portas foram fechadas

Subia lentamente com aqueles do mesmo sangue
Os leões esperam ansiosos acima da colina
As grades desprotegidas e a grande resignação
Quem era aquela mulher que a tudo velava?
Vejam a visão de um vale de chamas frias


Recife,25 de julho de 2010

sábado, 24 de julho de 2010

227> MARIANA E AS SANDÁLIAS DE BRILHANTES



Olhos cansados de um tempo que eu não conhecia
Terrível se sentir uma parte de algo desconhecido
Mas assim que eu a vi cheia de coisas singelas
Logo após as encruzilhadas se encontrarem
Contava-me tantos momentos com seu silencio
Falava de uma felicidade que nunca obtive

Os dias se aproximavam e marcha estava iniciada
Meus passos cautelosos ate então foram desafiados
E eu rezava para que na verdade eu estivesse errado
O desejo de estar livre para de fato se expressar
Sons no corredor a lembraram de sua infância
Deus como quis ter vivido tudo aquilo

Olhei seus pés tentando saber seus passos
Mas uma sandália de brilhantes me ofuscou
Olhei-a nos olhos tentando ouvir seus sonhos
E vi na projeção do tempo uma interseção
Agora ainda bloqueada pelas horas limitantes

Um universo se formou em nossos pensamentos
Verbalmente ainda não compartilhado
Mas o que são palavras nestas horas
Diante da grandeza da alma e seus desígnios
Acredito que em tudo há um propósito
E nisso com certeza não estou errado


Recife,24 de julho de 2010
...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

226> A MÁSCARA DOURADA

Alguém cantava algo ao lado das escadarias
La fora relâmpagos de lagrimas caídas
A ventania gritava alto seu tormento
Mas a canção era vigorosa e vibrante
Cristais espalhados e folhas por toda parte

Subi em direção ao sentido da vida
Sem ao menos saber o que era a vida
Vigorosa respiração de um búfalo no inverno
Vencendo o caos e a força da natureza
Assim foi dito pelo ancião Pé de Corvo

Perguntas que jamais devem ser feitas
Sob o perigo de se perder em respostas
Labirintos mortíferos de Minos sem Ariadne
A bela arquitetura das lapides de mármore
Avisos legítimos sobre a temporalidade

Códigos que contam a mesma historia
Religiosos que se dividem por nomes
Espelhos das divisões do ser humano
Olhos que só enxergam letras em papiro
E tolos que os veneram porisso

O sol iluminava indiscriminadamente
O ar preenchia completamente os espaços vazios
Mas a humanidade sufocava nas trevas
A privação induzida talvez já na origem
A existência era infinita porem em capítulos

Como é lindo o guizo das cascavéis
Ultima fronteira entre dois comportamentos
Como é perfeito o semblante das crianças
Ultima lembrança da unidade primordial
Antes da máscara dourada dos ancestrais


Recife,22 de julho de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

225> UMA PRECE PARA INANNA


Os vales secos e pedregulhosos entre rios
Caminhada solitária na noite enluarada
Varias luas moveis e vários caminhos
Aquele rosto celeste com fitas nos cabelos
Pele úmida e fresca como a idade do mundo

Teus contos foram contados nos quatro cantos
Soube-se de tua beleza ate nas terras Incas
Onde as cidades abrem-se para as nuvens
Perto das portas aquáticas do Tilmun
Varias linhas nas encostas do oceano

O faraó escreveu teu nome junto ao disco
Entregou-te as legiões de Anúbis para servi-la
Pois viu uma única vez teu reflexo no Nilo
Quando fugia da fúria áurea de teu primo
Ainda rezamos junto a nosso pai, teu avô

Os ventos não apagaram tua passagem
Ainda se anseia o teu balsâmico retorno
Acredito na luzes que riscam os céus
Sinais incontestáveis da tua presença
Para mais uma vez revogar nossa sentença


Recife,20 de julho de 2010
Gravura by Katlyn Breene

224> LÍRIOS DE FOGO BRANCO *

Meus irmãos os filhos da integração total
Sussurrando historias de tempos de outrora
Viajaram de onde vos dizeis ser longe
Em um tempo que também direis passado
Puros como aquele inseto em minha janela

