ECOS

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Chittorgarh-India

terça-feira, 29 de junho de 2010

207> MELINA




Chegava cedo para ve-la entrar
Linda como meu mundo
Eu a via sorrir no recreio
Observando as ondas do mar

Cantigas juninas e a timidez
O destino e suas peças
O vestido amarelo,
E os seus cabelos
Dois pedaços do sol
Minha primeira dança

Toda manhã regava minha flor
Toda a noite com ela me casava
Eu acho que ela sabia
Eu só acho que ela hoje não sabe
Que a procuro desde 1981
Nos rostos de todas as mulheres
Nos mais belos sorrisos matinais
Nas varandas de todas as janelas
Em todos os contos de fada
Em tudo que se pode amar
Mesmo devendo a tudo amar

Onde esta minha Melina
Com o cabelo dourado?
De quem será minha Melina
Com o seu sorriso encantado?
Meu mais puro amor
Meu primeiro amor


Recife,29 de junho de 2010
Melina estudou comigo em 1981 em um colegio chamado Souza Leão. Foi o meu mais perfeito molde para o amor e ate hoje esta comigo onde quer que eu esteja...

sábado, 26 de junho de 2010

206> O CAMPO DAS NUVENS E O PORTÃO DE FOGO

Imerso em alvas nuvens atemporais
Esta o campo dos bem aventurados
Uma pausa para meditar e planejar
Flautas ecoam no vento etéreo
Lembranças condensam-se em gotas
Esferas que refletem nosso mundo
Lar de nossa prisão e liberdade

Um evento solene de tempos em tempos
Passagens só abertas momentaneamente
Paisagens só perceptíveis para poucos
Bem vindos ao lugar dos que já se foram
Bem vindo ao templo dos que retornaram
Bem aventurados são todos os seres
Guardiões destas lembranças

Clarões irrompem ao longe em fagulhas
Outra carruagem incandescente apresenta-se
Através da anti-materia mundos eram criados
E não estamos mais no mesmo lugar
Os raios gamas e suas novas cores
Todo o receio do portão de fogo
O único fim possível para a alma

Em verdade quem vê é a mente
E como ver o inconcebível?
Um fóton não percebe o raio de luz
Mesmo o raio no qual ele pertence
Somos uma pincelada no imenso quadro
Que nem mesmo podemos ver
Ironicamente o definimos como caos

O artista maior não é impessoal
Sua pessoa transcende para sempre
Nossos traços tão grosseiros
Lembro dos escritos nas paredes
Ainda vejo o distante mosteiro no Laos
Toda fuligem dessa dimensão que cega
Toda a inevitável dor que nos cerca


Recife, 26 de junho de 2010

205> AURORAS

Quem sabe ondes as estradas se cruzam
Onde os corações batem juntos
Onde a luz do sol é uniforme
Quem dirá o caminho a seguir
O caminho de volta para casa

Agora um novo dia acaba de nascer
Multiplicado por impressões sensoriais
A lógica se torna parte de um jardim
Multicolorido
Mas o inverno acabou de chegar
E agora varre as folhas secas

Percorrendo os campos que sonhei
As florestas que plantei
As flores que reguei
Eu me lembro
Eu me lembro
E como haveria de esquecer
Todas aquelas auroras

Se virem e voltem para a luz
Antes da cegueira e da escuridão
Estas estepes são tão solitárias
Durante toda a noite
Durante toda uma vida


Recife,26 de junho de 2010

segunda-feira, 21 de junho de 2010

204> LEGADO DA ULTIMA QUEDA





Eclipsado dos observadores da via láctea
Estendido em um largo de estrelas
Vinha a lembrança do antigo lar
Humanos no lindo bosque sideral
Alguém cantou aquela canção
Típica dos que não estavam aqui
Conheci-vos a fim de amá-los
Suas paixões de magnitude avassaladora
Eis que são bem conhecidas no universo

Em todos os sinais que deixamos
Na ultima vinda dos astronautas
Agora quem irá me decifrar?

Estenda a mão e abra a mente
Como podemos não amar
Mesmo afogado por esse mal
Se eles foram nos assentar
Corpos não feitos para durar
Depois da ultima das quedas
Algo para sempre se lembrar

Os senhores que me deixaram
As chamas que nunca apagam
Tambores que ainda vibram
No sono me vejo a partir
No espelho vejo uma criança
Nem sempre a sorrir

Os dois filhos da mesma casa
Seus holocaustos e suas grandezas
Suas historias mal contadas
Agora que o fim se aproxima
Regido pela orquestra silenciosa
E nessa nova estrofe
Nós que os veremos partirem



Recife,21 de junho de 2010
DEDICADO a Giselle Itria em conversas de uma natureza não terrena ...
Pintura de Jan Boeckhorst

sábado, 19 de junho de 2010

203> ENTRE VALES

Duas arvores prismavam os raios solares
Equilibravam o ininterrupto vento serrano
Do alto da colina via-se os dois vales
Ouvia-se se um antigo puja indiano
Obviamente alem dos pássaros

A noite era mais profunda
E os dias mais suaves
Os sonhos tão reveladores

O espírito se erguia entre as paisagens
Tudo parecia mais distante
O ar azul a terra verde e o sol ouro
Uma alquimia ainda presente
Eis meu novo portal
Eis o novo lar de minhas lembranças

A leste os homens eram devoradores
A oeste as estradas perdiam-se sem fim
A salvo de tudo e, sobretudo de si
Escreviam-se os novos capítulos
E os mais belos
Planos de um novo mundo
O sentimento floresce como jasmins
Preparado para perfumar a nova era
Estável para vencer a única guerra


Gravatá-PE,19 de junho de 2010

quinta-feira, 17 de junho de 2010

202> CASTELOS FALIDOS

Derramem todas lagrimas invisíveis sobre nós
Todos os sinais, profecias e profetas
Todos desprezados e esquecidos
Celebrem o império dos sentidos
Erguidos pelas sombras do ego coletivo

No passar dos séculos a verdade se perdeu
Selada onde nunca ousamos procurar
A pseudo-lógica holográfica do exterior
Vejo o umbral poeirento e frio
Lar das nossas melancólicas consciências

O inverno atinge seu ápice, pois tudo se move
Promessas apocalípticas, ansiedade inrevelada
O aroma da primavera nem todos sorverão
Ocaso das obras humanas e seus castelos falidos
Saltem a janela e venham ver um novo sol


Recife,16 de junho de 2010

quarta-feira, 16 de junho de 2010

201> ISHVARA

AQUELES NEUTRONS ERAM O SORRISO DAS ESTRELAS
PULSANDO COM SEUS EIXOS ALINHADOS
A LEMBRANÇA DE UM PASSADO MAJESTOSO
SERES MAIS ANTIGOS QUE O TEMPO
AS TESTEMUNHAS DA CRIAÇÃO DO PRAKRTI
NOSSOS CORAÇÕES REPETEM AQUELA MUSICA
ASSIM COMO TODOS OS ATOMOS

