ECOS

ECOS
Chittorgarh-India

sábado, 25 de dezembro de 2010

284> NO VENTRE DA ROSA


Na convergência dos sentimentos terrenos
Surge uma aura sublime dentro do coletivo
As vozes se unificam em um único som
Vindo de todos os tempos e todos os lugares
E todos os já que morreram agora vivem

Seria a alegria tão relativa?
Nossa visão não abrange nada alem de nós?
Se eu jazesse em um leito seria o natal feliz?
E se o medo de morrer o tornasse o pior?
Meu Deus, outra vez o medo de morrer...

Se temer o inevitável fizesse sentido
Uma nuvem escura cobriria os sorrisos
Se tivermos uma visão estatística da vida
Então já estaríamos mortos em vida
Ao invés de vivos na morte

Fechei os olhos e corri para longe
Puro, livre e com alegria única das crianças
Tudo se completa no ventre da rosa
Pois entre as nuvens vislumbra-se o sol
E nas trevas girassóis esperam impacientes

No perímetro externo o trono cinza
Como quis ver o seu senhor sorrir
Mas alguns incorporam o sofrimento
A alva pele daquela que não sei nome
Trazia-me calor naquelas noites frias

Soube que uma estrela trouxe os três reis
Como brilhava na noite da ignorância humana
Uma canção e mãos invisíveis balançam o berço
É o tempo dos filhos ensinarem os pais
É o tempo dos donos do tempo


Recife, Natal de 2010
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Tambem postado na Fabrica de Letras

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

283> OS PORÕES DA CONSCIÊNCIA


Um descuido momentâneo da guarda
O cadeado enferrujado estava aberto
Sinto o de dentro vestir-se de fora
Nos corredores a palidez das estatuas
Fantasmas de um passado morto

Procurando pelo real sentindo do perdão
Vagando entre o manifesto e o imanifesto
Qual deles sou eu ou quantos deles sou eu?
Todos foram eu um dia
Mesmo que em um sonho
Peregrinos separados do criador
O olhar separado da multidão

Magias e encantamentos sob pura fé
Tangiam as trevas
Com a força das palavras
Com a força da vontade
Nos porões da consciência
De joelhos rezo sozinho
De joelhos rezo por perdão


Recife,22 de Dezembro de 2010
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terça-feira, 21 de dezembro de 2010

282> NOITES FEBRIS


Caminhando nas estradas do sem fim
Molduras de sorrisos e pinturas de dor
E ninguém se lembra da casa do artista
E tudo foi ficando cada vez mais distante
Onde sempre se começa aonde se termina

Mas hoje surge uma nova possibilidade
Através da camada espessa da noite
Uma estrada de luar estendida no mar
Minha ponte e também minha fuga
Outro retorno a terra dos aeródromos

Outra caravana se prepara para partir
O que ela achará da espada prateada?
Sendo que usamos a mesma farda

Historias das minhas noites febris
Onde nem tudo era consumido
Memórias do fogo protegidas
Gravuras arquivadas no tempo
Algo que se pode contar para si


Recife,21 de dezembro de 2010
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terça-feira, 30 de novembro de 2010

281> MÃE DE TODAS AS MANHÃS



Às vezes o céu se confunde com o mar
O que é primavera e o que é verão?
Palavras guardadas para nunca falar
Jardins que só existem na emoção
Mesmo que seja eu o único a sonhar

Cães ainda podem morder no andar a baixo
Não era meu aquele sangue na parede
Muitos hertz acima tudo brilhava
Meu pai onde estão tuas espadas?
Só assim poderei me aproximar

Corações impetrificaveis aos meus olhos
Tragam a tona as mais belas memórias
Mãe de todas as manhãs venha me cobrir
Sorrindo não temerei e usarei sua mortalha
Igual ao sol dourado que varre esse vale

Nome escrito na areia
Sangue proscrito na veia
Assim observo os caminhos
E quando me sinto sozinho
Acendo as luzes


Recife, Uma manhã de novembro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

280> OS COMPANHEIROS COM MANTO DE LÃ


O silencio tem vozes que vem de dentro
A essência e o sabor da verdadeira pureza
Na calada dos séculos vem com os profetas
Esvaziando a ânfora das intimas angustias
Face e pele são agora uma casca ressecada

Os naturais se tornaram estranhos ao mundo
Porque a febre do possuir não os possui
Já que todas as estradas sempre se unem
Assim como os desejos sempre desagregam
A noite ainda é escura assim como foi criada

É fato que a estamos sempre buscando
Não importa se já o temos
A uns se deve dar e a outros retirar
Mas a todos se deve equilibrar
E tudo segue sua própria natureza

Eu ainda sou eu, mas logo serei você
E assim que você for tudo será eu
Basta sermos como os cães
A verdade só se reflete se for verdade
A realidade manifesta uma só vontade


Recife,29 de novembro de 2010
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sexta-feira, 26 de novembro de 2010

279> CASTELO DOS VENTOS BRANCOS



Em sonho bem acima do quinto céu
Vejo o castelo dos ventos brancos
Quase imperceptível entre as nuvens
Silhuetas enevoadas nos portões
Torres espiraladas de puro cristal
Sinos e as perfeitas oitavas musicais

No mirante de formas quase femininas
Passagem visual para a terra dos bosques
Varias realidades abaixo dos cirros
Era o mesmo que soprava na casa vazia
Era o mesmo que ligava os dois mundos
Cheios de odores das flores que se foram
Com as frias noites nos cobertores alados
Eles não possuíam nenhum dono
Sua senhora partiu na ultima primavera
Deixando apenas uma pintura na parede

A alva Iris dos campos a tudo recobre
Seu mortal hálito gélido sela o ciclo
Hora de guardar todas as sementes
Olhos levemente mais quentes que o ar
Pairam no retrato agora fora de esquadro
Único vislumbre do refugio distante
Única passagem para seu novo castelo
Onde o retorno é agora uma promessa


Recife,26 de novembro de 2010
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quarta-feira, 24 de novembro de 2010

278> TODAS AS DORES DE CAIN


Quando o vento sopra de fora para dentro
Despindo o manto aveludado de nossos egos
Ate o mármore áspero do intimo ser visível
A dor onipresente de quem existe só por existir
O peso da sombra inegável e indesvecilhavel
Marca uma fronteira invisível entre instintos
E a natureza humana foi separada das demais

A essência é desvirtuada pela parte negada
Véus e tecidos finos cobrem a bestialidade
Areia veste o que esta enterrado na alma
A saga dos animais que não se viam animais
Desilusão transformada em profundos temores
E desses temores brotaram todos os males
Venenos que criamos e ingerimos veladamente

Fechando os olhos veio a escuridão
E na escuridão se pode ver a luz pura
Distintas das que brilham desfocadas

Pairando alem dos modelos atômicos
Atravessando uma barreira imaterial
Voa a parte mais indescritível de nós

Armadilhas elaboradas esperam o saber
Cercado pela angustia que nos marca
Quando nos afundamos em conhecimento

Uma voz reverbera sempre dentro de nós
Diferentes volumes, mas o mesmo dizer
Conexão imediata com o desconhecido
Algo que os presunçosos julgam conceber
Palavras perdidas no abismo da linguagem
O reflexo de todos os filhos de Caim
No fogo que não se apagará jamais

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

277> DIÁRIO DE UM CRUZADO


Um único olhar e o caminhar em silencio físico
Os últimos raios da manhã partem rumo ao oriente
Sobe e desce angular na ponta do astrolábio Mouro
A vaidade embriaga como o forte odor de gengibre

Sonhos com distantes e exóticos rostos
O que dirão nos seculos que virão
Nada do que foi escrito foi sentido
Nada do que foi omitido foi perdido

Arabescos brilhavam na escuridão
Lua crescente de todos os cavaleiros
Falavam com os seres do vento
Rezando como se fosse o ultimo luar

Uma criança chorava noite a fora
Uma distração indevida a meia noite
Transportado por lembranças ao lar
Seus olhos equilibravam-se nas orbitas

Quem escolhe quem deve sobreviver?
Quem deve caminhar entre cadáveres?
Decidir pelo que já foi a muito decidido
Através da penumbra a salvo na proa