Os que te ensinarão a ver sem mente
E te dirão como dizer sem palavras
Onde antes tudo parecia solido
Onde antes tudo parecia real
O estar e saber em todos os lugares
Só depende das lentes que escolheis
Vossas mentes projetam vosso mundo

Se passado, presente e futuro se encontram
Então todos os lugares possíveis são ilusórios
Se nas Plêiades é verão, eu sei
Se há dor em meus irmãos, eu saberei
E quando tudo se projetou, eu soube
Nas ondas de uma gota que cai na água

Hora de despir a mascara dourada
Forjada na mais bela Andrômeda
A teia que une e embaraça tua dimensão
Holograma de três raios da realidade
Veja o quinto raio eclodir como lírios
Ainda tímidos como brotos na primavera

Qual será vossa real imagem
Se tudo não é o que parecer ser?
Qual será o nosso destino final
Se tudo flui, se encontra e se uni?
De repente tudo se torna grande
De repente tudo se torna único
Pois esse de repente sempre foi
E também sempre o será


Recife(astral),20 de julho de 2010

domingo, 18 de julho de 2010

223> UMA MANHÃ DE INVERNO


Se todas as manhãs fossem como esta
Cheias de renovadora vitalidade implícita
As arvores se dobram felizmente ao vento
Folhas desprendem-se dando lugar a outras
Um manto seco recobre o chão úmido

Naquele estranho transporte vi a orla
Como uma fita estendida lentamente
Não temo mais a matilha raivosa
E afinal quem estava tocando violino?

Acordo mais cedo e a vida me espera
Observo o ventre daquela mulher
A natureza se espelha em um nascimento
Não deixe seus sonhos mais ternos
Acabarem em uma noite escura

Tantas perguntas e poucas respostas
E tantas respostas para uma só pergunta
Assim seguimos e assim sempre seremos
Sombras dançantes de arvores no inverno
Poeiras varridas nos campos de verão


Recife,18 de julho de 2010

222> TEATRO DAS HORAS INCERTAS

Os anos voaram antes de encontrar as trevas
Ninguém disse que estaríamos vivos para ver
Senti-me no colo de minha mãe novamente
Agora abrigado em uma parede de concreto
Escuto a agitação das naves em delta ao longe

Um piano cheio de esquecimento e sujeira
Tocava suas ultimas notas ainda audíveis
Uma alma cheia de angustia e remorso
Sentia seus últimos tormentos nessa hora

Sem desvios o rio prossegue seu curso
Alheio as construções erguidas ao seu lado
Ora mais lento ora mais ao sabor do mar
Assim como a queda de uma folha
Que dança, acelera e flutua no ar

A temperatura cai novamente no jardim
Entre e feche a janela fortemente
La fora só restou os desafortunados
Fantasmas em suas ultimas aparições
No implacável teatro das horas incertas


Recife,18 de julho de 2010

sexta-feira, 16 de julho de 2010

221> UMA CARTA NÃO ENVIADA

Nunca esperei esses caminhos fossem paralelos
Ao ponto de dos olhares estarem sempre fixos
E todo prazer que pude ter nunca esteve à vista
Escondido num balanço de brinquedo infantil
Ou na leveza do teu corpo sob as ondas do mar

Não importa o que saiu errado no nosso orgulho
Se o peso de toda cobrança veio da infância
Tentando ser o príncipe e a princesa desse reino
Um trono repleto de factóides fieis tão infiéis

Entristece-me ainda sua tristeza sempre velada
E nunca ter lapidado esses dois diamantes
Com a chama que você ascendeu em minhalma
Perdi a minha imagem dentro daqueles olhos
Despertando emoções impossíveis de se lidar

Acredite-me que nada estava previsto
Pelo menos pela minha ignorância
Nada posso dizer a respeito do destino
Nada mais posso fazer neste caminho
Que seu retrato nessa vida traçou

Agora tudo que dissermos virou ontem
Toda tentativa desavisada se converte em dor
E me fizeste crer mais, muito mais em mim
Marcas que resistem aos piores tempos
Marcas que resistirão a essa existência