MAIS UM DIA PERFEITO NO UNIVERSO
NO LIMIAR DE NOSSAS IMPERFEIÇÕES
A PARTE SO CONCEBE O TODO COMO PARTE
VEJO A NEBLINA NA ESTRADA DA MONTANHA
E LA VEJO OUTROS SERES DESPERTOS
A SOLIDÃO DERRETEU-SE COMO AS DEMAIS ILUSÕES
E AGORA QUE SOU NADA, SOU TUDO


Recife,16 de junho de 2010

segunda-feira, 14 de junho de 2010

200> ALFA

Uma diagonal determinava o canto
E foi assim na primeira vez
Não estou desiludido a esse ponto
Mas tudo parecia inevitável
O semblante que encontrei
Quando não mais procurei

Como Deus foi tão Deus
Ao delinear o que chamamos Amor
Ao abrigá-lo dentro de nós
Os solitários tão bem acompanhados

Como na infância tudo recomeçou
Será que ela brincará comigo?
Ou será que estaremos na ultima valsa?
E os passos seguem bem medidos
Em direção ao desconhecido...


Recife, 13 de junho de 2010

domingo, 13 de junho de 2010

199> UM TANGO PARA HELENA

ENTÃO AS IMAGENS FLUIAM 102 ANOS DEPOIS
DOS PRIMEIROS SUSPIROS DO SECULO VINTE
SEDADA ELA DORMIA AS NOITES EM CLARO
BAILAVA COM SEUS MEDICOS DIVINOS
ÀS VEZES BAILAVA COMIGO..
GALOPAVA COM O VALENTE MESTRE
CAMPOS FLORIDOS
VIDAS FLORIDAS
FLORES QUE AMPAROU
FLORES QUE AMOU
TODOS VIERAM PARA O ULTIMO ADEUS
TODOS ACREDITARAM QUE SERIA O ULTIMO
E NÃO A VIAM SORRINDO,
NEM GALOPANDO,
NEM BAILANDO
É ASSIM QUE ME RECORDO
DAQUELA LUZ
NAQUELAS NOITES ESCURAS


Recife,13 de junho de 2010
Dedicado a Maria Helena Pereira que deixou esse mundo aos 102 anos sob imenso protesto dos que deixou... Uma porta se fecha para outra se abrir ... Em outro lugar !

sexta-feira, 11 de junho de 2010

198> AZUL TURQUESA

PEIXE, IGUANAS E SEPENTES TODOS AZUIS
SEMENTES TURQUESA DAS PLEIADES
UNS MORTOS E OUTROS FUGINDO PARA O MAR
O IMPERDOAVEL LAPSO DO ZELADOR
E ASSIM NADA FICOU NOS REGISTROS

AQUELE BRILHO INDIGO TÃO DESAFIADOR
EMFIM OS FILHOS DO SELO DE SHIVA
CAMINHANDO EM UM OCEANO INTOLERANTE
OLHOS DE AGUIA PARA TUDO VER
OS ESTRANHO ENTRE OS ESTRANHOS

VEJO ESPUMAS NAS PRAIAS DE METANO
QUATRO ESTRELAS AINDA NOVAS
A QUINTA POSSUIA O MAIS BELO CRISTAL
REFLETIU NOSSAS ALMAS IMPERFEITAS
IMERSO NO SEU CAOS A NOVA PROMESSA



Recife,10 de junho de 2010

197> ODE A LAODICÉIA

EIS QUE ELE CHEGOU ATORMENTADO PELO TEMPO
COMO UM RAIO ADENTRA O RECINTO AINDA ESCURO
TROUXE-ME DE VOLTA A SEMENTE QUE PLANTEI
O FIZ TALVEZ POR PRECISAR DE CERTEZAS EXTERNAS
O PESO DE SABER SER IMORTAL NO TEMPO MORTAL
O LIMBO DE NÃO SER PERFEITO E NÃO SER MAU
ALGUNS EXISTEM, PERCEBEM E ALGUNS DIFEREM
QUANTOS DEMONIOS SE ATIRAM NOS CRUZAMENTOS
E OS MERGULHOS NOS INFERNOS DA CONSCIENCIA

AQUI ESTOU, AQUI ESTAMOS E AQUI FICAREMOS
E ONDE ESTA O SUOR E FRUTO DA MISSÃO
E ONDE ESTA A VERDADEIRA CLARIDADE
A PAZ DE DE ESPIRITO QUE NOS FOI ROUBADA
O CONDOR DOS ANDES OBSERVAVA OS SEUS
ESSAS PALAVRAS NÃO IMPORTAM MAIS
ESSES DIZERES JÁ NÃO CONSOLAM MAIS
O MUNDO COMO CONCEBEMOS DEIXOU-NOS
PAREI PARA OLHAR MINHA SOMBRA E ME VI

ALISTAREMO-NOS NOS EXERCITOS INVISIVEIS
NÃO SERÁ MAIS PERMITIDO USAR ESPELHOS
NÃO SERÁ MAIS PERMITIDO USAR OS OLHOS
A TOCHA QUE QUEIMA SERVIA PARA ILUMINAR
QUEIMAR É APENAS OUTRA ILUSÃO DE PODER
O COPO CHEIO E PESADO JÁ NÃO SERVIA
CHEIO DE NOS MESMOS E DE SABEDORIA
VIVEMOS E DORMIRMOS COM VARIOS EUS
AO INVEZ DE BATALHAR POR UM SO DEUS


Recife,26 de maio de 2010

196> RIO DA NÉVOA FOSFORESCENTE

Vamos amanhecer meu bruto diamante
Não sei como desertar destas fileiras
Um salto para longe desse inferno
Posso ver sua luz
Desejos de vidas distantes
Estenderei tapetes moveis
Uma rosa cobre as cicatrizes

Falavam em línguas estranhas
Nunca antes vi minha sombra
A pele fria em um corpo inerte
Como saberei se ainda estou vivo
Mas esperarei a hora de partir
Sem mentiras, contos e ilusões
Só ondas em um oceano seco

Daria minha vida de bom grado
Aquela nevoa fosforescentes no rio
Após o lago restrito para os viventes
Minha metáfora e meu Tilmun
Todos os meus mundos iluminados
Emanando pensamentos tangíveis
Agora habitarão todas as morada


Recife(astral),12 de maio de 2010

195> CAVALEIRO DA ESTRADA SEM FIM



Observando atentamente as historias incontadas
Vejo todo um universo em uma fugaz bolha
Muros circulares como cercas vivas francesas
Decifráveis apenas pela altitude na perspectiva

Alguns sonhos são tão coletivos e repetitivos
Alguns são tão furtivos e singulares
Mas na totalidade rabiscos e ensaios poéticos
Retocam a pintura dourada das nossas vidas