Sem encontrar as respostas das perguntas nunca feitas
No reino prometido nada foi prometido por deus
De volta as sombras sem nunca ter visto as luzes
Cruzes de fogo nas marcas de nossas almas em pânico

Recife, 17 de novembro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

276> AQUELES QUE MORAM EM MIM


A sublime voz dos contos de vida e morte
Perpetua inabalável entre a incompreensão
Espelhos que jamais foram usados
Na pureza do primeiro pranto ao nascer
Perdida nos punhais afiados do tempo
Dilacerava corpo e alma

Perdoa aqueles que moram dentro de mim
Perdoa-me por não pacificá-los
Existe sentido na guerra pela paz
Somente Arjuna pode conceber
Somente eu posso me vencer

Em meus anos procurei um messias
Em meus planos me tornei um guia
Os cômodos eram escuros
As passagens estreitas
E todos eram da mesma família
Cavernas que Vollenweider desconhecia

Viver minha vida ao meu lado
Coexistir com tantos seres
Dentro e fora do que penso ser eu
A face mais absurda do ser humano
Não nos torna imperfeitos
Se a fé se une ao destino


Recife,12 de novembro de 2010

275> CONVULSÃO DE MUNDOS


Descendo escadaria de degraus laminados
O ser ainda não formado vai adormecendo
Na sala das chamas agora só há cinzas
Mas existem outros a muito formados
Personalidades forjadas em outros tempos
Combatendo pensamentos que já criamos

Eis porque nem sempre nos reconhecemos
Nos sonhos mais profundos e enigmáticos
Como um motim de impossível controle
As múltiplas pétalas de uma flor
Os vários espinhos
As inúmeras cores

Uma luz atravessa a deformação
Num piscar de olhos o retorno
Longe no tempo e em outras dimensões
Mas existe para sempre o ponto de fusão
Fio do rosário concebido e inconcebido
Esticado alem do nosso alcance visual

Bendita é a narcose que nasce conosco
Para novas raízes romperem o universo
Longe da fonte de todas as loucuras
Ate as asas negras da noite ressuscitarem
As vozes que convulsionam os mundos


Recife,12 de novembro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

terça-feira, 9 de novembro de 2010

274> NORMANDO E OS ANJOS



Um quarto não tão escuro quanto o primeiro céu
Ajoelhado todas as noites depois da ultima morte
A abobada estrelada e o decreto de retorno
Tempos diferentes e a lentidão do alfanje
Liberto pela luz de todas as estrelas

Eles costumavam observá-lo nos intervalos
A visão do vagamente preciso gigante negro
Não se iludia com as palavras voláteis
E a eloqüência dos sacerdotes o entristeceu
Foi quando eles trouxeram a revelação
“Normando Deus esta no começo e no fim,
Tudo entre o Alfa e o Omega é promessa divina”

A teologia nunca mais fará escravos
O vento soprou profético e a chuva caia
Foi assim que minha sala foi inundada
E pude sentir seu coração pulsando
Quem esta liberto e quem é prisioneiro?
Olhem para a verdadeira hierarquia
A sabedoria que quebra os cadeados
Retidão que mantém em pé
Até o medo se dissipar
Até o sonho se realizar


Recife,9 de novembro de 2010
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domingo, 7 de novembro de 2010

273> PRESSENTIMENTO


Tempestades de eletricidade sutil e imperceptível
Angustia e medo repentinos no ar cinza cortical
Ciclos de diferentes eus voltam a tomar forma
A deriva nos mares da incerteza momentânea

O tempo parece distorcido no meu referencial
Tudo perde dinâmica e reduz seu compasso
Os sentidos seguem alertas noutra realidade
A mão direita é preparada com o símbolo

Em ondas as percepções são restauradas
A singularidade se desfaz em sombras
Preparem a fogueira para queimar
Tragam as antigas preces e os cânticos

Aqueles acima dos riscos assumidos
Aqueles abaixo dos mundos possuídos
Unidos pela delgada membrana cônica
Separados na densa cortina da matéria


Recife,6 de novembro de 2010
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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

272> SOBRE A MORTE


Retângulos bem separados e bem protegidos
Muitas vezes acha-se que não se pode suportar
O velho retrato na sala e aquela mesma musica
E o dia se encheu de passado
E o dia se encheu de saudade

A através de desejos incontidos e não naturais
Todas as maneiras de negar o que não pode negar
Os olhares borbulhando se fazem presentes
Iniciando as vidas não vividas dos que ficaram
Isolados nas crenças egoístas da perda
Mas só se perde o que se possui

A especificidade torna a partida mais dolorosa
Em um mundo de solidão cada pétala importa
Os jardins divinos estão agora mais perfumados
As estrelas celestes estão agora mais sorridentes
Outro corpo deixou a alma
Outro sono para despertar

Os ponteiros continuam a marcha angular
Os porteiros têm muito a trabalhar
Em breve os salões estarão cheios
É o fim da mais maravilhosa aventura
Ou o inicio da mais cativante descoberta


Recife,3 de Novembro de 2010
Imagem by Aeterna Doloris

sábado, 30 de outubro de 2010

271> O SEGUNDO DUQUE


Corria ate a linha do sol poente
A dor dos anos que não passam
Mistura de temperos no suor e na areia
As vozes agora silenciaram ordenadas
Manifestações de um universo inconcebido

Transfigurado, deformado e inconformado
O real significado das flores do deserto
Clarões vindos de espaços a muito fechados
Águas que corriam e lembranças indragáveis
Oceanos que se perderam para sempre

Deixe que eles vejam o meu anel
Testemunho da vida e morte de milhares
Na cor do sangue dos que amei
Deixe que a areia resseque toda vitalidade
Como a saudade amarga a vida

Rabiscos iluminados na aurora dos homens
Canções tristes ecoam nos astros distantes
A natureza nunca foi apenas planetária
Toda grandeza foi apenas um aviso
Que nada se vem ou se vai em vão


Recife,30 de outubro de 2010
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270> AO LAR


Se outrora atravessei as estrelas em partes
A lembrança se encontra em alguns pedaços
Os dias no cosmo são demasiadamente longos
Não vi primaveras nem outras estações

Pedregulhos na rua quase deserta
Arvores e seres cinzas nas esquinas
Escute os cães felizes ao longe
Meus passos fazem-se mais altos

Criaturas obscuras que atravessaram os portões
Eu voltei
Seres dos jardins das flores do tempo
Novamente eu cheguei
Minha guarda pessoal e os oito caninos
Minha leal matilha


O vazio deve ser sempre preenchido
Pois tronos precisam sempre de um rei
Registros anotados no livro sem paginas
Visitas ancoradas no porto dos sorrisos
Água varre os salões empoeirados
Alegria veste os corações
Eu me lembro daquele dia
Eu nunca esqueci meu lar


Recife,30 de outubro de 2010

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

269> ESTRADA DOS VAGA-LUMES


Inúmeras formas de se expressar
Existem tantos quintais sem cercas
Ruas que convergem em outras ruas
Os mesmos desconhecidos conhecidos
Foi loucura partilhar minha vida

Vaga-lumes só são percebidos no escuro
A intermitente lembrança da luz do dia
E assim a beleza sempre será notada
E assim a pureza sempre será um alvo
Criaturas incendiadas
Criaturas iluminadas

Deixem-me dormir só por hoje
Viver apenas em um mundo
Acordar e acha que tudo foi sonho
Cai e nunca se ferir
Não ser a primeira pedra
Mas minha vida não me pertence
Nada realmente pertence a alguém
Tudo transita e é transitório

De volta à estrada dos vaga-lumes
Cresci, cresci em muitas voltas no sol
Junto a um mundo tão próximo de outro
Intersecção dos nossos campos visuais
Tantas vezes invisíveis
E nada parece parar
Onde tudo se percebe


Recife,27 de outubro de 2010
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terça-feira, 26 de outubro de 2010

268> SENHORA DOS AFLUENTES


A vi em uma moldura no rio de águas caudalentas
Na margem distante seu antigo amado ou carrasco
Mas nem tudo foi feito para ser entendido
Algumas portas deveriam estar fechadas