Recife,16 de julho de 2010

quinta-feira, 15 de julho de 2010

220> O DEGRAU



Minhas lagrimas não são mais minhas
Refletem os anos que se perderam
Na nevoa da ignorância humana
Só vindo à tona no leito de morte
Após a vida parecer um sonho

Choro por todos os holocaustos humanos
Com o pesar dos que por ele tombaram
Milênios depois da hedionda hidra
Não rastejar mais nas terras do meio

Rubras manchas nos signos dourados
A tórrida espada do degrau
E a fria lamina dos espectros
Historias de servidão e vazios
Que venha o destino grau em grau

À noite esta por demais escura
Ainda estamos isolados, mas protegidos
Ate onde a única lei determina
Unidos diante da impensada cena
Lagrimas de sangue vertidas
Pelos grandes aos teus pés


Recife,15 de julho de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

terça-feira, 13 de julho de 2010

219> JARDIM DOS VENTOS ELÍSIOS

Gostava de bailar com as vestes ao vento
Um piso de mármore em formato xadrez
Delineava abruptamente a fronteira da relva
E ali se dava os mais serenes encontros
Naquele tabuleiro com pilastras nos cantos

Então se sente e ouça a sinfonia das harpas
Uma gargalhada feminina e uma taça caída
Um néctar escarlate rompeu o bi-cromatico
E na fenda pude ver os rios e vales abaixo
Imediatamente o vento selou a abertura

Um pássaro de luz vibrante se mostrou
Às vezes parecia só um foco incandescente
Seu sonoro canto causou profundo silencio
Eis o bem chegado mensageiro do sol
Gire o mundo que gira ao seu redor

No fim da madrugada tudo esta desfeito
A atmosfera agita os pessegueiros
Nós iremos mais uma vez mergulhar
Na parte mais densa desta existência
Para depois voltar ao Jardim dos Ventos



Recife,13 de julho de 2010

218> A LEI

O mar se estendia ate o horizonte visível
Revolto após chuvas quase apocalípticas
Faixas bem definidas de cores saturadas
Entulhos e argila do interior da terra
Campos de ação com um fim purificador

Muitos eram os prantos perante a lei
Ela não se comove com vosso sangue
Ela não gera nem destrói e sim recicla
Uma estrada sem acostamento nem beira
Alem dela tudo são abismo e trevas

Cavaleiros e exércitos os sagazes executores
Um cálice cheio e um crânio vazio
Uma balança que nunca pende ou se dobra
O maestro de uma sinfonia silenciosa
Bem aventurança dos famintos por justiça

Implacável, cruel, e outros falsos nomes
A grande mestra e nós seus escravos
Mistérios, fúrias e a natureza a servi-la
Assim como era no único principio
E assim será por todos os séculos


Recife,13 de julho de 2010
Aplicavel em todo o universo conhecido e desconhecido ...

sábado, 10 de julho de 2010

217> HEMISARÊ

E deles ouvi suas historias milenares
Suas glorias e suas ruínas nesta senda
Seus segredos agora são revelados
O sangue que macula e o que liberta
As lágrimas que revoltam e as de luz
Os instintos ora divinos ora bestiais

Um trono à esquerda e seus reis
Um salto para uma nova vida
Tormentos se transformam em força
Os fatos não são o que parecem
Nas memórias de um escolhido
Mas por todos escolhido

O alto preço de toda luxuria
As manchas de sangue humano
Nunca mais, nunca mais
Odiado príncipe e o pesar da lei
Preces veladas para os da luz
Recordações e lições das trevas



Recife,Meu aniversario em 2010

216> ANIVERSÁRIO NO CAMPO-SANTO

Aquele toque de ternura que todos compartilham
Cheio de mensagens de esperança, fé e gratidão
O mesmo eu que destrói sistemas e padrões
Que sempre viu de longe as formalidades humanas
Agora reconheço o brinde a nossa chegada a vida

Reencontro com aqueles que o tempo tomou
Com aqueles que vento levou
Com aqueles que o espaço nunca afastou
E sobre tudo a tão excelsa visita de um anjo
O libertador de almas a me presentear