Antes de adormecer alguém cerra os olhos
Mas a realidade continua desesperadamente
Agora apaguem as luzes e deixem a musica
Verei o céu explodir o telhado limitante

Muito já foi dito sobre a solidão que nos cerca
Algo pueril como o medo do escuro e da noite
Algo pueril que cria cruzes sem respostas
Maniqueísmo impõe uma felicidade coletiva

Posso sentir a organicidade das obvias reações
A mente dança entre os variados sentimentos
Vejo módulos que se movem de pessoa a pessoa
Depois escutar aquelas femininas vozes na noite

Quando possível é melhor sorrir e nunca mentir
Resgatando a ancestralidade das experiências
Atravessar a negra noite de olhos fechado
Exercer o direito divino a ter outros sentidos

Do alto da cela de veludo a passo de galope
O horizonte é mais distante e o mundo mais rápido
Do amanhecer da minha alma a passos lentos
O mundo é mais simples e a vida mais bela


Cavalgadas atravez das diversas "noites" ...
Recife,11 de maio de 2010

194> NOVO MUNDO

Era comparável as grandes descobertas
O peso do entendimento mais elevado
Um clarão irradiava nos umbrais
A auto-vitoria parecia agora possível

Em nome da pureza do coração
Pálpebras cerradas, mas a visão da alma
Um lapso de tempo inesquecível
A historia nunca mais seria perdida

Uma carta ao casal real espanhol
Cálice de ouro em forma de serpente
Alguma anotações vivas incompreendidas
Os tesouros da firmeza da vontade

E seguiram-se os anos e os séculos
Todos teus testemunhos e teus súditos
A luz que irradia um novo mundo
Foi nesse primo dia teu candelabro

Pirâmides de ouro e linhas espaciais
O pólo desloca-se para o sul
E teus ideais de novo viverão
O destino não discute seus propósitos

Deixe que o mundo gire e gire
O epicentro que tremerá as nações
Para em um dia como aquele foi
Ver a chuva lavar nossa lagrimas


Recife,8 de maio de 2010

193> ANDARILHO

Sempre fazemos as perguntas erradas
E perguntas só levam a mais perguntas
Muitos foram os que fugiam da noite
Alguns decidiram pelo veludo escarlate
Com todo aquele sangue na lembrança

Aquelas montanhas que nunca vi
Era tão minhas quanto deles
Braços estendidos nos campos
Embriagado pelo perfume de lavanda
Ligado aos acordes frios do Cáucaso

Do deserto eu amava quando o sol caia
Do pólo norte eu amava as auroras
Das estações adorava a linha indefinida
Entre outono e o inverno
Outro sublime caso de amor

Corria e sempre correrei fugindo
Do tempo que resseca a carne
Imobilizando o que antes era móvel
Tudo somente atingível por um sopro
De pensamento que nunca se apaga


Recife,6 de maio de 2010

192> COCHEIRO





OUTRO SABADO CHUVOSO NA MINHA VIDA
MAS UM MOMENTO EM OUTRO TEMPO
SEM SAUDADE, MAS TAMBEM SEM NADA
LEMBRO CANÇOES ANTIGAS JAPONESAS
AS PONTES QUE NOS LIGAM A NÓS
A RAREFEITA LUZ NATURAL DO RECINTO
CLAREIA A MENTE COMO TOCHAS
TODOS OS ANEIS DOS PLANETAS DISTANTES
TODAS AS ALIANÇAS QUE NÃO USEI

SORRISOS QUE OS LABIOS NÃO MOSTRAM
LAGRIMAS QUE O OLHAR ESCONDE
MEMORIAS QUE O CEREBRO NÃO ENTENDE
GESTOS QUE AS PALAVRAS NEM CONHECEM
ONDE DEIXEI MINHAS ASAS NESTA CASA?
E QUANDO DELAS DEIXEI DE PRECISAR?
OS PASSAROS CATIVOS AINDA PODEM VOAR?
AGORA OS PES DOEM E CORPO PESA
O SENSORIO SE ENCHE DE DUALIDADE

A CHUVA INICIA A QUEDA DAS ALTURAS
ASSIM COMO OS ANJOS CAIRAM
ASSIM COMO NOS CAIMOS
AGORA OLHOS ATENTOS NOS ASTROS
OLHAR O CÉU EM REVERENCIA SUPREMA
COM O PESAR DE UM SENSO DE JUSTIÇA
QUE NÃO SE PERDEU NAS MIL GERAÇOES
EM NOME DE UMA HISTORIA INCONTADA
EM NOME DA NOBREZA DO CORAÇÃO


Recife,17 de abril de 2010

191> OUTRA ESTAÇÃO

Na mesma linha, mas bem distante
Outro segmento surge do fim da noite
Pessoas dizem e só dizem
Dias solitários no ponto das chamas
Hora de ser para sempre

Sombras que não nos cobrem
Batalhas seguidas de deformação
O vento que se vira e volta
Outra primavera sem flores
Hora de deixar a luz entrar

Quase certo como estou aqui
Exato como sol que brilha
O afastamento não é um sonho
E o ocaso não será multicolorido
Mas o que é um sonho?


Recife,17 de abril de 2010

190> RODA DA FORTUNA

Referencias que se apagam na linha do tempo
Bases abandonadas em um velho saber
Raios que se cruzam no céu e na terra
Ansiedade e o medo a cada novo giro
Tremores não mais sentidos a beira do leito

Como locomotivas de puro vapor mental
Tudo segue seu fluxo a menor resistência
Levantem-se os opositores das leis
Guias infactíveis no caos e nas revoluções
Teu futuro em sangue e concreto desarmado

Corram como as crianças o fazem
Acreditem como os amantes o fazem
Encontrem-se como os sábios o fazem
Abracem tudo que os braços não alcançam
Em fim o salão nas nuvens onde todos riem


Recife,24 de março de 2010

189> DAIGORO




Atravessando um raio de luz no meio
Entre o que sobrou da minha infância
Entre as revoltas águas e as labaredas
Das montanhas ate Edo
E de lá ate o inferno

Contos tão falsos naquela zankanjo
Deixe o yomi para minha mãe
Sou do meifumado
Sou do meu pai
E com ele ate o inferno

O código inflexível como a dotanuki
Segredos do berço e do carrinho
Suio ryu técnica Ross posição media
Que venham e que se vão
E sem norte ate o inferno

Eis as lembranças que flertem a lamina
Eis as lagrimas no olhar do guerreiro
Um pai conhece o coração do filho
Como só o filho conhece o do pai
Um estranho não entenderia...