Vermelho, vermelho vivo e vermelho sangue
Quem sois e o que quereis ?
Um vidro entre o superficial e o profundo
Uma lamina entre o divino e o profano
E muitas vidas entre a razão e o absurdo

Sua face abaixo do espelho d’água
Seu sorriso além do tempo
Suas imagens em meus sonhos
A passagem ainda aberta
Na casa da rua de barro


Recife,26 de outubro
Imagem da excelente paisagista Claudia Casella

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

267> OS QUATRO PILARES DE ARUBA


Avistava a sombra de seres naquela prisão
Ainda ouviam-se os gemidos na noite pálida
Todos estavam onde tinham sido deixados
Hinos incompreensíveis de outros orbes
A saudade assumiu sua face mais obscura
Alem dos muros as lagrimas secaram
Alem dos mundos das energias colapsadas

Os quatro pilares nos portões do Caribe
Avança o alvo navio da dourada guardiã
O vento girava-me em um grande circulo
Na areia arvores imateriais e os refugiados
No meu olhar a perceptível determinação
Aquele ser não mais traria o desespero
Encolhido e derrotado na teia imantada

Os olhos das mães procurando seus filhos
O desespero dos pais vestindo suas filhas
Imóvel vejo tudo em preto e branco
Minha força vem de todas as mães
Minha permissão vem de todos os pais
Ergo a mão direita ceifando-lhes o mover
E que nadem nas lagrimas que geraram


Recife(astral),17 de outubro de 2010
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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

266> MARIPOSAS VISCERAIS



A primavera não acabou, mas já passou
Assim breve, sem flores e sem lagrimas
Por todos os cristais dos meus bolsos
Meu sangue nas entranhas dos insetos
Pequenos Judas alados para culpar

Neste jardim o sol sempre se põe no ocidente
E as sombras não pairam no fim de tudo
Agora uma cerca divide meu outubro
A expressão separada de um olhar incipiente

Vestidos e ornamentos dourados no ébano
Que vá em paz vidente do fim do mundo
Que fique em paz com o ouvinte surdo
Quem espera tem os séculos para esperar
Quem nada espera nunca terá outro engano

Uma mariposa repousa sobre a luz
Cartas escritas sobre a mesa escura
A linha da face não mais atenuada
O destino sempre exerce sua vontade


Recife,14 de outubro de 2010
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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

265> EU, DÉDALO



Da chama de Prometeu ninguém se recorda
O fogo divino a muito perdido na memória
A ação e o verbo pesados como este mundo
Terrível tendência estática dessas vibrações
Cobiçada colméia cheia de mel e de ferrões

Outros nascem para somente viver
Muito alem do nascer e do morrer
A aldeia nos sonhos de Kurosawa
A Melina viva nos meus sonhos
A esperança na caixa de Pandora

Nessas leis o giro do spin importa
O jogo de luz e sombra faz o ocaso
Mas no tabuleiro nada é por acaso
Toda retina sabe a luz que suporta

Cercado dos melancólicos efeitos do saber
Encurralado entre uma imperfeita dialética
Enamorado por pensamentos não polarizados
Enraizado a algumas das mais antigas crenças
Se soubessem como o conhecer pode libertar
Saberiam que sempre é melhor saber

Pastoreando energias no campo unificado
Construindo um mundo reflexo no pensamento
Onde o pequeno reflete o maior
E o maior nada é mais do que pequenos

Saber sem ver é saber sentindo
Nem todas as aves podem voar
E nem todos os animais são aves
Felizes serão quando acreditarem
Que não somos como as aves
Mas um dia todos voaremos


Gravatá-Pe,12 de outubro de 2010
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Andrea Pisano sec XIV

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

264> EPÍGRAFE DE UMA EXISTÊNCIA



É sempre tão difícil quando descemos aqui
E meus pés tocaram novamente esse chão
Às vezes úmido e fértil como minha imaginação
Outras vezes áridos e fatais como meus instintos
Incertezas crescem juntamente com a criança
Olhos temerosos e confiantes fixos no meu céu
Pedras do passado constroem castelos no futuro

Antes e durante soube das tempestades de areia
Vultos aglomeram-se nas cercanias da alma
Que o vento arranque suas carnes e seus capuzes
Que o vento só me traga o perfume da vitoria

Estranhos não tão estranhos riam da queda
Ignorando os grandes planos já tecidos
Enviando suas temidas bestas voadoras
Braços malditos de muitas desventuras

As estrelas estavam la sempre para lembrar
O ar trazia partículas de uma outra época
Tudo em um claro e silencioso complô
Os símbolos rasgaram a pele e abriram os olhos
E a fusão de tudo iniciou em um brilhante sol
Incapaz de ser retido por um tórax ou um corpo
Aspirações fustigadas por elevadas magnitudes

Abram o mapa dessas regiões e suas passagens
As armas devem servir seu verdadeiro dono
Todos os exércitos prontos para semear e podar
Em nome do inominado agora assim como eu


Recife,11 de outubro de 2010
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sábado, 9 de outubro de 2010

263> ZEPHYROS NO DESCANSO DAS ALMAS


Desloquei-me ate os lírios que você avistou
Onde crianças rodopiavam no vento oeste
La pensei em varias formas e vários nomes
Ate o coração bater o mundo fora de mim
Então voltei para enxergar os que eram leves

Um balão expandiu e a tudo englobou
Flutuando sem saber o peso do ar
Ou talvez importunado pela densidade
Levitando pela estrada das quatro raposas
Ate a casa mais alta da colina entre vales

Ate que as vozes da natureza silenciaram-me
À noite e seus mais belos fantasmas obscuros
Pele clara imaculada sempre perto do fim
Vem tomar mais uma vez meus sentidos
Dama regente de todos os segredos velados

Um rio distorcia suas águas ate desaparecer
Onde a ultima maré destruiu nossos castelos
Os frágeis cavalos marinhos e sua benevolência
Face a face com o poderoso tridente de Poseidon
Memórias lançadas desoladas junto ao sargaço

Surpreendido novamente nas portas de novembro
Um desajustado nó do destino chega a galope
Se eu pudesse escolher me libertar para sempre
Seria obrigado a me despojar de meus pedaços
Para ver sonâmbulos acharem que estou dormindo


Gravatá-PE,9 de outubro de 2010

262> VOZES NA JANELA DO ALTO


Ouvi dizer que os homens do mar viram algo
Na queda do por do sol no eqüidistante horizonte
Coisas que só se sabe nas historias imemoriais
Coisas que sábios nem sempre contam aos filhos
Quando o sono não pode mais ser uma fuga

Cheio de um novo vigor foi o renovado desejo
Historias de garotos nos contos das almas antigas
Assim eram os fatos nos tronos do alem mar
As belas esmeraldas e turmalinas bem protegidas
As infâmias e blasfêmias agora todas naufragadas

O sal ressoa ao vento poucos palmos acima do mar
E só eu estou a ouvir e ver o silencio nascer
Ou será que eu me percebo só ao lado das estelas
Claro que oriundas do mar que corre no céu
E fui eu mesmo em outra hora em outro lugar

Impérios caídos nas tortuosas estradas conhecidas
E sempre estivemos juntos na guerra pré-concebida
Mil pedaços espalhados compõem a aventura
Mil milênios e ainda mentimos sabendo a verdade
Os sorrisos e as lagrimas que a muito escolhemos


Gravatá-PE,9 de outubro

terça-feira, 5 de outubro de 2010

261> OS ULTIMOS DIAS DE COSSETTE


O concerto subia o tom dos violinos
Perdidos no vasto salão aveludado
Três fileiras adiante
Três fileiras de desejos
Assim eu a via no teatro das emoções

Queria tocá-la, mas ela não estava ali
Queria amá-la, mas não aqui
A opera seguia o meu pulso
A vida palpitava no peito
Ninguém esquecerá esse capitulo

Moselle, Musel e depois Mosel
Da torre do castelo vi seu barco
O vestido tocava a água serene
Corri junto com os sinos vespertinos
Corri do tempo que nos afastou

Troquei todo o ouro do reino
Neguei todas as nefastas profecias
Condenei o dia a viver a noite
E nunca retornei ao grão-ducado
Ignorando as noticias de Mertert

A insanidade surgiu a passos leves
Quando as cores fugiram das flores
Poupando apenas os buquês que colhia
Colocados no mármore daquela lápide
Eterna depositaria da minha desventura


Recife,5 de outubro de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

sábado, 2 de outubro de 2010

260> ENSOLARADA TARDE DE OUTUBRO


A tarde avança perto do seu fim
Todas as flores do meu jardim
Meus amigos estão longe
Meu eu esta tão próximo...