Uns comemoram a chegada e choram a partida
E me vejo novamente com os guardiões
E me vejo novamente no campo-santo
Saúdo aqueles que trabalham em silencio
E agora vejo a ordem a todo o momento


Recife,Meu aniversário em 2010
Aos que nunca comemoraram um aniversário em um cemitério nem nunca receberam nesta data um presente do anjo da morte fica o aviso : nada é por acaso ...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

215> EM QUALQUER LUGAR

Pensamos não precisar um do outro
Mãos dadas com o novo destino
Fingimos ser tão adultos
Ao ponto de nem falar de amor
No ultimo ato não esperamos aplausos
No tato estamos vendados
Em qualquer lugar na terra

Ainda há tempo para um sorriso
Uma singela reverencia no olhar
E aqueles que deixamos para trás
Na marcha de destinos distintos
Pedaços de nós mesmo que se vão
O coração bate aqueles nomes
Em qualquer lugar que formos

A sombra que deixa a terra
Exatamente com sol poente
O corpo que deixa a alma
Precisamente com a noite
A dor egoísta dos que ficaram
Une os seres como um só
Em qualquer lugar além



Recife,7 de julho de 2010
Reflexões sobre o significado da morte no nosso tempo

214> SEGUNDO ANDAR



Uma cadeira no segundo andar em ruínas
Só o facho de luar e minha sombra
A varanda e seu grande arco dourado
Limite entre o lúdico e o urbano
Podia ver o lugar dos que já se foram

Conclusões e novas definições
Algumas emoções
Noite a fora com os enfermos
De corpo e os de alma também
Assistindo o final de vários filmes

Alguém atravessa a porta
Sei que tenho de entrar
Para assisti-los sair
Por outra porta bem diferente
Mas com o mesmo destino


Recife,7 de julho de 2010
No segundo andar em reforma esta a UTI do H. Maria Lucinda, palco do "fim de varios filmes" mas os personagens permanecem ... ao menos na minha mémoria assim como eu na deles ...

213> MONÇÕES DO NOSSO TEMPO

Olho para trás, mas o passado estava à frente
As sinuosidades sempre serão quase iguais
Espatifado após o grande encontro consigo
Usando o falho tato ao caminhar no escuro
Embriagados em lembranças inexistentes...

Procurou pelo filho, mas ainda era filho
Chorava barganhando sínicos sorrisos
Sempre o equilibrista de mundos fictícios
Mas já era tarde e chuva se aproxima
Entre e venha aquecer nossa dor

E se eu mantivesse a esperança,
Vendo a luz abandonar minha janela?
Mas o sol nem sempre vem no verão
E como um desprevenido na rua
Sou tomado por aqueles ventos

Com a alma varrida e solitária
Nu em pensamentos e idéias
Não me entregarei mais uma vez
Vendo os acontecimentos do meu tempo
Prefiro a chuva em minha face


Recife,7 de julho de 2010 (conclusão)
Tambem postado na Fabrica de Letras

terça-feira, 6 de julho de 2010

212> TEORIA DA GÊNESE DIMENSIONAL



Certa manhã acordei em um templo abandonado
Só o som de cordas harmônicas vibrava
E o universo foi reproduzido fielmente
O que era foi e será em todas as possibilidades
Um instrumento sonoro gerava mundos
Manifestações de vibrações que eram integradas
Nada era solido e nem energia possuía
Algo pulsava em intervalos determinados
Antes de existir algo mensurável

Vários horizontes de eventos se cruzavam
Varias dimensões acima se via a ordem
Um átomo não sabe o objeto que esta formando
O objeto não pode ver, saber ou sentir os átomos
Pensamentos e lembranças são codificações
Imprensas em absolutamente nada
Mais existem
E onde então existem?
E por que então existem?