Recife,17 de março

188> TREM DE URANO A NETUNO

Segui vigiado de urano a netuno
Em meio a essas bênçãos eu fui
Outrora uma criatura da noite
Não foi fácil
Não sei dizer


Costumava olhar o passar das horas
Essa era minha vida e minhas pinturas
Ainda ouço aquelas canções solitárias
Ainda vejo aqueles distantes olhos
Tão negros e tão perdidos


Agora que as estações mudaram
Agora que eu as mudei
Eu também amei
Amei


Violinos e a musicalidade do inverno
Ainda estava frio quando sai do sul
Encaro todas essas lembranças
Ainda sinto o pulso mais cheio
Chorei


As estradas estão mais retilíneas
Não se vê mais suas sinuosidades
Os anos levaram aquela fome
Vejo meu reflexo no trem
Sorrindo antes de partir


Recife,10 de março de 2009

segunda-feira, 7 de junho de 2010

187> ALMAS DA NOITE



Do antigo banco na encruzilhada dos caminhos
O velho semi-translucido senhor observava
Toda a celeridade de todas as almas da noite
Vividas como a muito não se tinha noticia
Sentia-se o odor da batalha vindoura

Falava-se no mais unificado código astral
A linguagem dos agentes e almas da noite
Alguns faziam sombras outros chamas
Vejam as múltiplas legiões em colunas
Longe o portal da lua do Nilo esperava

Alguns hieróglifos foram as vozes
Únicos registros do evento magistral
Um templo perdido nas areias do tempo
Onde outrora reis abrigavam-se no vale
Uma egregora ainda tão presente

A lembrança de um ancestral
O calor e ardor do momento
E o imutável passar do tempo


Recife(astral),29 de janeiro de 2010
Foto da web

186> A DANÇA DOS DESEJOS REAIS *

Os reis das mais longínquas nuvens
Seus desejos flutuavam noite a fora
Contavam historias perdidas na vastidão
Perto dali como uma aparição
Um manto negro aveludado
A bainha da espada e o elmo de bronze
Olhos de puro rubi saltavam a nevoa
O ar saturado de saudade
O espírito cheio de vontade
Observava o cavaleiro no vale abaixo
Cavalgando a noite e o coração
A rosa branca indicava o caminho
A rosa branca refletia o luar
O aroma de carvalho e o sabor do sal
Suor e relva unidos ate o céu tombar
Algo estava em suas mãos
Alheio aos poderes que o espreitavam
É claro que ele não olhava para trás
É claro que era quase meia noite
A escuridão camuflava as sombras
Nos encontraremos na próxima encruzilhada
Elas diziam ao mesmo vento norte
Um imenso corcel negro surge
Rasgando em ondas sonoras o ar
Rasgando o plasma das nuvens
Uma espada flamejante no alto da colina
Cortava o espaço entre os dois mundos
Uma a uma as sombras submergiram
Seladas com o lótus real
O cavaleiro na estrada cego em determinação
Ignorava o mundo dentro do mundo
Tudo transcorreu conforme a realeza
O reinado oculto governa
E sempre governará..


Recife(astral),3 de fevereiro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

185> LAGRIMAS PARA MABUS

A cada vez que procuro por um sonho distante
Vejo lentamente um rio atravessar meu caminho
Sorrisos e faces desfazem-se em longas ondas
Pálido no céu espero por todas as promessas
E cada momento belo nesse berço de morte
Onde jazem as crianças dos nossos corações

Faço uma prece à grande força do céu
Por outra vinda entre estes dois mundos

Pai
Desde que voltei do Hades
Desde os antigos votos
No tempo de Mabus

Pai
Mil e poucas lagrimas dos anjos e estrelas
Lavaram as feridas de uma antiga alma
O capuz negro e braços líquidos

Pai
vi os que despencaram do alto
Mundos bem diante de nos
Os adormecidos do antigo orbe

Pai
Morreria tantas vezes ate saber
O abraço que me levou
A benção que me salvou

Em todos os lugares serei dos primeiros
Pois os degradados serão os segundos
Então no ato final dessa peça espiralada
Olhares dirão o que as palavras escondem
Palavras serão ditas em símbolos
E não serão ditas em vão...


Recife,8 de março de 2010

184> O REINO

Letras em chamas do velho idioma hebreu
Apagarem-se em um novelo de serpentes
Toquei o livro das incontáveis paginas
Como por encanto pude ler o selo do filho
Falava da divina matemática de seu reino
Pequenos intervalos separam 1641 do 1358
As lagrimas jorravam como uma fonte
As águas que formaram um rio
Um rio que corre para o coração
Um coração que pulsa para o sol
Um sol que aquece os desertos
Desertos que nos mostram
A beleza dos teus Oasis


Recife(astral),27 de fevereiro de 2010

183> APARIÇÃO

Lilith, a noite e seu brilho
No alto a lua e seu diadema estrelado
Um laço que gira e envolve
Lendo a conjuração dos quatro
Ainda que se comunique comigo
Quem sois?
Santa Catarina e o fruto maduro!
E ela tão sozinha disse-me:
“Escolha aquela velha casa
Com pétalas no jardim
E com fontes cristalinas”


Recife(astral),21 de fevereiro de 2010

182> MARCO POLO

Quis unir todas as estrelas em uma só
Um céu de um único brilho polar
Mares revoltos e mares de Mármara
Reflexos do meu ímpeto e do meu destino
Na sonoridade dos tambores e citaras

Entre o Cáucaso e Takla Makan uma linha
Cavalgo a noite estrelada e imantada
Ligo o destino conhecido ao desconhecido
Tudo começa com um irresistível chamado
O vento sopra minha alma nesta jornada

Todos que deixei na terra dos césares
Todos os sonhos com distantes lugares
Agora são todos meus lares

Tomei da pena e contei historias incontadas
Eis que então eles lembrarão meu nome
Eis que jamais esquecerei seus nomes


Recife,16 de fevereiro de 2010

181> ULTIMO CÁLICE

Quase nas asas de março
Lembro do amor e do inverno
Atordoado em dissabores
Pequenas e profundas lembranças
O sabor do primeiro beijo
E o esquecimento do ultimo

Saúdo uma nova primavera
Que promete vencer o inverno
Aqueço-me em antigas fotografias
Conheço bem aqueles dizeres
Ofereço ao mundo esse fruto
Nascido do abismo do meu ser

Ergo o cálice de minha juventude
Na superação de todo esse mal
Algo que não mais provarás


Recife,27 de janeiro de 2010

180> OS ULTIMOS DIAS *

Nos meus últimos dias de vida percebo
O pássaro atravessa a rua como sempre o fez
Em um majestoso vôo na pequena distância
Vejo seres que lamentam e evitam a travessia
Um sol que espectrava entra a luz e o calor
Formas que espectravam entre o medo e a dor
E sorri sozinho sobre tanto maniqueísmo
Os milhões de tons de cinza eram ignorados
Perdidos no poder visual do preto e do branco
E quem é totalmente mau?
E quem é totalmente bom?