A preguiça do sol de outubro
Uma brilhante laranja rosa azulada
Derreteu o cinza das pálidas cidades
E as horas tornaram-se em paz
Para admirar a sinfonia dos três reinos
A poeira ergueu-se da estrada
Mas eu já estava em casa

Lembranças das épocas do fogo
Depois da redenção eu fui
Depois da desolação eu voltei
Livre para crer e para caminhar
Ate a gênese de um novo ciclo

As oitavas de minha mente
A separação e o meu desjeito
Fez de mim um distante estranho
Minha estrela incendeia o peito
Longe da atenção dos olhos desatentos
Libertando as almas que a tocarem

O céu pintou-se de cores Cuzquenhas
Paralisando meus sentidos
Ao momento impar onde Rá toca a terra
Livrará o outro lado da ilusão das trevas
O vento se apressa em aquecer minha alma
As estrelas não têm mais pressa
Como tudo em outubro

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

259> NOITE, INEQUIVOCA NOITE



O ar umedecido embriagava as luzes dos postes
Como são mágicos os suspiros da madrugada
O encanto do mistério que se torna visível
Fadas da água dissolvidas em sutis nevoas
Nas estradas vazias da colina do passado

A noite faz valer seu direito ao silencio
Apenas os insetos discordavam
E na quietude muitas vidas passavam
Fagulhas intermitentes no campo unificado
Onde um sabia do outro em qualquer lugar

Desafiadores como aquele canto cigano
Sublimes como aquelas fervorosas preces
Assim girava a moeda da noite no tempo
A coroa da regeneração iluminada do alto
Ou cara da destruição orquestrada a baixo

Horas inundadas de liberdades proibidas
Assim era a projeção humana da noite
Na sua calada ou nos sonhos vividos
E no mais belo dos sonos eu dormirei
E na mais bela das vidas eu sonharei


Gravatá,primeiro de outubro de 2010

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

258> A ESPADA NOVAMENTE OUTORGADA


Cobro o preço de inúmeras injustas demandas
Agora ele funde ferro e forja a lamina
Quase apto quase pronta
A passagem era errada e eles ousaram
Clones e replicas ligados a seus mestres
Explodidos, triturados e despedaçados
Na espada o no chicote

Cicatrizes de cortes no abdômen
Bonecos de madeira deformados
Antes da fúria havia meticulosidade
Equilíbrio da luz do saber com ferro do agir

Nas lembranças preservadas na carne
Penso não desejar aquele desfecho
Não entendo meu efetivo proceder
A meia lua ascendente coroada de estrelas
Cruzadas por espadas sob a estrela maior
Os infames caindo a esquerda
As mentiras destruídas a direita

A ação concreta e domínio do mental
A dose correta, nem antes nem alem
No cálice de Roma, a tênue linha
Entre a equilibrada celebração e a embriagues
O segredo da vitoria ou da derrota
O segredo da vida ou da morte
A dialética sempre observada
Afinal somos seres da luz

257> QUE SE FAÇA A LUZ

A profusão de todas as coisas se abre como mantos
Infinitas camadas paralelas em diferentes níveis
Todo equilíbrio sem desequilíbrio não é harmônico
Portanto nós fomos criados assim na verticalidade
A singularidade manifesta em varias camadas
É o vertical rasgando níveis paralelos de energia
Somos o uno fragmentado em diversas dimensões

Símbolos ancoram portais entre diferentes realidades
Inacessíveis a os padrões mais lentos de energia
A mesma lentidão que tornou a matéria perceptível
A mesma matéria que nos vestiu nesse projeto
O mesmo projeto que criou o tempo para lembrar
Nossa grande aventura viva nas cordas de baixo
Estar vivo e disso saber é plenamente maravilhoso


Recife,28 de setembro de 2010

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

256> NO CAMPO DO PONTO ZERO



Neve com seu tapete alvo sobre os campos
No litoral as ondas desistiram dos rochedos
A alma no ciclo oposto era pura expansão
A aura de fertilidade que paira nos campos
Era sustentada pela vontade de poucos

O pensamento agudizava tudo que abraçava
E andava por sobre a grade de luz invisível
Fez a manifestação possível nessa dimensão
Feita no ponto a ponto, mas um de cada vez
A parte visível de tudo que foi previsto
Imaginado, concebido para poder um dia ser
O real significado do livre arbítrio
É decidir o que se tornará o real

Sete mulheres em salto descem na estrada
Dois radiantes olhos azuis e uma só alma
Dois tristonhos olhos verdes
Dois perdidos olhos verdes
Dois magnéticos olhos verdes
Dois cautelosos olhos verdes
Dois ternos olhos castanhos
Dois iluminados olhos castanhos

A claridade ameaça deixar a terra de Nestor
Agora sem uma geografia fixada no mensurável
Estaria sempre onde houvesse sua lembrança
Uma simples bouganville cor de sangue
Balançando ao sabor dos ventos da serra
Aos olhos certos traria de volta o antigo lar
E balançava toda minha realidade
Dentro em breve será noite

As faixas todas eu encontrarei e se encontrarão
O guia do Andes aos históricos bravos litorais
Portanto não prometa o que não poderá cumprir
Mesmo na alça de mira da eficácia de um Mauser
E o céu se congelou para meu dialogo eólico
Tudo silencia e aquela musica só eu ouvia
Alguns minutos antes de me juntar a fonte
Temporariamente me tornarei atemporal
E no amanhecer logo o sol tocará minha face


Tambem postado na Fabrica de Letras

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

255> SAUDOSAS CANÇÕES DE ORION




À noite voltarei à terra das mais belas gemas
Em busca de dois diamantes feitos na carne
O vestido refletia o luar nos lugares escuros
Escondida dos comportamentos impróprios
Escondia nossos eternos conflitos humanos
Igual a uma mãe que sempre volta ao lar
A água dos divinos instintos femininos

Um regente de principio árido e solitário
Cruzando as vastas areias desérticas
No cálice só poeira tocava a boca ressequida
Um manto formava fantasmagóricas sombras
Tudo seco, quebradiço como folhas velhas
No limiar do deserto dos sonhos abandonados
A soberania dolorosa dos teus seguidores

O status de Orion e as três grandes pirâmides
As radiantes constelações e suas grandes casas
Borbulha o doce som nas aberturas da flauta
Ainda vibrando alem da cortina de tempo
Às vezes ela descia e às vezes ele subia
Acima da ultima nota e abaixo da primeira
E assim sendo nunca estariam separados


Recife,20 de setembro de 2010

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

254> CONTINUUM JASMIM DO GANGES

Exausto nas margens do caminho espinhoso
Mil razões para continuar e nenhuma força
Exaurido pela gravidade e pelos maremotos
Duas borboletas de cores branca com azul claro
Apresentam-se orbitando meu corpo pesado
Escuto uma inspiração profunda e nada vejo
Apenas sinto o mesmo perfume de jasmim

Eles diziam que chegaria o tempo de sorrir
Cantavam os sons do sagrado Ganges
Entorpeciam a mente com as coisas do alto
Vivificavam o corpo com a força do touro
Se espírito voa a carne corre
E como corri noite após noite
Palma, gritos, tambores, vozes, vozes

Comum e especial era só questão de escala
Como célula e corpo, átomo e universo
Com pureza se percebia o tudo no tudo
Só se viu neblina após Maya criar o tempo
Só serviu para contemplar obras perecíveis
Já nem me lembro onde estava antes
E quem sabe o que é antes e o que é depois


Recife,17 de setembro de 2010

terça-feira, 14 de setembro de 2010

253> DESINTEGRAÇÃO


A amarga historia da grande fração humana
Que chora a morte do que nunca morreu
Pétalas secas desprovidas de seu perfume
As sementes que temiam germinar
Um abraço que nunca foi forte o suficiente