Na quinta dimensão encontrei pescadores
Pesquei também um gigantesco polvo
Uma simples e frágil linha tridimensional
Quase bidimensional
Reteve o titã enquanto era apoiada em anteparos
Dando voltas sobre voltas nos rochedos cônicos
Mas sua cabeça parecia vertebrada
Algo como uma serpente
Acabou por tombar serene e previsivelmente

Mas não era tão simples
A criatura se desfez numas miríades de espirais
Algo inexplicável, incontável e incompreensível
E algo me fez retornar a terceira dimensão
E me fez ver a existência de outras leis
E me fez saber da existência de outros seres
E me fez conhecer outros improváveis mundos
E o infinito separa o improvável do inexistente
E nesse espaço residia todo o segredo

Algo espreitava neste intervalo,
Estava fora da linha, acima do plano e fora do cubo
E também não se movia no tempo
Estava alem da curva
Era um ponto, assim como o universo já o fora
Estava esperando alem da singularidade
Eis porque o caos virá estrelas
Eis porque os vazios parecem sólidos
Eis porque algo esta em tudo e tudo é esse algo



Recife(astral),6 de julho de 2010
Imagem com direitos autorais na mesma.

211> PECADO ORIGINAL

Arde em desejo de nascer e começar
O pulso primordial é o desejo de existir
Esta antes de tudo ser formado
Esta antes e ao mesmo tempo é tudo
Quero ser sempre eu e não o sou
Eu digo
Quero nunca me dividir sendo dividida
Diz a partícula

Somos o desejo de Deus por isso somos puros
Mas nossos desejos não o são
E deuses distorcidos são criados
E então desejamos ser imortais sendo imortais
Frutos de um desejo agora também têm desejos
Mas só a uno pode ter desejos
O erro primário chamado de pecado original
A fonte de todo medo e toda dor


Recife,6 de julho de 2010

domingo, 4 de julho de 2010

210> ENSAIOS DA ALMA

Angustia que desequilibra as almas
Escondida onde não se poder ver
Eis porque muitos fogem de si
Palavras não podiam esclarecer
Planos desfeitos nas redes da vida
Afogados no mar de uma existência
Incompreendida

Unidades complexas e tão simples
Partes de universo que se chocam
Em fim o que nos cegou por séculos?
A vida assume uma face terrível
Pois a luz tem seu espectro visível
Os julgamentos tem o espectro humano
Sempre limitado

Frutos das divisões criadas para explicar
Assim toda ordem parece estar desabando
E só o caos salta-nos a percepção
Quando a dualidade é a única lógica
Criando um mar de seres desfigurados
Despencando no profundo abismo da dor
Prontos para serem novamente exilados

Após anos de avisos os sábios se calam
Dias, anos, séculos, agora tanto faz
Pois nosso tempo é ainda unidirecional
Alguns médicos e tantas feridas
Nesta guerra com poucas batalhas vencidas
Separados dos demais por milênios
Estamos nós as perplexas testemunhas


Recife,4 de julho de 2010

209> PEDAÇOS DE PASSADO

Uma reunião a portas fechadas
Eu e todas as minhas partes
Um único som e uma única luz
Ídolos do passado
Ícones do presente
Todos juntos a meia noite

Procurando por sinais no chão
Fotos velhas e cartas antigas
As maravilhosas historias do meu avô
O livro proibido no quarto fechado
E tudo sobrevive na memória
Deixo tudo como esta

Cantando para a chuva
Tantos anos se passaram
Todos cresceram no seu tempo
E alguns já se foram
Não vejo mais os cães pastores
Mas escuto a cadeira de balanço
Que embalou minha infância


Recife,4 de julho de 2010

sábado, 3 de julho de 2010

208> CRÔNICAS DE UR



Foram acesos os faróis do futuro
A suméria nunca teve um mar
Deixe aqueles rios se encontrarem
Seus Deuses pareciam levitar
As mil e varias historias de Ur
Que a poeira teima em apagar

Recordações não vão nos contar
A força em uma nação inteira
Leio e releio as paginas de barro
De um lado o Genesis
Do outro os Vedas

Cidades calcinadas e a brisa do mar
Raios que descem e corpos que sobem
Ouro e servidão seria o pagamento
Ante a suprema engenharia
Mas não divina

Eles não eram deuses
Eles eram os pais
E os pais não são donos dos filhos
E no fim de tamanha heresia
O mesmo destino de Cronos...


Recife,3 de julho de 2010
Foto da web