Às vezes vejo paredes feitas de sonhos
E às vezes podia ate voar
Muitas vezes cai
Algumas vezes sorri
Mas todas às vezes estive sempre ali
E nenhuma vez perdi
A vontade de voar

O que restou e o que ficou afinal?
Quem serão aqueles no funeral?
E os reais motivos dessa aventura
Todos os choros e gargalhadas
Todos os sonhos e desilusões
Despertaram um gigante que dormia
Então o velho descama e muta
Assim saberei que nada é em vão
Que não foram lagrimas na chuva...


Recife 27 de janeiro de 2010

179> PRIVAÇÃO

E um impulso faz calar o iminente soluço
Não é certo alterar novamente o curso
Ao som de enormes lustres de cristais
Em queda livre dentro do meu ser
Nem sempre se tem tudo a se ter

Uma luz que se apaga restando a penumbra
Não mais aquela fria escuridão de outrora
Mas ainda se podia chorar sem lagrimas
Não mais pela dor eu era agora guiado
Apresento-vos o perdão meu novo norte

Clareia mais um destes dias nublado
No meu porão o passado esta selado
Após as confusas e incertas noites
A certeza que de algo fui privado
A convicção que submergi no tempo


Recife,17 de janeiro de 2010

178> INFINITO CAMINHO DA ALMA




O vento soprava macio e continuo quase sussurrando
Murmúrios e lamentos que já não importam mais
Seu frio não mais congela meu coração
Sua força não mais assola meu espírito
A memória daqueles deturpados anos enferruja
Oxidando tudo que agora vive no passado
Imantando tudo que agora chamo de presente
E cada vez mais coeso ante ao iminente futuro

Vozes, faces, imagens, sonhos agonizavam
Num ultimo esforço de manter seus feudos
Como os últimos suspiros de alguém que jaz
Eram desligados um a um das ativas sinapses
O peito vazio como uma taça agora límpida
Refletido os momentos impregnados no livro
Um dia isso tudo fez tanto sentido, e por anos!
Como se o tempo de fato importasse
Como se eu soubesse o que é o hoje...

Do alto dos alicerces que eu mesmo construí
Vislumbro o próximo vale a próxima jornada
Alem dos escombros descartados do meu ser
Difícil entender o que não se precisa entender
Certas leis são mesmo imutáveis e isso basta
O universo apontava os rumos nas estrelas
Aquela maravilhosa dança dinâmica dos astros
Sempre aguardando um novo dançarino
Dar os primeiros passos rumo ao infinito


Recife,13 de janeiro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

177> FÁBULAS DA TERRA E DO AR *

Morgana
Apressadamente veio do leste
No ultimo rodopio do vento
Em seu tapete escarlate

A areia despejada em jatos na face
Não impediria a visão de seu sorriso
Eram flautas ou outra miragem sonora
Gerou frio epigástrico no tórrido calor
Agora coberto pelo manto da noite
Preto e prata

O Senhor das areias
A força do seu elemento aqui presente
A inconfundível caravana nas dunas
Mesclando os vários tons dourados

Às vezes ele olhava para o alto
Instintivamente sabia que era observado
A pele em brasa os olhos em fogo
Movendo-se sempre e a todo o momento
Dentro do visível reino do dia
Vermelho e amarelo

O ar e a terra em complô magistral
Fugiram do fogo que traiu a água
Pois no deserto estariam sempre unidos
Sem se tocarem e pouco se vendo
Mas sentindo-se plenamente
Completando-se no éter


Recife,10 de janeiro de 2010

176> ALÉM DO SÉTIMO CIRCULO



Eis o grande braço que me sustenta
Impedindo a iminente queda no abismo
Dentro e fora emanava por toda parte

Corria os campos ceifando o que devia
Com furor transformava em sangue
As lagrimas dos últimos lamentos

E dos vales estabilizava o instável
Mantendo fixo o que era então volátil
Assim o suor era mantido por mais suor

Voltava das montanhas tão ameno
Maternalmente retransformava sangue
Nas lagrimas do primeiro choro

Retirava, mantinha e dava vida
Iluminava, clareava e escurecia
A dinâmica, o equilíbrio e a estática

E salve o povo de cima
E salve o povo de baixo
E salvemos nós o povo do meio

Mil séculos depois do ano mais longo
E um milésimo antes do inicio de tudo
Fez das ondas o que chamamos tempo


Recife,7 de janeiro de 2010

domingo, 6 de junho de 2010

175> MINHA LEMBRANÇAS IMEMORIAIS *

Cruzando as imagens de longicuos campos
Os olhos cansados não serviam ao intento
Não os mesmos olhos...

Rajadas eletrificadas e sutis tremores
As mãos não mais firmes
O semblante imóvel e fixo na imagem
Congelando os segundos tornados infinitos
Cinco sentidos e outros mais agora te servem
Em um aparelho preparado para esta natureza

E como um veio de água enchendo o solo
Sulcado e seco como as marcas da vida
A vida novamente apresentou-se no Oasis
Tomando cada gota de orvalho da noite
Transformando em suspiros uma a uma
As nuvens dispostas em mandalas
Não eram as únicas testemunhas.

E assim me fora revelado pelo mensageiro
A historia daquele momento imemorial
Fragmentado e jogado no sonho coletivo
A verdade em pedaços a cada noite...

Saber e fazer parte de todo sincronismo
Pode às vezes perturbar e secar a alma
Medo e privações dominaram os sonhos
Como um leito seco de rio na alma
Morrendo no cinza da saudade
Da alegre corrente que outrora jorrava

Mas existem outros córregos e outras águas
Aquelas também ainda existem
Como a esperança também se esconde
Nas profundezas do solo ou do ser
O amor é invisível as feridas que cura
O amor é sempre amor
Nem mais nem menos
Tão indefinido e tão completo.


Recife,5 de janeiro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

174> AFÉLIO

Quão longe fui para melhor ver o que estava perto
Ouvir dos outros o que minha pueril mente dizia
Quantas fantasias distorceram meu verdadeiro eu
E os obscuros pensamentos buscando a pureza
Vagando na noite das inominadas sombras
Esperando a primeira luz da manha antes de deitar
Longe de tudo e tão perto do nada
Buscando alguns fragmentos de mim noutros olhares
Perdidos

Um labirinto com mil minotauros famintos
Fui como um andarilho invisível nas trevas
Mas bem visível a algumas bestas legionárias
O coração sendo a única e fiel bussola
Lições do alem e seus maravilhosos desígnios
Magistrais e elaborados planos dentro de planos
O retorno trará novas cores na primavera
E tudo se torna memórias


Recife,3 de dezembro de 2009

173> FOGO DIVINO *

Encontrando o que não quer ser encontrado
Cantando o que foi a muito esquecido
A visão obstruída naqueles cabelos negros
Transporto-me para a minha doce ilusão
Pedaços de sonhos condensam na janela

Deixei todos meus livros não lidos
A lua se encheu da sua ausência
E naquele sonho teu era eu na porta
E aquela era minha filha em ti
E você sussurrou uma bela canção

Um sorriso me alimentava
Um silencio me destroçava
Meu destino de Prometeu
Na tua estrada de Morfeu


Recife,3 de dezembro de 2009

172> ENTARDECER *

Por aqueles que ficaram nas estradas da vida
Plantei rosas para sempre lembrar
Como o ser humano é belo e frágil
Como seca e floresce em ciclos
E aqui estou com meus espinhos

Seguro mãos tremulas antes que eles voltem
Estranhamente subjugados pelos Jovianos
Após o quinto agora girar em fragmentos
Como posso ignorar o que há sob nossos pés?
E La estão eles com seus inimigos

Dor e medo tornaram em trevas o mundo
Perderam-se muitos pela mão do orgulho
Alguns preferiram um sono profundo
Olhando para o chão com sangue derramado
Esquecemos de olhar para o alto celeste

Procuro uma sombra para ler os Vedas
Decompondo todas as vibrações da luz
Vejo kali no intervalo das freqüências
E uma infinita teia em todas as coisas
Eis porque acredito no que acredito.