Elétrons que tombam em seu próprio núcleo
A desintegração de todos os princípios
Um ultimo olhar sucumbindo a um gládio
O segundo que perdurará a eternidade
E a eternidade que durou aquele segundo

Vejo minhas mãos e minhas partes próximas
Em um pulso do coração de outubro
Como esquecer os que tombaram ante o amor
Assim como o espaço se curvou
Me curvo reverenciando a estrela guia

Unidos somos a imagem da eternidade
Na existência apagada das memórias
A fria e nebulosa crença da individualidade
Dissolvida em um longo e caloroso beijo
Todos os sentidos captam o real sentido

Tanto tentei mover o que estava imóvel
Que quase parei no tempo do não-tempo
E nunca vi tanto brilho se petrificar
Eis a façanha do nosso grande palco
Onde agora vejo a imensidão da platéia


Recife,14 de setembro de 2010
Tambem postado na Fabrica de Letras

252> O SEGREDO


Folhas secas sopradas ao vento de primavera
O ardor do ar que se condensa em chuva fina
A fluidez das gotas efêmeras vivas só na queda
E muitos ciclos que se fecham em si mesmos
Encimados pela bandeira da vida transitória
E no seu tempo são felizes só por existirem

Instruções no templo sagrado do saber
Os mais inusitados encontros e visões
E assim prossegue nossa grande aventura
Em todos os reinos uma épica jornada
Para se posicionar inventamos o tempo
E inventamos a dor para evitar a inércia

Se todos os códigos fossem revelados
Os dias encontrariam as noites
O passado fundir-se com o futuro
E todo o mistério seria então revelado
Tornando estéril e monótona a criação
Pois na verdade o segredo esta no segredo


Recife,14 de setembro de 2010
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segunda-feira, 13 de setembro de 2010

251> OS DADOS DE DEUS

Belo mesmo são os sorrisos que afloram da alma
Uma sombra refrescante num dia ensolarado
Meu ser já não dissocia a beleza da pureza
Às vezes estranhos se atraem instantaneamente
E eu sorrio dos que acreditam em coincidências
Desejam um dia jogar dados com Deus

Quando exterior se confunde com o interior
Não importa se o vazio esta sempre vazio
Mas sempre se pode cruzar a fronteira
E voar sobre os mais sutis mares
É só entender o que o mantém no chão
É só entender o que gera os abismos

Fique em teus limites e eu te sustentarei
Olhando escada a baixo eles dormiam
As crianças que um dia a noite perdeu
O segredo do zelador e o cômodo escuro
E no fim mais um símbolo honrado
Por favor, não me peçam por favor


Recife,13 de setembro de 2010

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

250> FOME E SEDE DE JUSTIÇA


Vive-se no limiar do que não pode se entender
Julgamentos sobre o prisma enevoado da mente
Em nome de crenças que julgam crer
Evocando seres que nunca serão
É chegada a hora da execução
Aplausos, aplausos
Fúteis
Abutres mais carniceiros que seus pares alados

Um fluxo constante nos grilhões partidos
A força da lei e a claridade da luz
E as criações desfazem-se em minhas mãos
Todo o sentido perdido nos sentidos humanos
Em seus tronos vejo o lodo espesso da vaidade
Onde se perdeu vossos corações?
Onde se espalhou vossa razão?

Animalescas formas que vejo nos homens.
Pachacuté salve-nos do inframundo!
Mas o condor a tudo observa
E um dia o puma será imune as víboras
E um dia o sangue não será um premio
A dor não mais purgará
Os sonhos não serão mais sonhos
E no fim tudo será inicio


Recife(astral),09 de setembro de 2010

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

249> BORBOLETA AZUL



Quem graciosamente se movia no ar
Mil jardins, mas apenas um floria
E seus olhos vicejavam sua energia
E nesse mundo sua outra face delicada

Eu quis parar aquela noite por medo
Mas as estrelas brilhavam mais que aquelas luzes
E o destino nada deve aos tementes
E nos olhos implanta suas sementes
E eu fechei meus olhos e vi um mundo maravilhoso
Linhas retas e curvas e ela adormeceu
Velei seu sono por toda noite
Por toda noite

Voando cegos noite a fora não importava
Rimos dos trovoes que nos feririam
Seus relâmpagos nos uniriam de toda forma
O inverno espreitava como um predador
Implacável, esperado e soberbo
O frio soprou as lembranças da realidade
Confuso com o vendaval que te afastava
Ferida como a borboleta azul que não migrou

Era a minha queda ou ve-la com asas partidas
Ela nunca soube como fiquei feliz
Ve-la deixar toda essa provação para trás
Ela nunca soube o quanto me doeu
Ve-la partir para longe do meu jardim
O silencio, a dor e a inevitável queda
Ou tudo isso foi apenas um sonho

Azul celeste inevitavelmente belo
Voa ao longe e voa para longe
Não olha para dentro de si para não me ver
Um dia novamente trocaremos de estação
E o corpo cairá no chão como uma veste
E o de dentro virá para fora
Então os jardins só terão primaveras
Para ela voar


Recife,8 de setembro de 2010
Dedicado a Fernanda Gomes Freire
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domingo, 5 de setembro de 2010

248> AS AFIADAS LÂMINAS DA INFÂMIA


Só falei após aquelas infames palavras
Sem me importar se estaria atrasado
Nem todos podem encarar a razão
Tombados nas suas próprias misérias
Afogados nas suas próprias desculpas
Veículos inconscientes dos alheios
Mas disso eu bem sabia

Por ultimo a graça de estar amparado
Se meu retorno foi a muito preparado
Desci e subi novamente
Antes perdi minha luz naqueles vales
A razão escorreu entre minhas mãos
Não me perderei novamente
Nas mesmas prisões de meus amigos
Meus mistérios são meus
Ate o meu retorno

Adormeço e vejo tudo que tenho
E percebo o quanto o invisível é visível
E para onde vão meus sorrisos puros
Sofro meu pesar com olhos de rubi
Pelo que se foi nas areis do tempo
Que leva fresco e trás seco
Mas existem coisas incompreendidas
Veladas ate o fim
E nelas o maior propósito


Recife,5 de setembro de 2010

247> DEPOIS QUE A MORTE CHEGAR

O manto púrpura, o cetro e o trono
As formas cheias de luz
E os fantasmas negros
Estou tonto e minha pele esfria rapidamente
Acho que aprenderei outras lições
Meu tempo acabou
Acabou

Acedam as luzes para o barão
Enquanto sua boca se enche de sangue
Espinhos internos e flores externas
Vazios, vazios

Os sonhos de amor desfeitos
Agora verei novamente sua face
A mesma que procurei por toda vida
E agora procurarei no céu ou no inferno
Venha voltemos para casa
Depois que a morte chegar

Corra pelos campos floridos
Com seu vestido ao vento
Eu chegarei depois eu dissera
Sem saber o quanto depois

Volte para o litoral e mantenha distancia
Essa noite serei livre para voar ao luar
Amanhã acordaremos em outra data
Perdidos na imensidão das dimensões
Não irei
Decidirei pelo amor
Mas manterei a distancia
Ate a ultima convulsão de um mundo
Que desapareceu em lagrimas
Por você


Recife,5 de setembro de 2010

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

246> AS ERAS DO FOGO E DA ÁGUA



Nos caminhos que percorreram meus grandes magos
Castelos de areia sob o fim das madrugadas escuras
A exata linha na senda dos verdadeiros peregrinos
Nosso mundo flutua imerso em um mar de energia
Nossa realidade afunda submersa em pobres sentidos
Mas se sempre sabemos onde o sol nasce
Apontar as sombras é irrelevante

Um tempo de intenso vigor foi o ciclo anterior
Queimando na lembrança daqueles que o viveram
Ferro e fogo precederam a água e o ar na terra
E assim o oceano levou aqueles anos dourados
E assim o céu levou os filhos do arco-íris
E o mar foi preenchendo cada reentrância
E de nós foi apagada a mais remota memória

Agora somos espelhos de todos que viveram
Construímos sobre o que já havia sido feito
Como os líquidos não podem ser contidos
Nós estamos sempre a se moldar
Uma avalanche final de paixões destruidoras
Ou um cristalino lago de emoções sublimes
A água trilha caminhos feitos pelo fogo