Recife,22 de novembro de 2009

171> COISAS SOBRE NOSSO TEMPO

Eles desperdiçavam a vida esperando
Tantos esgotados ficavam para trás
Dizendo coisas sem sentido
A vida seguia insana sem parar
Passava por aqui, passava por mim
Mergulhava no fim da linha azul
Rodeando o globo cheio de sonhos

Esses pensamentos não são do nosso tempo
Essas infinitas estrelas também não
Mas as idéias são mesmo imortais
Mas o brilho é mesmo tão atemporal

Mirando o horizonte e o coração partido
Escuto as rajadas de vento e o silencio
Simples fatos ainda me são estranhos
E o jogo da vida me parece tão claro

Eles enfim conseguiram achar água na lua
Eu encontrei alguns dos meus caminhos
Alguém viu um fantasma ao meu lado
De fato em alguns finais ninguém acreditaria
Um anjo justamente para os descrentes
E outra flor somente para os ausentes


Recife,14 de novembro de 2009

sexta-feira, 4 de junho de 2010

170> BEM ALÉM DA VISÃO

Respirei o ar carregado a som dos trovoes
Respondo a todas as perguntas a mim externas
Às vezes o sol se torna minha lança
Quando tudo se enche de fogo etéreo
Nosso tempo assume proporções épicas

A espera silenciosa e necessária a luz
Amigos em sonho vêem do passado
Acordados pelo medo estar atrasados
Os espectros tomam distancia involuntária
Desaparecendo em explosões elétricas

Olhando as maravilhas do céu iluminado
Sentindo na pele os tremores telúricos
Atravessando o vale da segunda morte
Lavando os três frutos em água cristalina
Enfrentando de vez as três serpentes


Recife,11 de novembro de 2009

169> DIA DOS ESPIRITOS *

A águia de duas cabeças cruzava o infravermelho
Numa sonora atmosfera separada desta dimensão
Pude ver os raios que emanavam do meu rosto
Refletidos nos outros cavaleiros da liberdade
Pensamento firme e indivisível alem do portal
O céu não era aqui, mas salvação não estava longe
O brilho das lanças de rubi e das espadas de safira
Cinzas e farrapos soprados pelos redemoinhos de vento
Ondas eletromagnéticas paralisavam tudo ao redor

A verdade era mesmo o seu signo fixo no punho
Mas eles não fugiriam ao confronto jamais
Os sombras viriam nas mais diversas formas
Desorientados pelos dispositivos elétricos
Ou pelo reflexo do sol contido nos nossos olhos
As velhas fardas caquis e os velhos emblemas
Então amigos é chegada a hora de partirmos
Deixando estas paisagens de faces petrificadas
De volta à superfície de uma noite estrelada.


Recife(astral),2 de novembro de 2009

168> CIRANDAS ANTIGAS

Olhei-os com o canto dos olhos
Na verdade evitava qualquer contato
Cada passo e gesto dado reportavam-me
Aquele sorriso

Existiria um lugar milhas daqui
E ao mesmo tempo tão perto
Onde o coração em seu bater
Fosse como o das crianças

E apenas toquei seu braço
Cerrei os olhos e imaginei
Toda ternura passando por mim
Como cirandas antigas


Recife,2 de novembro de 2009

167> DOIS SONHOS

O encontro de dois afluentes era admirado
Aquarela das águas em suas cores distintas
As nuvens descreviam a forma de um olho
Como se o divino resolvera espreitar-nos
E fomos tão ao norte só para testemunhar

Aquela lua que talvez não fosse bem lua
Teimava em não estar imóvel sobre o mar
Discordando de sua orbita e de minha lógica
A caixa de botões simples produzia o som
Levá-la-ei ao corcel ate poder encontrá-los

Após saber de tudo o que direi ao acordar?
Eles preferem as revelações pela manhã
Mas levam-me ate minha única amada
E assim projetam a ausência de alguém
E assim deixo registrado o que esta além...


Recife,27 de outubro de 2009

166> CONTOS DA GUERRA OCULTA *



No espaço onde toda essa dor se encontra
Na fronteira deste orbe assolado pelo medo
E os insurgentes nas profundezas oceânicas
E nos só tentávamos achar nosso caminho

E se todo esse medo instigado apagasse?
E se víssemos pedaços de deus em todos os olhares
Exatamente no brilho da luz refletida da retina
Ainda haveria motivo para tanto ódio?

Demorei a ver o quanto eram organizados
Envolvido nos revoltos mares da vida
Enfim pude perceber algo alem de meus desejos
E bem acima no prateado lunar também me viam

Ergam os braços e protejam o rosto das fagulhas
E quando o chão afundar roubando o equilíbrio
E na queda o sol se tornar escuro privado da luz
Estarei onde deveria estar e todos saberão

Solidão me assusta mais que a morte indesejada
Futilidade ainda me irrita mais que a maldade
Estas são palavras do mais novo guerreiro secreto
Que sonhava com luzes no bosque das amoras...


Recife,26 de outubro de 2009

165> 4 DE COPAS




Lembrei de você tão linda naquela noite
Toda vestida de lua
Exalando o perfume das mais delicadas flores
Enquanto refletia a aspereza no olhar,
Algo impaciente

Recuei um pouco a fim de vê-la mover-se
Com sua típica e apaixonante altivez
Mas com os passos mais pesados
Traduzindo uma resistência inercial
Ao movimento e as mudanças...

Tive medo do seu olhar se perder no vazio
Mas desta vez só evitavas inconscientemente
A minha leitura da tua alma
Ainda alheia ao novo brinde ofertado,
Ainda...

E se tudo fosse um pesadelo, eu te acordaria!
E se tudo fosse um sonho, você me amaria?
Volte para a parte mais alta da cidade
Vamos para casa,
Vamos para casa...