O horizonte flameja ao encontrar o disco solar
A água radiantemente reflete a brilho da lua
Que reflete fluidicamente o brilho do sol
E em si tudo se reflete
E assim as duas pontas se tocam
É assim que os princípios se completam
É assim que fogo e água se amam


Recife,primeiro de setembro de 2010
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terça-feira, 31 de agosto de 2010

245> APRENDENDO A VOAR

Do alto podia-se ver a linha do continente
Separando o marrom do azul cristalino
O litoral recortado por varias enseadas
À direita a ilha da base de todas as armas
Voando na asa esquerda daquele pássaro
Inúmeras vezes decemos para socorrer
Tive medo de não mais voar ou da queda

Revejo a dama do manto lilás e o jardim
Desejo o assento ao lado de suas flores
Pois um pai espera muito de seu filho
E tudo que se semeia há de ser colhido
De cima vi suas espadas cruzadas
De baixo vi suas estrelas
Deixe o saber inundar meu ser

Nas praias colhi vidas errantes
Os mortos devolvi as ondas
Na areia colhi puros cristais
Se me perdi foi para me encontrar
Se me encontrei foi para honrar
A grande aquarela que não se podia tocar
Mas que se estende além do nosso olhar


Recife,31 de agosto de 2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

244> TESTAMENTO



Sempre que tentei esquecer me fizeram crer
Que pouco de fato poderia ter sido feito
Mas as faces que cruzei não foram ao acaso
E na partida promessas vividas no espírito
Ate que a poeira recobra a memória cansada
E o tormento de ser uma fogueira no inverno
Cobre o preço de minhas ações
E nada mais eu possa fazer

Ainda procuro a chave das surreais energias
Suspensas na face intangível da memória
Que escapava do lacre da matéria densa
Clarões em lugares perdidos na infância
Oro fervorosamente nos meus refúgios
Atravesso as letras dos livros ditos estranhos
Cuidadosamente penetrando no sagrado

O mundo não esta alheio ao vibra do meu ser
E meu feitiço é poder sempre me vencer
E se o mal reside em nós ele será vencido
Aos que nessa grande ilusão feita de sal
Cruzaram meu caminho e conheceram meu olhar
Às vezes como um sol outras como sombra
Estarei a buscá-los nas trevas e ergue-los
Estarei a convocá-los na luz ou no meio
Um exercito agora invisível
Meu exercito invencível


Recife,27 de agosto de 2010

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

243> NA MAIS LONGA DAS NOITES



Ainda decidindo o que era realmente real
Numa rua deserta condensada de matéria
Em um sonho de águas cristalinas
As ruínas vazias e escuras do Maria Lucinda
Encontrei um novo trono de madeira
O vai e vem de almas de dentro para fora
O vem e vai das energias de fora para dentro
Nas noites amorosamente falo com o vento
Nas noites amorosamente recebo do tempo
A lição do que aqui realmente somos

Ouço as gargalhadas e os ferinos dizeres
Mas os cães não mais rosnam
As serpentes não me ameaçam
E como o universo tudo se distancia
Não se pode mudar tanto em pouco tempo
Mas se pode despertar instantaneamente
E saber o que sempre soube
Ter o que sempre tive
Meu grau, ferramentas e fieis cavaleiros
E enfim retornar a ancestral batalha


Cabelos brancos entre meus dedos
Vidas em estilhaços nos meus domínios
Choro sempre a partida dos luminosos
Entrego os demais aos da morte e da lei
Que gire a mandala e seus divinos raios
Escrito nas paginas sagradas
Escrito no gesso das paredes
Tudo aquilo que desconhecemos
E tudo aquilo que um dia conheceremos
Após a mais longa das noites


Recife,26 de agosto de 2010

242> NA MAIS NEGRA DAS NOITES

Decerto que não esperávamos a feroz reação
As hordas iam materializando-se de uma só vez
A mente iludida e perturbada quase me fazia esquecer
O que se tinha a perder e o que se tinha a ganhar
Gritos dos seres alados e as garras da noite
Sob a crosta um ar sufocava os menos densos
Se agrupem meus leais ainda não tombados

O inimigo multiplicava-se exponencialmente
Seus portões abertos vomitavam seus espectros
Não estamos dispostos a perder o que conseguimos
Não sem antes fazer valer caro nossas gargantas
E se o fazíamos, o fazíamos puramente por amor
Ate o terror ameaçar dividir o que pensei indivisível
Senti o peso dos olhos dos meus fieis quase no fim

Ergam suas espadas agora como uma só
E tudo se rasgou como se o tempo não existisse
Então pude ver o céu e uma coroa estrelada
De joelhos, petrificado em quase desorientação
Nas lagrimas caídas vi um reflexo luminoso
Mas como aquilo se processaria naquele inferno
Enfim os sinais descem do alto, hora de lutar

Pela fé nos lutamos e pelo amor venceremos
As ultimas lanças foram partidas com seus mestres
Por ultimo o clarão que nos cegou a todos
De volta à escuridão fria só o silencio reinava
Só um portão de cristal aguardava seus servidores
Cruzamos trazendo juras de vingança das gárgulas
Mas se por amor fizemos, por amor faremos


Recife,26 de agosto de 2010
Fezei por amor e serás guiado ...

terça-feira, 24 de agosto de 2010

241> BEIRA-MAR



Vejo os mares bravios da inquietação humana
Sem entenderem que ondas tanto vem quanto vão
Clarões na noite e o medo no convés
Muitas faces permanecem ocultas ate o choque
Os arrecifes são seus destinos finais

A grave voz que atravessa novamente a neblina
Trás consigo seus cavaleiros do mar
Protetorado dos cristais submersos do saber
Do mar o que é do mar
E assim a vida o é
Esse infinito oceano servindo a justiça

Encontrei sete pedras a beira-mar
Ruínas das criações humanas ditas eternas
Agora partes invisíveis e silenciosos avisos
Como a radiação que não se vê, mas se sente
Procurei, procurei e no fim encontrei
A felicidade a beira-mar.


Recife,24 de agosto de 2010

240> PELA GLORIA DO AMOR

Algo que os milênios não se fazem esquecer
Não importa quantas vezes nos fará cair
A brilhante luz chamada amor

Não deixarei o combate nem nas trevas
Quando os olhos cegarem de ódio
Serei partido e vencido pelo invencível
A mais feliz derrota de minha vida
A mais brilhante vitoria do amor

Por um momento entenderei todas as línguas
Eternamente estarei em graça
Pois enfim encontrei a boa luta
Arma flamejante que a tudo consome
Lembrança eterna da chama criadora
Jovem para sempre e assim sendo
Viverei pela gloria do amor


Recife,24 de agosto de 2010

239> 250457-1822-177

Contornem o lago de águas cristalinas
Observem a serpente silenciosa
Foi hostilizada não sendo hostil
Assim o ar me contara
Assim eu pensei

Traçando uma diagonal à esquerda e abaixo
Chegaram a Sirius e conheceram Vynn
Nada mal para apenas uma noite
Uma noite especial

Sagitário novamente aponta o risco
Deixo os astros um pouco de lado
O escuro se aproxima de novo
Mais se afasta do meu coração

Um cão abateu um Elemental
Outros dois consumiram-se no fogo
Aos homens pareciam roedores
Mas para natureza eram salvadores
Não os pude salvar


Recife(astral),24 de agosto de 2010
O titulo e o conteudo são recados nos sonhos.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

238> NO MEIO DO MEIO



E como fui longe com aquelas palavras
Um assovio cruzava o tempo de outrora
Busco quem sou e qual é o meu mistério
Se vejo aquela senhora das águas
Com uma criança e um porquinho da índia
E os Elementais do Ar parecem me falar

Alguns zombam e conspiram dos dois lados
Mal sabem que se perderam no meio do meio
Trovões e relâmpagos algo ameaçadores
Quem ceifara as ultimas colheitas?