Recife,21 de outubro de 2009

164> ASAS DE OUTUBRO *

Tempos varridos por ventos que não voltam mais
A única lembrança ainda presa no fio da memória
Incompreendida historia com tantas sutis entrelinhas
Nas mais belas nuances proporcionadas pelo destino
Açoita meus olhos, meu rosto e toda minha vida
Regente escolhida para a opera triste dessas auroras
A mais bela canção vinda nas asas de outubro...

Brilhantes de uma beleza indistinguível a todos
Reluzem onde reside os sonhos e os desígnios
Inflamando meu desejo de viver e ser vida
Traço mais provável do que seria o divino
O templo vivo das minhas preces mais altas

Deixe-me a sos um pouco
Entre meus tantos sonhos

Brinda a singularidade de nossa existência
Alem, muito alem do que é chamado racional
Rondando sempre nos recantos das minhas noites
Rondando sempre nos lampejos da minha mente
O único propósito possível nas lagrimas de alegria
Sol que enche de calor e sentido esse mundo frio


Recife,6 de outubro de 2009

163> NOITE DAS VOZES SILENCIOSAS



Notas cruas naquela harpa invisível aos olhos
Derramavam-se em ondas nos raios da lua
Às vezes cobravam o vigor peculiar da noite
Para voltar ao tom misterioso como a vida
Um sublime maestro com dedos de galáxias
Pendurou no preto fixo aquele sonoro satélite
Obrigado por poder ouvir a musica da luz
Obrigado por poder ver a cor do teu som
E o ritual seguirá toda madrugada a fora

Uma criança surge assoviando em uma visão
Tão sublime quanto a inesperada aparição
Filha do lado bom da noite, minha filha
Faz sorrir teu pai que não teme os outros...
Salta nove dimensões ate o ventre da mãe
E com cautela avançamos cada vez mais
Sempre imprimindo vida em nossas vidas

Ao lado minha arma mística e a luz verde
Lentos passos largos rumo a plenitude
As vezes tudo se enchia de luminosa graça
E ouvia-se as silenciosas vozes chamando
Para o novo amanhecer de nossa existência


Recife,29 de setembro de 2009
Também postado na Fabrica de Letras

162> HISTORIAS DO TEMPO *

Corria levemente nos vales suaves da face
Aquela lagrima que nunca quis atirar-se
E nem sempre carregava tanta felicidade
Um testemunho de contrários harmônicos
A isso chamam de lagrimas de alegria...

A vibração que precede o novo encontro
Um sorriso fica no espaço do social
Ate que a mutua visão encerre as convenções
Cheio do aroma de outra cidade distante
Irradiando as luzes artificiais do recinto

Caminhando em passos bem simétricos
Algo circulava de um lado ao outro
As mãos dadas faziam o contato etéreo
E o mundo começava a girar ao redor
Fatalmente como essa historia é escrita


Recife,29 de setembro de 2009

161> O QUE ELA ESCREVIA

Leio e releio as coisas que ela me escrevia
As vozes através das poucas entrelinhas
Privações e alguns reflexos traumáticos
Seus gritos sozinhos nas infestadas ruas
Vozes que nunca estariam de todo nuas

Era tão real quanto às noites solitárias
Como um pendulo instável e temperamental
Era tão estranho quando se balançava ate mim
Com a típica aspereza do ferro enferrujando
Conte ate três e o pesadelo acaba enfim

Aquelas frases me faziam ver o que ela não via
Aquelas frases me faziam ver quem ela não via
Através de mim a tentativa de saber da outra nela
E quando a resposta estava emergindo em calor
O papel sempre queimava, sempre queimava...


Recife,22 de setembro de 2009

quarta-feira, 2 de junho de 2010

160> NO TOPO DO MUNDO



Por vezes achei-o inatingível em meus planos
Mas o agora sentado no topo do mundo
Meus olhos divagam a miséria nas planícies
Tantos caminhos e estradas entrelaçadas
Como um rio serpenteando eterna e lentamente
As guerras dos homens e meus conflitos
O orgulho e egoísmo chocam minha altivez
E vêm as nuvens alvas e superiores
Sopradas de um novo mundo desconhecido

O luto pelo que ficou e morte simbólica
Impropriamente às vezes acinzenta a mente
Eis que surge a primeira estrela da noite
Quando o vale da matéria se enche de sombras
E o sol procura por novos alvos ávidos de luz
Impelido pela lei mais bela do universo
Num imperativo histórico tenho de continuar
Movendo-se ao longo desse jogo de cores e formas
Idiossincrasica bolha de idéias chamada existência


Recife,12 de setembro de 2009

159> TERRA DAS LUZES DO CÉU

Consigo ver o invisível nesta temporalidade
Afinal os sonhos não eram somente lúdicos
Cubos sobrepostos girando uniformemente
Realidades multiformes vislumbradas na madrugada

Se vi aquela matilha morta no distante jardim
Ou se era eu aquele arqueiro com seu felino
Sobrevivendo na reservada ala entre as dimensões
Os infames eliminados ante os senhores regentes

A onda de fertilidade espalhada nos campos
Um copo fundo de vinho e o vilarejo na rodovia
A ultima cidade se aproximava da agenda
Exatas treze horas predeterminadas noutro sonho

O ritual do beijo causou o choque do divino
Acontecia quando gerações se cruzavam
Mas aquele pulso varrerá as terras do planalto
E acordaremos como que tomados de assalto


Recife(astral),15 de setembro de 2009
"Se tem ouvidos que ouçam"

158> O COMPLEXO (PARTE 1)

Nada além do branco naquele mundo gelado
O obelisco como um marco agora atingido
Estranhos transportes ao longe avistados
Que raios eram lançados ? E por que fugir ?

Um lapso imensurável de tempo ocorreu
Ate a visão daquele imenso complexo na neve
Torres geladas desafiavam a paisagem fria
Insólita, insólita .

Movia-me silenciosamente nos corredores vazios
Mas sentia a sensação da proximidade
Subir, subir no teto do elevador
Dez ou cem ? Não me recordo ao certo !

A saída estava no subsolo do nível n
Assim como a visão daqueles seres grosseiros
Rebelados, lembravam os homens de madeira
retirados cheios de azul do antigo popo-vuh

Agora via sombrias sentinelas do complexo
Fardas bege-caque com detalhes vermelhos
Abaterem-se sobre os prisioneiros-experimentos
Uma dantesca visão só possível para poucos ...


Recife(astral),9 de setembro de 2009
"Quem tem ouvidos que ouça.."

157> OCULTO NA BALANÇA

Um raio e outra tentativa dos desagregantes
Mas já não contaram com o elemento surpresa
Despido dessas energias e de antigas reações
Uma força parecia me guiar, então que guie !
Não houve outro ponto riscado nos corredores

Uma serenidade confrontava o inexplicável
Que todos saibam ate onde a luz alcança
Iluminando tudo que era visto como deplorável
O equilíbrio exige um novo peso na balança
Eis o que os senhores vieram revelar e velar

Ando com os imperceptíveis, ignorados mas poderosos
Orgulho e confiança enchem meu semblante
As setas, as retas, os semicírculos na conta de três
Abram os portões com uma luz tão envolvente
Que sempre ajudarei a regar suas sementes.