A noite na terra cai depressa
Não tão depressa quanto caem os homens
A manhã urge em ergue-se
Assim como as almas excelsas
Entre a dança das horas baila a vida
Entre a vida só existe mais vida

Voltei e o mundo se privava da luz
Voltando suas peçonhas aos incautos
Mas os exemplos foram dados e expostos
Quanto mais me tiram mais ganho
Obrigado por oferecerem-me a dor
Obrigado por ofertarem-me ao criador

Bem alem desse manto de carne
Estão minha espada e minha capa
Assim como meus fieis depositários
Olho para nuvens que encobrem a lua
Mas sei que ela continua La
Assim como as estrelas
Um dia novamente cavalgarei os céus
Pois a vida é um sopro...


Recife,20 de agosto de 2010
Dedicado ao nobre Cavaleiro da Lei Agnaldo Silva
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quarta-feira, 18 de agosto de 2010

237> SOB A LUZ DO FAROL


Boa noite aqueles de consciência tranqüila
Aceno de dentro desta prisão invisível
Crimes inominados impressos nas paredes
Poeira ainda suspensa nos corredores
Um copo estilhaça quebrando o silencio
Havia um mistério naquelas palavras

Fizeram-me jurar uma lealdade desleal
Uma imagem do passado surgiu nas alas
Com um livro escuro tangeu todas as trevas
Sete símbolos me fizeram chorar novamente
Nos braços de uma nova esperança

Enrole todos os pergaminhos e escritos
Testemunhos de uma historia milenar
Levanto-me diante daqueles olhos
Peço a misericórdia que nunca me dei

Sei que eles virão cobrar-me a fidelidade
Todos somos agentes da lei, não é mesmo?
Desconhecem que agora são eles os devedores

Sofro o terror dos pesadelos em terna idade
Mas agora eles sabem que mudei de lado

Ascenderei o farol para que outros o vejam



Recife,18 de agosto de 2010
A jornada de uma alma

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

236> A SEDE QUE NUNCA CEDE



Uma dor que escorria desda essência
Sentença existencial que marca a vida
Pretendo me entregar em troca de liberdade
Aliviar o peso de simplesmente existir

Se o mundo foi tomado pela ignorância
Esta é confundida e chamada de maldade
Se com olhos só se atinge uma ilusão
Esta é limitada e tomada como realidade
Abutres cegam os desviados da estrada
O egoísmo decepa-lhes os membros

A solidão espreita os recém despertos
No mundo desvitalizado dos sonâmbulos
A estática nunca foi uma opção sensata
Onde toda a criação se move

Um manto se estende desdo alto
A baixo só a sinuosa dança das sombras
O magnetismo se encarrega do resto
Uma corrente de mãos me ergueu
Cânticos sagrados abriram meus ouvidos
Hoje as lagrimas não são só de tristeza

Tenho sempre que continuar o projeto
Para poder sorrir quando a morte vier
Pois o medo se afastou do meu semblante
Assim um dia saciar a sede que nunca cede


Recife,16 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

235> O SILÊNCIO QUE PRECEDE A PRECE


Horas são dias e os dias são como séculos
A união dos detentores da luz do único saber
Via-se a mesma verdade em todos os códigos
Pétalas deixadas a mercê dos nossos sentidos
Mistérios mais antigos que as almas iniciadas
Velas acesas e cânticos em uma língua morta
E assim iniciou-se o que nunca teve começo

Fileiras inacabáveis aguardavam a ordem
Que se derrame suas legiões sobre a terra
Trazendo todos os sabres da lei das leis
Porque foram cegos aos avisos antigos
Nas ruínas em todos os lugares e épocas

Uma musica estava em todos os sons
Assim como fora no principio
Vibrações eram a origem do universo
Fótons são a lembrança do grande plano
Pois onde há luz há todo o resto

Ninguém cria, ninguém goza, ninguém finaliza
Nós como partes somos apenas vetores
Não servir ao todo é a fonte dos males
Assim como a célula rebelde canceriza
Então fui ate as mais altas montanhas
Não para vê-las, mas para ver meu reflexo
Refletido em toda criação que faço parte
Sentir a grandeza em um momento efêmero
Como o silencio que precede a prece.


Recife,14 de agosto de 2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

234> RETORNO AO VALE SAGRADO


As águas geladas dadas pelas montanhas
O sol mais dourado que o teu ouro
Redemoinhos de areia as pegadas dos deuses
Dóceis os teus filhos tão grandiosos
A verdadeira riqueza molhada de suor
Pois nada a ninguém se pedia

A musica dos riachos e do vento
Pedras bem medidas e bem pesadas
Minha respiração esta acelerada
Meus olhos mudos, minha boca cega
Minhas mãos frias, minha alma fervia
Na presença de espíritos coloridos

Estava quase tudo como antes estivera
Eles sabiam que um dia eu retornaria
Eles habitam o supra mundo do condor
Reflexos tão vivos que se podia tocá-los
Aqui era o presente que pairava
Como uma sombra sobre o passado

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

233> AS NOVAS FLORES DE MAYARA



La estavam todos a olhá-la, mas sem ve-la
Aquele movimento que ela não desejava
E todos então estavam errados
Pois ali só viam seus próprios desejos
Nada ia além de nossas imperfeições

Foi naquela noite em uma ilha fria
Disse-me um de seus muitos sonhos
O céu nublado como os sentimentos
Tentei lhe sorrir, mas me foi impedido
Aquilo la era ate então proibido

Alguns anos antes havia tanta esperança
Um redemoinho na mente ainda jovem
O chão teimava em fugir aos pés
Tento recorda como estávamos confusos
Mas cada estrela tem seu brilho

Sempre sonho com tua nova roupa branca
Após os temporais terem ficado para trás
A cada décimo dia de julho ano após ano
Soube que nela novas flores vicejam
Banhadas na sua luz que nunca se apaga...





Dedicado a Mayara Brant ...

Recife,2 de agosto de 2010

232> A MONTANHA



A historia que espera no cume da montanha
Indecifrável como outras mais distantes
Falam de grandes realizações humanas
Protegidas na espessa neblina do tempo
Algo encantador por avivar nossa grandeza
Muitos já se foram e muitos ainda irão
Mas poucos serão os transportados
Levados a romper aquele véu ancestral
Divagando com o olhar as planícies a baixo
Rasgando as tolices das eras modernas
Resgatando o espírito que paira a cima
Ouvindo um assovio vindo de toda parte
Em silencio caminhando entre terraços
Pisando aquele solo a muito pisado
Sonhando aqueles sonhos a muito sonhados
E vivendo aquelas vidas a muito vividas
Estes serão sempre bem-vindos a montanha
Pois saberão que restou pedra sobre pedra


Recife,2 de agosto de 2010

domingo, 1 de agosto de 2010

231> SOB O SIGNO DA VERDADE

Assim como veio se foi em mil pedaços
Derramou-se no frágil tecido da realidade
Afunilando-se rumo a um foco único
E um anjo foi designado seu regente
E este criou setenta e sete mil obreiros

Milênios são como segundos na eternidade
Segundos são como milênios na obscuridade
A ironia de o absoluto parecer tão relativo
A fantasia de o relativo compreender o absoluto
E foi assim que houve a primeira queda

E todos os espaços deixaram de existir
Pois nunca existiram
Consentimento concedido em outras esferas
E vivificou-se o miraculoso plano da criação
Um leque de freqüências, ondas e símbolos

O que em sonho foi dito eu não recordo
Mas assim era para ser e estava sendo
Pois se eu fosse um anjo como cairia?
E se eu fosse humano como evoluiria?
Mas nem sou o que sou sendo sua parte...


Recife,primeiro de agosto de 2010

segunda-feira, 26 de julho de 2010

230> JORNADA PARA O ALÉM

Monte o cavalo ate escutar os sinos
O sol logo irá se por não se demore
Muitas línguas diferentes ouvirás
Muitos nomes diferentes Deus terá
E tu sempre avançarás sem se deter
Alguém sempre estará a te chamar
As cores da terra mudarão sempre
Muitas historias e a mesma verdade

Às vezes sentirás a sede implacável
Outra quase serás afogado nas águas
Conseguir e bem diferente de manter
Só assim te afastarás do reino animal
Que foge da dor e procura o prazer
Verás que estes ficaram para trás
Honrai então os da tua direita
Respeitai então os da tua esquerda

Encontrando os sábios escuta-os
Mas não usai os ouvidos
Na chuva descansa e usa da noite
A lua estará sempre la a te guiar
Respeita os eclipses, pois somos falhos
Chegando a saudade, aperta o galope
Fazei cada dia teu na jornada ser único
Pois assim teu rastro nunca terá fim


Recife,26 de julho de 2010
Também postado na Fabrica de Letras

domingo, 25 de julho de 2010

229> A ORIGEM

As nuvens avançam no céu como aquarelas moveis
Tambores marciais juntam-se a um piano sublime
Nisso um beija-flor verde apresenta-se no ar
Sete giros eu dei envolta da verdade multifacetada
Sete foram as cores daquele distante prisma
Fui pedra, fui planta e se fui animal hoje sou humano
Tudo impulsionado pela saudade e pelos códigos
Não sei ao certo o que serei depois, mas serei

Aqui vim para sentir a água correr em minha pele
Aqui fui trazido para fazer o caminho de volta
Olho para o céu e vejo bilhões de olhares atentos
Olho para o chão e vejo bilhões de almas sedentas

A inesperada visita de uma alma recuperada
Vejo que tudo se regenera e brilha novamente
As luzes só apagam para as estradas serem desfeitas
E se acedem para serem novamente refeitas
E tudo pulsa nesse compasso ditado na origem
Do ponto mais alto um pássaro cantava
Pesquei em águas escuras um bagre e deste fiz dois
E certa noite pude ver através das cascas das nozes


Recife(astral),25 de julho de 2010
Foi, é e sempre será ...
Também postado na Fabrica de Letras

228> SONHOS DE INFÂNCIA

Por todos os anéis que deixei nas mãos de minha mãe
Não me diga, por favor, para dormir mais cedo
Era quando eles vinham atravessando as paredes
As ultimas cobranças de um passado remoto
Me acorde, por favor,

Os anos foram passando como os sonhos bélicos
Redes onde não se podia mover-se ou falar
As sirenes silenciaram nos últimos stukas
Os panzers não vibram mais o chão sob meus pés
Aos magos orgulhosos as portas foram fechadas

Subia lentamente com aqueles do mesmo sangue
Os leões esperam ansiosos acima da colina
As grades desprotegidas e a grande resignação
Quem era aquela mulher que a tudo velava?
Vejam a visão de um vale de chamas frias


Recife,25 de julho de 2010

sábado, 24 de julho de 2010

227> MARIANA E AS SANDÁLIAS DE BRILHANTES



Olhos cansados de um tempo que eu não conhecia
Terrível se sentir uma parte de algo desconhecido
Mas assim que eu a vi cheia de coisas singelas
Logo após as encruzilhadas se encontrarem
Contava-me tantos momentos com seu silencio
Falava de uma felicidade que nunca obtive

Os dias se aproximavam e marcha estava iniciada
Meus passos cautelosos ate então foram desafiados
E eu rezava para que na verdade eu estivesse errado
O desejo de estar livre para de fato se expressar
Sons no corredor a lembraram de sua infância
Deus como quis ter vivido tudo aquilo

Olhei seus pés tentando saber seus passos
Mas uma sandália de brilhantes me ofuscou
Olhei-a nos olhos tentando ouvir seus sonhos
E vi na projeção do tempo uma interseção
Agora ainda bloqueada pelas horas limitantes

Um universo se formou em nossos pensamentos
Verbalmente ainda não compartilhado
Mas o que são palavras nestas horas
Diante da grandeza da alma e seus desígnios
Acredito que em tudo há um propósito
E nisso com certeza não estou errado


Recife,24 de julho de 2010
...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

226> A MÁSCARA DOURADA

Alguém cantava algo ao lado das escadarias
La fora relâmpagos de lagrimas caídas
A ventania gritava alto seu tormento
Mas a canção era vigorosa e vibrante
Cristais espalhados e folhas por toda parte

Subi em direção ao sentido da vida
Sem ao menos saber o que era a vida
Vigorosa respiração de um búfalo no inverno
Vencendo o caos e a força da natureza
Assim foi dito pelo ancião Pé de Corvo

Perguntas que jamais devem ser feitas
Sob o perigo de se perder em respostas
Labirintos mortíferos de Minos sem Ariadne
A bela arquitetura das lapides de mármore
Avisos legítimos sobre a temporalidade

Códigos que contam a mesma historia
Religiosos que se dividem por nomes
Espelhos das divisões do ser humano
Olhos que só enxergam letras em papiro
E tolos que os veneram porisso

O sol iluminava indiscriminadamente
O ar preenchia completamente os espaços vazios
Mas a humanidade sufocava nas trevas
A privação induzida talvez já na origem
A existência era infinita porem em capítulos

Como é lindo o guizo das cascavéis
Ultima fronteira entre dois comportamentos
Como é perfeito o semblante das crianças
Ultima lembrança da unidade primordial
Antes da máscara dourada dos ancestrais


Recife,22 de julho de 2010

terça-feira, 20 de julho de 2010

225> UMA PRECE PARA INANNA


Os vales secos e pedregulhosos entre rios
Caminhada solitária na noite enluarada
Varias luas moveis e vários caminhos
Aquele rosto celeste com fitas nos cabelos
Pele úmida e fresca como a idade do mundo

Teus contos foram contados nos quatro cantos
Soube-se de tua beleza ate nas terras Incas
Onde as cidades abrem-se para as nuvens
Perto das portas aquáticas do Tilmun
Varias linhas nas encostas do oceano

O faraó escreveu teu nome junto ao disco
Entregou-te as legiões de Anúbis para servi-la
Pois viu uma única vez teu reflexo no Nilo
Quando fugia da fúria áurea de teu primo
Ainda rezamos junto a nosso pai, teu avô

Os ventos não apagaram tua passagem
Ainda se anseia o teu balsâmico retorno
Acredito na luzes que riscam os céus
Sinais incontestáveis da tua presença
Para mais uma vez revogar nossa sentença


Recife,20 de julho de 2010
Gravura by Katlyn Breene

224> LÍRIOS DE FOGO BRANCO *

Meus irmãos os filhos da integração total
Sussurrando historias de tempos de outrora
Viajaram de onde vos dizeis ser longe
Em um tempo que também direis passado
Puros como aquele inseto em minha janela

Os que te ensinarão a ver sem mente
E te dirão como dizer sem palavras
Onde antes tudo parecia solido
Onde antes tudo parecia real
O estar e saber em todos os lugares
Só depende das lentes que escolheis
Vossas mentes projetam vosso mundo

Se passado, presente e futuro se encontram
Então todos os lugares possíveis são ilusórios
Se nas Plêiades é verão, eu sei
Se há dor em meus irmãos, eu saberei
E quando tudo se projetou, eu soube
Nas ondas de uma gota que cai na água

Hora de despir a mascara dourada
Forjada na mais bela Andrômeda
A teia que une e embaraça tua dimensão
Holograma de três raios da realidade
Veja o quinto raio eclodir como lírios
Ainda tímidos como brotos na primavera

Qual será vossa real imagem
Se tudo não é o que parecer ser?
Qual será o nosso destino final
Se tudo flui, se encontra e se uni?
De repente tudo se torna grande
De repente tudo se torna único
Pois esse de repente sempre foi
E também sempre o será


Recife(astral),20 de julho de 2010

domingo, 18 de julho de 2010

223> UMA MANHÃ DE INVERNO


Se todas as manhãs fossem como esta
Cheias de renovadora vitalidade implícita
As arvores se dobram felizmente ao vento
Folhas desprendem-se dando lugar a outras
Um manto seco recobre o chão úmido

Naquele estranho transporte vi a orla
Como uma fita estendida lentamente
Não temo mais a matilha raivosa
E afinal quem estava tocando violino?

Acordo mais cedo e a vida me espera
Observo o ventre daquela mulher
A natureza se espelha em um nascimento
Não deixe seus sonhos mais ternos
Acabarem em uma noite escura

Tantas perguntas e poucas respostas
E tantas respostas para uma só pergunta
Assim seguimos e assim sempre seremos
Sombras dançantes de arvores no inverno
Poeiras varridas nos campos de verão


Recife,18 de julho de 2010