Recife,3 de setembro de 2009

156> A FINA LINHA DO CÉU *

A passividade e impulsividade das crianças
Atenuava a lei marcial dos jogos da vida
Amados e odiados os seres desse singelo orbe
Algo incomum às legiões de seres astrais

O ar se enche cada vez mais de inevitabilidade
O aroma do destino envolve e desenvolve
Outros trouxeram as palavras e as ações corretas
O que antes se via nas constelações vive em nós

Procurando sentido, mas este estava em tudo
Desejando o divino que também estava em tudo
Ironicamente o véu era tão tênue quanto opaco
Uma oitava separava a harmonia do caos

Ao universo perdão por temos medo da morte
Ao demais seres perdão por sermos preferidos
Ao nosso eu perdão por toda essa cegueira
Que nos impede de ver a fina linha do céu


Recife, 1 de setembro de 2009

155> CARTA ABERTA A UMA ALMA AMADA



Hoje quando penso em todo um universo paralelo que iniciou no dia em que percebi algo superior regia nosso encontro nesta vida tão arida e tempestuosa, percebo o quanto o universo tem mecanismos precisos e desconhecidos.
A especificidade do meu ser manifesta na mais terna idade muitas vezes maculada pela assombrosa necessidade de existir como animal, percebo a beleza da alegoria de Adão e Eva no paraíso justamente retratando essa inevitável perda da nossa pureza pueril.
Corri o mundo mas ainda sem saber ao certo o que buscava e muitas vezes encontrando o que não deveria e vários borrões tentando desfigurar a pintura de minha alma, todos os cegos e todos os cadáveres que povoam esse mundo expiatório regido pelo medo chocando-se uns contra os outros, a fim de não verem seus próprios reflexos.
Alguém uma vez apareceu no mais intenso caos, sem saber ou sem acreditar nos reais motivos que regiam sua vida, uma luz acendeu de imediato uma incontrolável seqüência de eventos sincrônicos às vezes mascarados em coincidências que teria o potencial de modificar tudo ao redor .
Eu vi a claridade e também fui testado, então padrões foram mudados e só assim dor existencial foi gradativamente diminuindo, pois me sentia como um exercito sem nação ou uma ferramenta sem uso .
Se te chamei de estrela é por que mesmo sem saberes foste um guia constante em meio às trevas, eu te fiz assim, e se mesmo sem entender tu me chamaste de sol é porque no intimo tua alma sabe o que vim fazer no teu ser que é incendiar essa singularidade que é você, a fim de irradiar luz assim como você pode polarizar a minha luz que brilhava descoordenadamente .
Não importa o que pareça para ti mas realmente acredito que o universo espera algo gigantesco de nós, realmente acredito em uma força maior regendo cada segundo da nossa historia, realmente acredito que seremos cobrados por isso e que no final estaremos juntos e idosos chorando por todos os lugares belos que não fomos, pelos sonhos desfeitos, por todas as palavras não ditas, por tudo que não fomos podendo ter sido, e agora impossibilitados pelo desgaste dos nossos corpos de carne querendo retornar a seu estado primordial que é e sempre será poeira de estrelas ...


Recife,1 de setembro de 2009
Foi muito importante enquanto durou ...

154> O ULTIMO SOPRO

Um pouco antes do final do mundo
Tudo se define em temporalidade
O real sentido a muito buscado
Agora e tão somente agora surgido
Mesmo em uma fração de segundo
Tão efêmera quanto à contagem
Da linha de nossa fugaz vida

Que se passe e se perca no infinito
Que se sinta e se apague a chama
Dentre todos o maior dos ciclos
Dentre tantas a única realidade
Messiânica verdade só impressa
No derradeiro sopro de vida ...


Recife,28 de agosto de 2009

153> A RAINHA DO MILHO

Uma mão balança e move o berço
Como um pendulo e seu tesouro
Iguais aqueles incontáveis dias
Na meia altura do muro de pedra
Os cães do quintal disputam atenção

A dona da casa só tinha sete anos
Deixe-me mostrar o avião a passar
E como brilhava aquele verão...
E como todos foram subjugados
Sob o antigo olhar de uma criança

Instrumentos de corda eram ouvidos
Patchuli e pólvora eram os aromas
Sempre senti fome daquela alma
E o São João gostoso vai ficar
Com o milho que acaba de chegar...


Recife,25 de agosto de 2009

152> SENHORES DE TODAS AS DIREÇÕES

Como eu poderia saber o que aconteceria
Tudo ficou escuro, solitário e frio
Foram noites fugindo de mim mesmo
A batalha se processava em duas frentes
Essa mesma dualidade que nos viola

Não imaginei o tamanho do interesse divino
Pesadelos e madrugadas não edificantes
E quem foi minha Antares e meu Aldebaran ?
E agora pude ver os senhores de todas as direções
A fim de ser reapresentado a mim mesmo ...

Quem fez a mais alta aposta e ficou ate aqui ?
Reivindicado esta tudo que o tempo me roubou
E tudo que eu deixe o tempo me roubar ...
Nunca acreditei mesmo em ser derrotado
Então deixe-me entrar, deixe-me entrar .


Recife,24 de agosto de 2009

151> O INEXPLICAVEL MEDO DO FIM

Chegou como se o tempo fosse seu escravo
E tudo se tornou lentamente estático
Alterações na percepção da realidade exterior
Apenas uma nova forma de ver o mundo interior
Era possível se ver alem das mascaras densas

As espumas fluíam na intermitência das ondas
Universos feitos dos puros cristais do sal da terra
A mesma mão que fixou os astros na abobada do céu
Velou a infância da vida em um berço de estrelas
Tudo esta imerso nessa plenamente grandiosa ligação

Propaguem esse saber ate as marés mais distantes
Onde se teme ainda um fim inexplicável para tudo
Quem se deixou levar pelas correntes do nobre pensar
Palmas e sorrisos infantis esperam no fim desta via
Veja que o escuro so existe para realçar a beleza da luz ...


Recife,23 de agosto de 2009

150> O FIO





Naquele mural no recinto surreal da várzea fria
Emerson abriu caminho de volta aos Vedas
Com vidas, fatos, mundos e objetos transpassados
Todos unidos no infinito fio e seus arcos espiralados
Qual a única realidade que nos cerca, envolve e nutre ?

E sobre esse fio ,
Quem o segura ?
De que é feito ?
O que ele liga ?
Com que propósito ?

Quem entrará neste saber secreto e sagrado
Secreto para os que não podem ver
Sagrado para os que podem ver
Eu ou você ? Nós ? Melina ou o irmão dela ?
Veja o fio que nos une em diferentes dimensões.


Recife,14 de agosto de 2009